Renata CCS 12/11/2014Será que o amor incondicional de um pai pode ofuscar seu senso de justiça? -
"Mama, just killed a man / Put a gun against his head / Pulled my trigger, now he's dead / Mama, life had just begun / But now I've gone and thrown it all away." Bohemian Rhapsody (Queen)
Andrew Barber é um procurador- adjunto na cidade de Newton, Massachusetts. Mora com a família em seu mundo perfeito, em uma linda casa de cercas brancas e com jardins bem cuidados. Um marido apaixonado e pai zeloso, Andy é um homem responsável que esconde da família alguns fantasmas do passado. Sua esposa, Laurie é uma espécie de conselheira da sociedade, a quem todos escutam e respeitam. Professora formada, Laurie abandonou a profissão para cuidar do filho, Jacob, quando ele estava com apenas quatro anos de idade. Jacob, agora com quatorze anos, é um típico adolescente isolado do mundo e pouco comunicativo. Tem poucos amigos e vive fechado no quarto, gosta de inventar e escrever histórias e vive navegando na internet. Enfim, uma família comum.
Quando o corpo do jovem Ben Rifkin de apenas quatorze anos é encontrado esfaqueado num parque da cidade, Andy Barber decide assumir o caso. Contudo, Andy é surpreendido. O crime não muda apenas toda a rotina de sua cidade, mas também atinge diretamente sua família, já que seu filho Jacob é considerado o principal suspeito da morte do garoto.
Narrado em primeira pessoa, EM DEFESA DE JACOB nos apresenta todos os acontecimentos pela voz de Andy, o que confere um ritmo delicado à leitura, mais brando, pois é o sentimento do protagonista como pai que está exposto. É um texto muito passional, cheio de ponderações e reflexões, pois Andy acredita – com todas as forças – na inocência do filho.
Testemunhamos o empenho de Andy para manter sua família unida e a relação de cumplicidade com Laurie, mas o relacionamento fica balançado com as dúvidas da esposa em relação ao filho. Em toda a obra identificamos este conflito: a fé sem limites de Andy na inculpabilidade de Jacob e as suspeitas levantadas, diversas vezes, por parte de Laurie.
A disputa entre o sistema judiciário e o amor incondicional de pai é muito bem administrada pelo autor. O fato de William Landay ser um ex-promotor ajudou, sem dúvida, na organização de idéias e elaboração da narrativa. Há uma transição entre presente e passado que ocorre com muita naturalidade e o uso de trechos transcritos de sessões de julgamento, frequentemente entrelaçados à narrativa de Andy, cria uma ambientação perfeita e ritmo certeiro do romance de tribunal.
Ainda assim, o maior mérito de Landay, em minha opinião, está na narrativa em primeira pessoa de Andy, pois não sendo ele um narrador imparcial (é pai e promotor), ficamos em suspense a maior parte do tempo, sendo conduzidos por uma história repleta de incertezas. Em nenhum momento nos é apresentada alguma prova conclusiva da culpa ou inocência de Jacob. A defesa de Jacob feita pelo pai é tão passional e inflexível que ficamos até com receios em visualizar este mundo através de seus olhos apenas. Andy defende Jacob. Ponto. E é isso que o torna um personagem tão envolvente, pois colocamos nossos princípios e valores em cheque: até que ponto conhecemos um filho e até onde estamos dispostos a ir para defendê-lo?
São muito interessantes e polêmicos os temas abordados: a capacidade do homem em cometer um assassinato é um ato não pensado em um momento de fúria, é uma conseqüência da criação e do meio em que vive, ou ainda, há uma predisposição genética? Sem dúvida, foi uma leitura muito cativante.
Antes de ser um romance jurídico ou policial, EM DEFESA DE JACOB é um romance sobre a família, sobre as relações de confiança, cumplicidade e dúvida. É um livro que provoca desassossego e perplexidade até as últimas páginas.
Recomendo muito!