isa! 01/11/2023
“Quando deixamos de ser humanos?”
Raphael Montes mais uma vez foi o responsável por meus delírios assombrados e, dessa vez, de uma forma muito mais gráfica e assustadora. Porque, vamos ser sinceros, a sua criatividade e os detalhes de seus livros são surreais! Eles são capazes de nos perseguir por uma vida inteira. Haha. É sério! Em Suicidas, Rapha nos mostra um universo curioso, movido pelos mistérios e pelas descobertas mais estranhas que já li em toda minha vida. Esse livro é do tipo que te instiga desde o primeiro capítulo, mobilizando sua curiosidade e, no final, ainda levanta uma questão extremamente pesada, mas real. Assim como os personagens se interessavam em olhar as cenas, nós também as lemos. E, puxa, Raphael! Só você para nos incluir em um crime tão pesado como esse, além de provar que, sim, os humanos são fascinados pela desgraça alheia. Essa é uma leitura pesada, claro. Mas, ainda sim, é uma história muito boa, que te enganará até a última página - nos deixando de boca aberta!
No começo do livro, somos apresentados aos primeiros trechos das anotações do livro de Alê, no qual escreve sobre Cyrille’s House, casa da família de Zak, onde acontecerá a roleta russa futuramente na história. Desde o início, é perceptível a relação de amizade entre Alê e Zak, os personagens principais. Mas, ainda sim, existe uma certa desigualdade entre eles, já que Zak é o amigo rico, que consegue conquistar todas as garotas da faculdade, enquanto Alê é o tipo de garoto nerd, que prefere seus livros a alguma festa universitária, além de ter uma certa dificuldade com as mulheres. Porém, quando se é amigo, essas diferenças não são capazes de estragar uma relação tão importante. Ou, são? Até que ponto conhecemos as pessoas? É justamente essa questão que o livro aborda durante a roleta russa, e até mesmo antes dela. Às vezes, em uma relação de longa duração, temos a ideia de que conhecemos uma pessoa completamente, que sabemos de todos os seus segredos e de todos os seus desejos. Mas, será mesmo? Até que ponto conhecemos nossos amigos para saber que eles não arrancariam os cílios de uma pessoa em um jogo idiota? Ou, até mesmo fazer coisas piores? No livro, ao decorrer do enredo, Alê descobre que Zak tem interesse em um garoto, algo que seu amigo nunca soube, porque Zak dormia com todas as meninas da faculdade. Aliás, o livro se passa em 2008, ou seja, muitas falas e atitudes são carregadas de um extremo preconceito, até mesmo por parte de seus amigos - não que hoje em dia seja diferente, não é? Alê não conhecia suficientemente seu amigo para saber de seus interesses por garotos, então, imagina como ficou sua cabeça ao decorrer dos acontecimentos da roleta russa? Realmente, não conhecemos as pessoas do jeito que achamos.
Do outro lado da narração, temos uma conversa entre a delegada responsável pelo caso e as mães dos nove jovens mortos durante uma roleta russa. Nessas cenas, são lidas partes do livro de Alê, que o personagem narra os acontecimentos da noite misteriosa, nos menores detalhes, nos fazendo questionar sobre tudo juntamente ao lado das mães. Lembram da história de “Flores Partidas”, em que os personagens diziam que os detalhes são capazes de nos matar? Então, é exatamente isso que acontece nesse livro. Os detalhes das mortes, dos abusos físicos e verbais e as revelações são chocantes, definitivamente capazes de assustar quem escuta, no caso das mães, e quem lê, no caso da gente. A narração da reunião é uma das partes mais interessantes do livro, depois do livro de Alê, claro. Porque, caramba! Como uma mãe aguenta escutar sobre a morte do próprio filho e sobre os detalhes que os cercam diante dessa maluca brincadeira? É nessa hora que começamos a desconfiar de tudo isso, até das próprias mães. Desconfiamos também dos filhos, dos motivos que levaram a roleta russa a ser feita. É um livro que te fará arrancar os cabelos, porque - poxa! - queremos saber o que aconteceu a todo instante. Por isso continuo dizendo que os livros do Raphael Montes são, de certa forma, perturbadores, mas são espetaculares. Quando terminei, repassei a cena final umas mil vezes na minha cabeça, duvidando de onde saia tanta criatividade do autor para escrever aquelas cenas. Acho que nunca saberemos!
Quando a roleta russa começa com os personagens todos juntos na casa de Zak, imaginamos que serão cenas repletas de suicídios e mortes pesadas, porém um pouco tristes. Mas, não! Talvez, todos os acontecimentos possam ser explicados com base em uma tese científica que aborda as mudanças do indivíduo quanto a sua necessidade de sobrevivência urgente. Ou, sei lá. Às vezes, o álcool e as drogas podem ter mexido com a cabeça dos personagens verdadeiramente. Mas, será mesmo? Ou, as pessoas que convivemos podem ser ruins desse jeito também? Quando Zak mata a primeira pessoa, eu ainda me sentia inocente. Não imaginaria que seria dessa forma, porque Zak matou aquele garoto enquanto ele estava prestes a revelar seu segredo. Até que ponto as pessoas estão dispostas a manter sua dignidade e guardar um mistério consigo? Zak, pelo visto, estava bem disposto. Haha. Como os acontecimentos da roleta russa são revelados através de um rascunho do livro de Alê, algumas vezes desconfiava da veracidade do que estava escrito. Se aquilo tivesse sido tão pesado como realmente foi escrito. E, de repente, parava para pensar que, em um livro, nos assustamos quão o quanto ruim pode ser um ser humano. Mas, na vida real, já nos acostumamos com as desgraças alheias.
Se você leu o livro, provavelmente entenderá o que vou escrever sobre um certo acontecimento. Não quero dar spoilers, porque nada melhor do que ler um livro de mistérios sem saber de nada do que acontece durante. Essa cena da roleta russa é capaz de traumatizar muita gente. Não quero ser dramática, mas é uma passagem pesada. Daquelas que machucam nosso coração só de imaginar na cabeça. É nojento, é horrível. A cena é a definição do quanto as mulheres, principalmente, nunca estão seguras, nem mesmo mortas. E, poxa! Como foi difícil ler a violação do corpo e a negligência das pessoas ao redor olhando toda situação. Em que momento eles deixaram de ser humanos? Quando deixaram de ser amigos? E, caramba! Quando deixaram de ter empatia pelo próximo? Isso não é normal! Não venham me dizer que carreiras de drogas e diversas doses de bebida alcoólica são justificativas para a perda da humanidade. Nesse livro, Raphael Montes nos mostra o quão pavoroso uma pessoa pode se tornar e tudo aquilo de ruim que ela pode fazer. Tudo gira em torno da crueldade humana, mas, de certa forma, é diferente de livros de tortura ou abuso - como Flores Partidas. Aqui, se fala sobre o quanto achamos que conhecemos as pessoas e como somos burros acerca disso, porque são essas que mais confiamos que são capazes de nos machucar. E, machucar de verdade. As cenas de violência são explícitas, claro. É um livro que retrata isso. Mas, caramba! Raphael foi extremamente cirúrgico quando escreveu essa história, porque ele sabia que as pessoas se interessam pela desgraça alheia. E, ele estava certo! Falamos sobre os personagens, mas também lemos as cenas. E, também nos interessamos pela história. AH! Só o Rapha para nos colocar dentro de um crime desses. Você me paga!
Quanto ao final do livro, eu só tenho três letras a dizer. UAU. Eu fui completamente enganada! Não foi um engano bobo, mas sim daqueles ridículos, de ficar com a boca aberta. Claro que, em todos os livros de suspense, desconfiamos de todos ao mesmo tempo, mas a ideia de ser a pessoa que mais esperamos é muito improvável, porque o livro se modifica a todo momento e nossa cabeça também. Enquanto lemos o diário de Alê, pensamos em alguma conspiração, mas mudamos assim que lemos as cenas da delegada. Nossas opiniões oscilam e, quando, enfim, achamos que descobrimos o mistério. Boom! Estamos novamente enganados. Não é um livro que você vai se surpreender porque você nunca imaginaria que isso iria acontecer, pois, de certa forma, você pensou nessa possibilidade em determinado momento. Mas, logo descartou, em razão da manipulação, dos diários e dos acontecimentos. Você talvez saiba o que acontecerá, mas escolhe não acreditar. E, é assim que Raphael Montes continua enganando uma geração inteira de jovens. Haha.
Por fim, quero dizer que esse livro é muito viciante. É uma leitura agitada e muito fluida, daqueles que você diz que será apenas um capítulo antes de dormir. Se olharem meu perfil no Skoob, não é difícil perceber que sou apaixonada por livros de romance, mas há algo nos livros do Rapha que me faz desejar ler todos, independente da história. Eu diria que é por ser uma escrita viciante, mas é mais do que isso. Ele escreve sobre a crueldade de uma forma diferente, ele nos faz perceber que essas coisas podem acontecer, mesmo que não deixe claro. Nesse livro, acontece uma roleta russa e pessoas são assassinadas diante de diversas pessoas, aquelas que acham que conhecem. E, nada é impedido. Vamos ser honestos, isso não é nada identificável. Mas, o fato de acharmos que conhecemos as pessoas e que elas nunca seriam capazes de nos machucar é uma coisa que acreditamos, porque é real. Quantas vezes amigos fizeram coisas que diziam que nunca fariam? Até nas coisas mais bobas. Somos uma raça hipócrita, mas, ainda sim, somos humanos. Caramba! Esse livro é bom demais. Rapha, você é um gênio, ainda que eu desconfie de suas fontes. Haha. Não indico para quem tem certos gatilhos com suicídios, mortes e, principalmente, necrofilia. Cuidado com os gatilhos, pessoal!