Fefa 09/05/2011
Ela era Alice Howland, uma heroína valente e notável. [...] Ela era Alice Howland, vítima da doença de Alzheimer. Lisa Genova
Quando alguém pode se considerar uma pessoa de sorte? Quando alcança o sucesso profissional e consegue mantê-lo com dedicação e empenho? Quando alcança a realização pessoal através de um casamento sólido, uma família exemplar? Então, Alice Howland certamente atende a estes requisitos. Independente, casada, mãe de três filhos, professora e pesquisadora em Harvard, Alice sempre fora respeitada e admirada por seu trabalho até que começa a esquecer. A partir daí a sorte de Alice se torna relativa. Diagnosticada com o Mal de Alzheimer de Instalação Precoce, Alice precisa organizar sua vida antes de perder a si mesma...
A história de Alice é comovente, mas não é única. Os livros têm dessas coisas. Alguns descrevem sensações que estão longe da realidade do leitor, e mesmo assim o tocam. Outros delineiam justamente o que ele já viveu e, portanto, o envolve ainda mais. Ainda lembro quando os sinais começaram a aparecer e a se intensificar. Pequenos blecautes que inicialmente foram confundidos com sintomas da idade e geralmente suscitavam discussões tolas; desorientações cognitivas e de tempo/espaço que me deixavam intrigada por que ele quer ir pra casa, se ele já está em casa?; seu corpo foi ficando rígido, o lado direito praticamente paralisado; de repente meu pai não me reconhecia mais, nem a minha mãe, de repente ele se perdera dentro de si próprio, como Alice. Só por vezes conseguia emergir e isso foi se tornando cada vez mais raro. Até tudo ter um fim.
Na época, eu não sabia patavinas sobre a doença de Alzheimer ou sequer entendia direito o que sucedia, meu pai também não, não teve tempo. Num período médio de cinco anos, eu o assisti passar de um homem forte e alegre para uma criança frágil e completamente dependente. Ninguém estava de fato preparado física ou emocionalmente, e o que mais você aprende num momento como este é que por mais que tente lutar contra, não há muito o que fazer.
Esta é a grande batalha de Alice. Ao contrário de painho, ela tem consciência do que a acomete e está disposta a aproveitar cada segundo do hoje que lhe resta em estado pleno, com a confiança de que sua essência jamais se dissipará como sua memória. Para Sempre Alice é uma exposição fiel de um portador do Mal de Alzheimer, sem melodrama ou pieguices. Até porque a Lisa Genova é mais uma Ph.D. em Neurociência, que propriamente escritora. Logo, teremos termos técnicos na medida certa, níveis didáticos de informação harmonizados com o romance e uma protagonista com pensamentos e atitudes maduros e coerentes com a situação.
Para Sempre recomendo!!
P.S. A intenção deste comentário não se fundava em ser também um relato pessoal, além das percepções do livro, mas já que despontou naturalmente, aproveito pra torná-lo uma terna homenagem a um homem que não realizou grandes feitos para o mundo, nem importantes descobertas, porém significou bem mais aos poucos que o conheciam. Como disse certa vez minha irmã: Nosso pai era um anjo, Fernandinha!... e continua sendo.