gabriel 17/10/2020
Fraco, porém lível
Não sei se a palavra "lível" existe, mas inspirado pelo mestre Guimarães Rosa, produzo modestamente aqui este neologismo e digo: apesar de este livro ser uma grande porcaria, ele é "lível" (ou seja, dá pra encarar, a leitura vai indo, etc), e pode até divertir um pouco, se você não esperar grande coisa.
O mérito dele é bolar uma história bem nada a ver no tema ficção científica, então isso por si só já ganha alguns pontos. É claro que há livros deste gênero bem melhores, mas o autor consegue ser minimamente criativo aqui, para bolar umas paradas bem doidas (ainda que seja mal desenvolvido, mas enfim).
A premissa é de que uma guerra vai estourar entre humanidade e aliens, aí o nosso amigo adolescente protagonista descobre que, na verdade, o mundo é uma grande conspiração, e todos os seus joguinhos de guerrinha são, na verdade, um treinamento secreto para a iminente guerrinha. Divertido! Mas o conteúdo é muito mal tratado...
Personagens aparecem e somem do nada. O romance principal é risível, um dos piores que eu já vi. Eles se apaixonam simplesmente do nada. A premissa da guerrinha feita por drones retira toda a tensão de uma guerra real. Pontos importantes do roteiro são antecipadíssimos, o autor só falta gritar pra você, "olha lá, tô dizendo que isso aqui vai dar naquele outro hein... não diga que eu não avisei". Ou seja...
A impressão que dá é que este autor (Ernest Cline) quis capitalizar muito rápido em cima do seu outro sucesso (o "Jogador Número Um"), e aí saiu esse livro meio apressado e muito mal desenvolvido. Não chega a ser uma leitura chata, mas é uma leitura medíocre.
As descrições das batalhas são interessantes, mas confusíssimas, ainda que um tanto dinâmicas. As siglas dos robôs são um troço horrível, tem um tal de "DITHAB" que até hoje eu não sei o que é (parece sigla de benefício do governo). O final corre mais que o Usain Bolt, é tudo atropelado e de uma ingenuidade terrível.
Uma das caraterísticas marcantes dessa obra é a quantidade de referências à "cultura pop/nerd". Há inúmeras referências a discos, filmes, quadrinhos, heróis, jogos, etc etc... no começo, dá até uma empolgação pelas referências, mas logo elas ficam gratuitas e constantes demais, sem que sirvam para coisa alguma.
As cenas são descritas de maneira pobre e as interações entre os personagens são engessadas. Falta timing nos diálogos. Todo mundo é um tiozão que jogou videogame nos anos 80. Isso cansa muito rápido. Por outro lado, as batalhas são intensas, mas aí cai no erro oposto, que é ficar confuso demais. Faltou equilíbrio.
Apesar disso tudo, pode divertir, se você quiser uma ficção científica aí meio boba, só pra esvaziar a cabeça. Visto sem grandes pretensões, dá pra encarar.