Thaisa 04/10/2020
Horror importante e necessário sobre o terror da misoginia
O casal Rosemary e Guy Woodhouse acaba de se mudar para um apartamento onde diversas tragédias aconteceram. Lá, eles farão amizade com um casal de idosos que são seus vizinhos. Mas Minnie e Roman Castevet passam a controlar a vida da protagonista, com o apoio de Guy. Talvez exista um motivo para que eles monopolizem tanto tudo que tem a ver com ela...
Enquanto Rosemary só quer uma vida tranquila e busca convencer o marido a começar uma família, Guy é um ator fracassado que apenas busca a fama... E ele fará de tudo para conseguí-la.
Numa noite, entre um sonho e outro, ela terá flashes de uma cerimônia bizarra, que contará com cultistas, sangue, e o próprio Satanás. Na manhã seguinte, ela descobrirá que Guy abusou dela enquanto ela estava apagada... e que têm um bebê a caminho.
Só que esta gravidez, que tinha tudo para ser maravilhosa, se torna um pesadelo.
Por ser um livro de 1967, temos alguns termos racistas e homofóbicos. Algo que também pode incomodar é como o paganismo é descrito - já que, na época, havia uma histeria em massa que acometeu o povo com medo de bruxaria.
Porém, apesar de essa ser uma história famosa sobre satanismo, cultos e paranóia, o que torna "O Bebê de Rosemary" um dos romances de terror mais importantes já escritos não tem nada a ver com o sobrenatural: o que aterroriza é a realidade nua e crua de ser mulher - o estupro, o gaslighting, o machismo... Tudo exemplificado de forma magistral em uma personagem que se retrai pois, sempre que tenta se impôr, é vista como louca.
Este livro também ganha destaque por mostrar diferentes perspectivas sobre gravidez e desmistificar a perfeição desse momento, sem deixar de explorar o amor materno. E ele também virou um dos meus romances favoritos, pois conversou comigo em níveis bem profundos e evoca um dos contos que mais gosto ("O Papel de Parede Amarelo", de Charlotte Perkins Gilman), além de ter gerado uma adaptação cinematográfica igualmente incrível.
Essa é uma leitura feita para inquietar o leitor, demonstrando como a fantasia pode, sim, apavorar... Mas o abuso real apavora muito mais.
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