Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018Por Lugares IncríveisEm 2016 eu li uma série de livros que eu estava protelando desde o outro ano. Eram lançamentos de 2015 que eu sabia que seriam bons, que eu iria gostar, mas por algum motivo ficava os protelando. Quando fui na Bienal do Livro em São Paulo e tive a oportunidade de conhecer a autora e autografar o livro, pus como uma meta fazer a leitura de Por Lugares Incríveis antes de dar adeus a 2016, e felizmente consegui.
Foi uma história tocante e emotiva, como haviam me avisado. O que eu não fui avisada (felizmente), era de alguns tiros que viriam durante a leitura. Pois digo a vocês, depois desse e de Juntando os Pedaços, se tem algo que posso falar sobre a autora, é que Jennifer Niven sabe transpor para o papel os sentimentos de forma maestral. Pois não há nada mais frustrante do que ler uma história sensível e não ser tocada por ela, pela falta de habilidade de quem escreve. Por vezes, a aproximação do leitor com a trama se deve muito ao autor e Niven sabe muito bem como se aproveitar disso.
“Aparentemente, sou trágico e perigoso. É isso ai, penso. Isso mesmo.”
Mas, mesmo sendo um livro tocante e que me fez chorar em vários momentos, é preciso dizer que não há lá muita inovação na fórmula dos personagens. Theodore é o garoto problema e seus problemas não são novidade. A diferença aqui está em ele de forma alguma ser alguém mau. Muito pelo contrário, seu coração é cheio de bondade, e até de inocência pra algumas coisas. E, quando ele e Violet começam a se aproximar, devido ao que lhes aconteceu, o primeiro alerta que ele recebe é que ela é que pode ser perigosa, pois tem o poder de quebrar seu coração.
E, é claro que a aproximação dos dois vai acontecer. Primeiro de forma imposta por ele, já que ele guarda o segredo mais precioso de Violet, a verdade do porque ela estava lá em cima, e o fato de que não tinha absolutamente nada a ver com ele.
A garota por sua vez também vive sob o estereótipo da menina popular, mas tem suas peculiaridades. Ela perdeu uma peça muito importante em sua vida e isso a devastou, fazendo com que ela passasse a olhar para várias coisas corriqueiras de sua vida de forma estranha. Ela não consegue mais escrever ou andar de carro, passou a ter uma medo maior do mundo. Mas ela tem uma penca de amigos e, ao não revelar realmente como se sente, para não parecer fraca, acaba por deixá-los no vácuo, ignorar. Por um lado parece bom, pois ela se redescobre sem os rótulos, mas por outro ela perde a oportunidade de se abrir, fechando-se por completo. E, é ai que Finch entra, aos poucos rompendo essa barreira.
Portanto, mesmo nos personagens convencionados, há também detalhes que os diferenciam, o que faz com que a história se sobressaia das tramas normais de young adult e destaque o fator que já mencionei, que é a beleza como a autora escreve.
Mas, há algo na forma como eles se comportam ao final do livro que me deixou um pouco de pé atrás e que não fez com que Por Lugares Incríveis levasse minhas 5 estrelas redondinhas. Há uma pessoa que sofrerá mais que a outra, um fato que levanta um ponto que pra mim é muito importante e que sempre me incomoda em histórias sobre luto, que é o amor curar tudo. E ele não cura. Ele pode ajudar, pode medicar, mas a libertação do peso nas costas, a auto aceitação, ela vem de formas mais profundas do que simplesmente amar ao próximo. Ela vem de amar a si mesmo.
Talvez uma pessoa ache isso, mas pra mim não soou completamente real, principalmente vendo o antes e depois e as formas como a situação foi conduzida. Ao fim, pareceu fácil demais seguir em frente, superar, e sabemos que raramente é, principalmente quando já estamos machucados a um tempo. Essa posição rápida de “recuperação” me tirou um pouquinho só de dentro da realidade total do livro, mas não foi nada que tenha prejudicado minha experiência. É um detalhe que me chamou a atenção e que eu resolvi dar valor.
“Agora tudo o que vejo é uma garota morrendo de medo de viver.”
Esse livro vai falar não só sobre suicídio, mas também sobre bipolaridade e a necessidade de dar atenção aos sintomas e, principalmente, medicar corretamente. A pessoa que vive com isso de forma descontrolada tem uma tendência muito maior de fazer algo contra si mesma ou contra outros e isso é muito perigoso. Por vezes brincamos sobre ser bipolar e esquecemos que isso é algo real e sério, muito sério. Assim como depressão e outras doenças que interferem com o humor ou como vemos o mundo, é necessário manter sob controle e prestar atenção. Os sinais estão sempre lá, só é necessário olhar.
Não foram muitos os livros que me fizeram chorar em 2016, mas três deles envolviam suicídio. É um tema complicado, sensível e tocante. Theodore fantasia sobre isso, romantiza até por vezes em sua cabeça as formas, as estatísticas e isso é sempre algo que preocupa na literatura e também na divulgação de livros com essa temática. A história tem que caminhar a levar o leitor a compreender a gravidade daquilo e também a importância que existe em escolher a vida, em melhorar.
Acho que apesar das coisinhas que me incomodaram levemente, a autora soube muito bem evoluir os personagens aos pontos onde cada um deveria chegar, para cumprir seus propósitos. Por Lugares Incríveis é certamente uma leitura recomendada pra qualquer leitor, não só para aqueles que curtem YA, mas também pra aqueles que eventualmente gostem de sair de seu gênero de conforto para experimentar uma leitura que é mais leve em vários aspectos, mas também está aqui pra debater algo sério e deixar um alerta.
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