Maria Luiza 10/09/2021
Você começa a morrer no instante em que nasce.
(Sério, estou até agora tentando entender o motivo dessa capa, nada tem a ver com o conteúdo do livro)
É um livro extremamente rápido de ser lido, mas não é digerido na mesma velocidade.
Um grupo de adolescentes tenta convencer um colega de que a vida tem significado e nessa busca, as coisas saem COMPLETAMENTE do controle. O ideal do grupo é construir um pilha de significados, dessa forma Pierre (o colega crente de que viver não tem significado algum e de que nada importa), seria convencido e pararia de gritar aos quatro ventos de que tudo o que faziam era uma grande bobagem.
Infelizmente, no livro fica muito claro o quanto o desejo por vencer o colega se transforma em loucura e a história toma um tom mórbido e grotesco.
É uma história macabra, que traz a tona as partes mais cruéis e desumanas em uma pessoa.
"Choramos porque havíamos perdido algo e ganhado algo. E porque perder doía tanto quanto ganhar. E porque sabíamos o que havíamos perdido, mas ainda não conseguíamos pôr em palavras o que havíamos ganhado."
O último a surtar apaga a luz.
Esse livro é uma narrativa sobre o passo a passo da autodestruição. Ou um passo a passo do que se deve fazer para EVITAR a autodestruição. De como cada personagem se destruiu (primeiro) e, logo após, contaminou todo o seu círculo social mais próximo ao disseminar as instruções.
Esse livro é um verdadeiro caos, um caos interior que transborda e torna tudo o que compõe seus arredores exteriores, igualmente, caótico. É como um alerta sobre os perigos de colocar a teoria à frente da prática. É perigoso pensar demais e viver de menos. Se trancafiar na lógica fria aliada à falta de vivência.
Para deixar as coisas mais claras, para mim o livro soou como um grande grito de : para de tentar palpar o significado de estar vivo. Não adianta. Você só tem como significar sua existência limitada por dias, indefinidamente, numerados, vivendo-a de fato. Tem coisa que não tem como ser definida.
O livro se passa, desde a primeira linha, como uma espécie de suspense estoico-niilista. Só que a resposta esperada no fim deste thriller não é ?quem matou coronel Mostarda, em que cômodo e com qual instrumento?, mas sim qual é a resposta definitiva no que diz respeito a qual é o sentido da vida. Para os personagens, o significado é definir um significado e provar que há provas cabais palpáveis que materializam o sentido da vida. Não, não é spoiler, isto está explicitado desde a primeira linha.
É uma narrativa sobre o desespero humano obcecado por provar que a humanidade faz sentido. Que abrindo mão do que importa para exibir o seu objeto de importância ao grande público, você chega a definição material do sentido da vida. E em se tratando disto, é óbvio que não tem como tudo não se transformar em um grande surto caótico. É interessante de se presenciar, é valioso de se tirar a lição de ?cuidado ! Talvez você esteja se afastando de viver para provar a terceiros que sua existência é rica de sentido. Não faz sentido.?
E o interessante é que falta amor. Como uma busca por definição de significado não enaltece o amor ? Pois é, não tem como faltar amor sem sobrar o vazio que leva ao ódio. Não tinha como o final ser outro em se faltando amor. Para mim, tudo nesse livro é memorável e valioso. É só entender o que o autor quer passar, que é o reverso do que se deve fazer. Não é sobre incentivo à autodestruição, é sobre conhecê-la e entendê-la o suficiente para jamais levá-la a cabo.