Ferferferfer 21/08/2023
Um grande sapo branco
A história se desenrola, na maior parte do tempo, na história de Okonkwo e sua vida dentro do clã. Somos apresentados a um homem que conquista tudo o que tem por sua postura de guerreiro, inclusive seus casamentos e a boa-sorte nas plantações. Ao mesmo tempo, essa figura se contrasta com a de Unoka, seu pai, que representa tudo o que Okonkwo repudia. É muito interessante pensar que Unoka, apesar de seus defeitos perante ao que a sociedade da época esperava, demonstrava ternura com seus familiares, algo que seu filho jamais foi capaz de fazer. Existe uma trama na relação pai-filho que resulta na personalidade combativa de Okonkwo, que não permite ser uma “mulher” – durante a narrativa, sabemos que os sentimentos são de domínio das mulheres, e qualquer demonstração que não a fúria, era considerada como algo fraco. Já se imagina, então, um pouco de sua relação com suas mulheres e com seus filhos.
No mundo despedaçado de Okonkwo, Achebe não tira o peso das decisões de seu protagonista. A todo momento nós sabemos que se ele infringir os contratos sociais e religiosos do clã, a punição viria dessas duas esferas. Okonkwo, então, precisa se exilar, precisa distanciar-se do modo de vida que venerava e fazia parte, e é neste momento em que o processo de destruição da cultura igbo se inicia. O principal agente da destruição é o homem branco, e não somente a figura humana, mas os ditos costumes e modo de viver eurocêntricos. O sapo, como bem dito por toda a sabedoria nigeriana, sempre traz más notícias. A mensagem é explícita, e não busca defender as ações violentas da etnia igbo. Achebe se distancia dessa dicotomia, de bem e mal, do certo e errado, a saber que os diferentes povos apresentarão modos distintos de viver a vida.
A submissão aos modos de viver de pessoas brancas vai ditar o ápice dessa trama que, com certeza, vale muito a leitura.