Yuri Ferreira 06/02/2022
É preciso imaginar Sísifo feliz, seus idiotas.
"Nada" é uma das leituras mais repugnantes, vazias e chatas que tive recentemente. Poderia acabar aqui, mas vamos aos pontos.
A primeira imagem que vem à mente ao ler esse livro é, sem sombra de dúvidas, Senhor das Moscas. Porém, enquanto Senhor das Moscas possui alguma afirmação política e bagagem teórica, Nada consegue se esvaziar de significado e crítica ao tentar abraçar o niilismo como uma criança de 10 anos assistindo vídeos duvidosos no Youtube. Ao tornar o conceito tão abstrato ("o significado", "a importância"), a ideia se perde e se torna vazia; apenas um meio sem fim, com objetivos vagos e, de certa forma, desinteressante.
Digo, desinteressante para mim, que não enxergo o niilismo com o fascínio (que é completamente absurdo e sem sentido) que teve nos últimos anos; abraçar o niilismo como solução é apenas uma escolha burra utilizada por muitos para se sentirem superiores. Parece que Janne Teller utilizou de diversos elementos específicos e desordenados apenas para o choque e mais nada: uma criança com sintomas de psicopatia, uma criança niilista (se é que isso é possível), a preciosidade do corpo, a morte, a dor, o capitalismo, a religião; TUDO é jogado aos poucos e para qualquer lado a cada "objeto de importância" dos personagens e o que resta é literalmente nada. Se houve alguma crítica à qualquer um desses assuntos, a crítica ficou diluída em frases de impacto e construções não tão bem construídas assim; falta coragem no texto, audácia de botar o dedo na ferida tal como seu ancestral espiritual (Senhor das Moscas) e, principalmente, compreender que não dá para atirar para todos os lados e se manter imparcial: é preciso, em algum momento, tomar partido.
É isso que acontece quando crianças privilegiadas descobrem niilismo através de Bojack Horseman e Rick and Morty. E nada disso teria acontecido se alguém (os personagens ou a autora) tivessem lido, no mínimo, alguma coisa do Camus.