Adriana 02/05/2014
Sem palavras...
Fuga do Campo 14 é sem dúvida o melhor livro que eu li nos últimos meses. Trata-se da história real de Shin Dong Hyuk, que até onde se sabe, foi a única pessoa que nasceu em um campo de prisioneiros políticos da Coréia do Norte e conseguiu fugir.
O livro foi escrito em forma de reportagem, então não é romanceado e nem sempre as coisas são contadas em ordem cronológica. Mas a narrativa é muito bem escrita e a história é tão incrível que você tende a passar horas com o livro em mãos sem nem perceber.
Acho que a palavra que mais recorreu em minha mente durante a leitura foi "chocante". Eu já li muitos livros e relatos sobre campos de concentrações nazistas, sobre os Gulags na União Soviética e sobre campos de refugiados africanos e coisas horríveis de todos os gêneros, mas acho que nada me chocou mais do que a história de Shin. Não tanto pelo sofrimento físico (E acreditem, foi grande), mas pelo que se faz com a mente das pessoas na Coréia do Norte.
"Quem está do lado de fora tem uma compreensão errada do campo. Não são só os soldados que nos surram. Os próprios prisioneiros não são bondosos uns com os outros. Não há nenhum sentido de comunidade. Sou um daqueles prisioneiros malvados."
Shin nasceu condenado, seus pais eram presos políticos e isso fazia dele um criminoso, o trecho a cima nos mostra que essas pessoas foram privadas de todos os direitos básicos, sua personalidade foi moldada por aquele sistema cruel.
"Amor, misericórdia e família eram palavras sem significado. Deus não desapareceu ou morreu. Shin nunca ouvira falar dele."
"Sua existência limitada o mantinha concentrado em encontrar comida e evitar surras."
Quando chegou à adolescência, Shin teve contato com um senhor a quem chamava de tio, que lhe falou pela primeira vez sobre algumas coisas do mundo exterior e Shin gostava especialmente de ouvir sobre comida. Mais tarde, conheceu Park, um homem instruído que havia viajado pelo mundo antes de ser preso e através dessa amizade Shin pela primeira vez, pensou em fugir do campo.
"Enquanto trabalhava e esperava, Shin cismava sobre como os outros prisioneiros ignoravam a cerca e as oportunidades que se encontravam do outro lado. Eram como vacas, pensou, com uma passividade ruminante, resignados a suas vidas sem saída. Tinha sido como eles até conhecer Park."
Parece coisa de livro distópico não? E durante a leitura pensei muito nisso e cheguei a conclusão de que se realmente fosse uma distopia, um livro de ficção, eu diria que o autor foi extremamente exagerado, uma sociedade como essa não é crível! A forma quase milagrosa como Shin, sem conhecer nada nem ninguém, conseguiu fugir do campo e chegar a China também não parece ser real, mas é, e quando eu penso nisso eu só posso sentir um grande respeito por um ser humano como esse.
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