Pedro 23/03/2016musicalidade e poesiaO Voo da Guará Vermelha é um livro de uma beleza grandiosa, além de ser bastante singelo. Nele vamos conhecer dois personagens principais Irene e Rosálio. Sendo ele servente de pedreiro e ela uma prostituta doente, muito cansada e que precisa trabalhar nessa vida mundana para criar o filho. Rosálio é um pedreiro pobre, simples, a principio sem tantas perceptivas de vida e sem lembrança do passado genealógico. A única coisa que o Rosálio carrega é uma caixa com livros, livros esses que carregam histórias que ele um dia sonha poder conhecer, aprender, escrever (pra mode não esquecer) e espalhar ao mundo junto com as suas próprias.
O pedreiro acaba indo parar nos braços de Irene, e a partir desse encontro as histórias que ambos carregam são expostas um ao outro e ao leitor que acompanha avidamente o desenrolar da trama, como o Rei Shariar a esperar as histórias que a princesa Sherazade contava. Com o tempo, Irene vai dando significado as letras na tentativa de ensinar o homem a ler.
Narrado em terceira pessoa, intercalado com vozes dos personagens principais que tomam as rédeas de suas histórias na hora de narrar, O Voo da Guará Vermelha traz temas duros e por vezes ignorados em nossas vivencias, como se alertasse nossos olhares para aquilo que presenciamos mas não nos damos conta da profundidade da situação em questão... aliás, não só situações, mas também pessoas; há uma diversidade incontável de gente em nosso mundo, divididas entre pessoas boas e más e vemos que quando se trata da maldade, arrogância e soberba humana o problema é imenso. Irene não é dessas, mesmo na condição em que vive, é um poço de inocência e percebemos isso quando ela narra pra gente sua história com o sagui, o qual amava tanto que sem querer acabou o matando e isso deixa nela uma tristeza e a ensina a nunca fazer mal a criatura alguma.
A escrita da autora é muito bonita, bem feita e diferente, como se as palavras fossem escolhidas a dedo para compor frases com musicalidade e poesia. Por essa construção, não é um livro que dá tudo de mão beijada ao leitor, sendo assim, ele requer mais atenção para pegar detalhes não ditos explicitamente, mas que estão ali e não se perder na narrativa do Rosálio, nem da Irene e muito menos na do narrador em terceira pessoa.
Livro recomenda para quem, assim como Rosálio, tem fome, fome de palavras, fome de viver e sair por aí a contar histórias, sejam vividas, sejam inventadas ou sejam uma mistura de realidade com realismo fantástico e que realçam uma realidade social obscura, simples, por vezes injusta, porém, intensa e presenciadas por pessoas honesta.
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