Naty 10/01/2021
Duvide até do meu nome, mas não da minha lealdade aos meus amigos.
Primeiro livro dessa série dos nobre vigaristas. Tenho que dizer que o livro, para mim, teve altos e baixos.
Então, vamos lá. Primeiramente, quanto aos personagens. O autor cria personagens engraçados, com uma carga psicológica e complexidade adequadas, mas foram personagens com os quais eu não consegui me apegar. Os irmãos Sanzas são os engraçados, Pulga é o ladrão iniciante e chegio de "gás" para dar, Locke vem de uma infância muito triste (assim como os seus colegas, ele é órfão) e passou por momentos complicados, mas também já complicou a vida de muita gente (às vezes, querendo; às vezes, sem querer); de qualquer forma é um personagem marcado por ser um ótimo farsante e mentiroso, Jean é o braço direito de Locke e, devido ao seu poder com as armas (as irmãs Malvadas quem leu o livro entenderá) e poder físico e um personagem interessante, mas que aparece mais como um amigo inseparável de Locke. Todos esses meninos (menos Pulga) foram criados por um padre, chamado Padre Correntes (porque ele fingia ser cego e se acorrentar no templo para conseguir caridade),o qual os ensina a arte dos altos roubos, roubos a pessoas nobres (o que não é permitido pela Paz secreta quem leu entenderá), roubos que necessitam de expertise em disfarces, maquiagens, sotaques, etc.
Vamos lá. Apesar de achar os personagens interessantes, eu não me apeguei a nenhum deles. Se qualquer um deles morresse (e muitos deles morrem, pode crer), eu não sentiria muita falta. São personagens bem estruuturados e tal, mas que não me trouxeram empatia. Talvez pela prática ilícita deles, alta carga de roubos e tal...Talvez isso tenha me impelido ao distanciamento...Mas, no fundo, não acredito que tenha sido isso. O autor quer nos conquistar através do humor dos personagens, seu jogo de cintura em situações difíceis, etc. Coisas essas que eu já vi em outros livros, como o Falso Príncipe. Só que aqui não deu certo para mim...
Acho que o autor descreve bem personagens de rua, órfãos que ingressam no mundo do crime vendo aquilo como o único caminho e trazendo justificativas em sua mente para praticar o mal e apenas notar o mal que é praticado contra si mesmo. São personagens que, como todo mundo, querem um lar, amigos, aceitação, sucesso. E para isso eles lançam mão do que for necessário. Mas nem acho que esse é o foco...O foco é divertir o leitor nos joguinhos de Locke e nas formas que ele encontra para sair de situações difíceis, mostrando-nos seu lado de lealdade e amor ao próximo e ressaltando aquelas características acima do ladrão. Até porque ele não mata, ele só rouba. O serviço dele é o que chamaríamos de "limpo". Até que se mecha com os amigos dele, é claro...Mas realmente achei que o personagem poderia refletir mais no que estava fazendo com sua vida...Quem sabe mudar de ramo.
Mas é isso. Pra mim, foram personagens esquecíveis.
Quanto a trama, tenho que dizer que gostei bastante. Isso se deve tanto ao fato de que o foco da história aqui é você ver o desenvolver desse personagem, ver ele e seus amigos se saindo das situações e tentando resolver alguns mistérios. Mas isso é pouco. Aqui tem assassinato a sangue frio, tortura, etc...E tudo isso descrito vividamente (Sério, ele descreve torturas que eu nunca pensei que alguém poderia imaginar). A trama melhora quando surge o Rei Cinza, futuro Capa Raza. Ele foi um personagem realmente enigmático. Mas tenho que dizer que imaginava a parte da história passada dele. A parte do falcoeiro é realmente de dar nos nervos, mas a magia é parcamente explicada (falarei disso melhor depois) e esse falcoeiro dá um trabalho terrível. Um personagem de dar medo.
No entanto, a melhor parte da trama são realmente as mentiras. Sim, são elas que perfazem toda a história e dão a ela uma complexidade tamanha. Tem tanta mentira que Locke conta que, no fim, ninguém mais quer nem acreditar no que ele fala. E os planos que ele consegue "bolar" para resolver seus problemas, embora desonestos, são algo que realmente nem sei onde o autor achou a ideia...E nem quero saber. Mentir não é lá a melhor das coisas e o personagem não só usa as pessoas, mas passa a ser usado por elas devido à sua habilidade em fingimento e persuasão.
O autor chega até mesmo a enganar os leitores, já que sua história é contada de uma maneira em que capítulos do passado e do presente se intercalam. A parte dos soldados do Aranha invadindo a casa dos Salvaras para avisar do golpe foi demais...Nessa até eu cai. Foi bem interessante a jogada.
Enfim, a trama é o único ponto forte na minha opinião. Me lembrou até alguns livros da Maria V. Snyder em sua série dos estudos. A personagem principal consegue sair de qualquer situação, mesmo as mais impossíveis, assim como Locke. Mas a ela eu realmente me apeguei. O que não houve aqui. Ela me forneceu mais empatia, mais ternura e, com certeza, mais verdade. A mentira não é uma qualidade admirável como esse livro acaba deixando parecer de forma meio que irônica. Mas, pelo menos, ele traz as consequências dela. SE bem que nem todas...Locke só não morre aqui porque o autor da história não quer. Isso é fato. Mas faz parte do gênero de fantasia, ao qual se encaixa esse livro. Ou seja, é compreensível.
Continuando, quanto à fantasia, ela é pouco presente e mal explicada. Bem mal explicada. Existe e ponto. Eu não ligo muito para isso, porque acho que explicar magia não é lá uma coisa que todo autor consiga fazer, além de não ser necessário. Quem lê fantasia, sabe que vai ler algo fantástico e o fantástico não tem explicação. DE qualquer forma, o autor poderia ter nos dados mais detalhes, mas não foi nada que tenha me desagradado bastante.
Quanto à ambientação, eu realmente não gostei. Pulava as partes históricas quando se tornavam longas, enfadonhas demais ou sem conexão direta com a trama em si. Achei realmente algumas descrições meio paradas demais. Para ser mais sincera, não gostei muito do cenário. Achei bem algo medieval misturado com algo mais futurístico. Não curto muito coisa futuristas, algo pessoal mesmo. Mas ele descreve com precisão o cenário. Pena que foi um ambiente que não me chamou a mínima atenção.
Enfim, dei 2 estrelas porque, apesar de ser um livro bem escrito, foi um livro que eu comecei, terminei e nada nele me marcou. Tem muitos palavrões também, algo que eu realmente também não gosto. O personagens são bem descritos, mas passam do início ao fim da história fazendo coisas ruins em nome da riqueza ou em nome da vingança ou em nome da sobrevivência. É uma fantasia sem a parte que eu mais gosto: a fantasia. A parte de magia é totalmente secundária. As mentiras são o foco e está aí o problema. Mentir não é lá uma das melhores coisas a se fazer. Acho que o que mais tiro da história é que devemos ter cuidado com farsantes kkkkkkk E tem muitos hoje em dia. Lendo sobre eles, mesmo que no fictício, ficamos mais alerta ao real. O próprio livro diz: "Quando a esmola é muita, o pobre desconfia" e, não só isso, aquelas propostas surpreendentes que aparecem do nada e exigem aceites rápidos, etc.
Existêm muitas pessoas nesse mundo como Locke com certeza. Mas o que mais me tocou na história e acredito que tenha tocado os demais leitores é o apreço que Locke tem aos seus amigos. Dá eles se chamarem nobres vigaristas. Eles permanecem nobres uns para com os outros; camaradas. Não só isso. Locke salva uma cidade. Fica claro que ele não é uma pessoa ruim. Ele salva seu povo que o rejeitou e isso quase custa sua vida; ele faz de tudo pelos seus amigos. Mas a vingança é um prato que se come frio. E ele comeu esse prato. Fica claro na história que ele não gostou d que fez no final, mas faz mesmo assim em nome da vingança.
Pergunta final: A vingança resolve? A mentira compensa? Ser um pouco bom e um pouco mal e justificar seus erros é o caminho? Acredito que não.
Não pretendo continuar a série. Isso se ela terminar de ser lançada, né? Mas entendo quem gosta do livro. Ele tem seus charmes, mas para mim não funcionou. E realmente não foi das melhores experiências literárias.