Andre L Braga 06/04/2022
Uma forma leve e chocante de falar sobre a guerra
Matadouro Cinco é, talvez, o título mais popular do autor norte-americano Kurt Vonnegut. Seu protagonista, Billy Pilgrim, é um ex-combatente da II Guerra Mundial, que se viu em meio ao bombardeio a Dresden, na Alemanha, que viajou no tempo e no espaço, que se tornou atração em um zoológico no planeta Tralfamadore e que aprendeu que, para tudo o que de pior e de melhor aconteça nesta vida, há um único possível comentário: É assim mesmo.
Billy Pilgrim é um sobrevivente, não apenas da guerra, mas também de um acidente de avião. De combatente a optometrista, de solteiro a casado e de casado a viúvo, resolveu que, finalmente, chegou o momento de dizer, ao mundo, uma verdade que escondeu por décadas, até mesmo de sua amada esposa: ele havia sido abduzido pelos Tralfamadorianos.
A consciência de Pilgrim viaja pelo tempo. Tralfamadorianos também o fazem, mas o protagonista assim o fazia, antes mesmo de conhecer os extraterrestres. Não precisou aprender isso com eles, mas aprendeu um par de lições sobre a vida, e também sobre como o universo acaba, e como aquele feito foi estúpido, mas inevitável. É assim mesmo.
Se nosso Ariano Suassuna dizia ?Não sei, só sei que foi assim.?, através de Chicó, personagem do Auto da Compadecida, o autor norte-americano Kurt Vonnegut dizia que a vida ?É assim mesmo.?, usando para tal a voz, imagino eu, calma e descompromissada, de seu Billy Pilgrim. O livro de Ariano Suassuna foi publicado em 1955. O de Kurt Vonnegut, em 1969. Não estou, aqui, insinuando qualquer forma de plágio, nem deveria encerrar minha resenha com tamanha polêmica. É apenas mais uma daquelas coincidências da vida. Porque a vida é assim mesmo. Porque as coisas aconteceram da forma que tinham que acontecer. Por quê? Não sei, só sei que foi assim.