Lauraa Machado 22/09/2021
Finch merecia mais e a Violet nem merecia estar nessa história
Foi pelo filme de Por Lugares Incríveis que eu quis ler o livro, admito. Não foi um filme do qual gostei muito ou que me tocou de algum jeito especial, mas ainda estava curiosa para ver como a autora levaria a história no livro. Ainda assim, não esperava gostar muito, já que todo esse tema de adolescentes e suicídio definitivamente não me atrai nem um pouco. Nos primeiros capítulos, eu ainda estava apreensiva, mas logo comecei a adorar o livro, a achar que chegaria bem perto de ser um dos meus favoritos. Até que chegou o clímax e tudo decaiu tanto, que tive que pensar muito para dar mais que 2 estrelas.
Vamos por partes? Antes de mais nada, achei o começo forçado. O problema nem foi os dois protagonistas se encontrarem em uma torre de onde poderiam pular ou cair, mas o fato de que ninguém parecia se importar. O jeito que os outros alunos e até mesmo os professores lidaram com uma tentativa de suicídio foi tão casual, que até me ofendeu um pouco. Um único adulto perguntar para um deles e se contentar com uma resposta vaga foi muito ruim. Para que fazer essa cena ser pública se não teria consequências além de fofocas como se fosse não nada?
Esse começo foi meio incerto por isso, além de que o Finch me irritou um pouco. O que me surpreendeu foi eu ficar cada vez mais interessada por ele conforme o livro passava. Ele é bem complexo e sua bipolaridade, na minha opinião de leiga, foi bem representada, porque em nenhum momento ela pareceu ser uma receitinha fácil de decifrar e definir. Todas as nuances da personalidade dele vão se revelando devagar, sem uma ordem certa, e eu fiquei cada vez mais interessada em ler seu ponto de vista.
Mas mesmo na hora em que o livro estava muito bom, tinha um problema bem grande que me incomodou até o final: a Violet é uma das personagens mais superficiais que já encontrei. É normal, em livros com mais de um ponto de vista, ter um personagem melhor que o outro, claro. Mas a diferença entre a qualidade da narrativa nos capítulos do Finch e nos da Violet era tão grande, tão escancarada, que nem parecem ter sido escritos pela mesma pessoa.
Sim, eu sei que ela perdeu a irmã há pouco tempo (um ano, mais ou menos) e que cada pessoa lida com luto de um jeito diferente, mas ela é tão apática e sem graça, que não consegui sentir nem o mínimo de empatia por ela, nem quando mais estava sofrendo. Não consigo dizer nada de que ela gosta, nenhuma opinião que ela tem ou qualquer característica dela, marcante ou não. Realmente não tenho ainda a menor noção de quem ela é, além de que ela gosta de escrever, o que acaba sendo tão superficial quanto o resto da sua história. Além da diferença gritante na qualidade do desenvolvimento dela em relação ao de Finch, tive que me forçar a aceitar que ele gostava dela, porque esse interesse dele por alguém tão superficial foi a coisa mais forçada do livro.
De verdade, tive que me fazer ignorar toda vez que estava lendo e ele ficava meio louco por ela, como se tivesse alguma coisa nela para gostar. E isso foi até o final, porque em nenhum momento ela tem personalidade, em capítulo nenhum ela inspira algum sentimento ou narra com alguma emoção. É tudo bem entorpecido e raso. Me sentia lendo a história de uma papelão ambulante. Estava até esperando que fosse só uma técnica da autora para mostrar que, no começo, a Violet estava se forçando a não sentir nada para não lidar com a irmã, mas ela continuou assim até o final, o que também atrapalha bem aquela sensação de que o Finch lhe trouxe a vontade de viver de novo, que a autora claramente queria passar. Ela continua tão apática no final quanto no começo.
Mas o que realmente "enterrou" o livro para mim foi o clímax. Eu já sabia o que aconteceria, porque tinha visto o filme, e esperava que fosse ser um momento super impactante, não pelo fato, mas porque todos os capítulos do Finch antes foram tão intrigantes e emocionantes, que esse tinha que ser o ponto alto da história toda. Esperava que fosse ser tão devastador, aliás, que me forcei a parar de ler e continuar quando estivesse mais preparada emocionalmente. Só para chegar lá e ver que a autora fugiu de ter que lidar com seu próprio clímax.
A partir de agora, vou dar spoiler, sim, então pare de ler esta resenha se quiser evitar.
Tudo na narrativa do Finch fez sentido para mim, sem contar com o interesse dele pela Violet. Todas suas atitudes e seus pensamentos encaixaram, ainda que inesperadamente, na sua personalidade ou sua bipolaridade. O que ele pensa quando ele está no Blue Hole (não sei se traduziram o nome) na primeira vez fez muito sentido, mas a autora fugir de ter que narrar quando ele morre foi covardia, na minha opinião. Ela nem precisava descrever quando ele morreu, mas sim os dias até aquele momento, porque a ideia de que ele poderia se matar não encaixou tão bem nessa hora. Consigo acreditar facilmente que ele passou por pensamentos e questões que o levaram até o suicídio, mas a última lembrança que eu tenho dele ainda é tão distante, que é como se a autora tivesse decidido que preferia não ter que lidar com a mente dele na parte mais difícil da história. Isso, para mim, que é covardia, porque foi ela que decidiu contar a história dele e ele mesmo não consegue fugir de sua mente e seus problemas. Sinto quase como se a autora tivesse o abandonado quando ficou difícil, quando ele mais precisava de atenção e mais merecia que seu ponto de vista fosse lido.
Super dramático da minha parte, mas acho que era exatamente o que faltava para provar que a autora não tinha só pegado um tema difícil e usado para criar empatia pela sua história. Foi com essa sensação que eu fiquei no final, de que ela tinha usado bipolaridade enquanto era atraente e funcionava para o romance, mas que deixou de lidar quando precisava ser abordada até o fundo, sem pudor ou medo dos momentos mais difíceis.
Pior do que isso foi passar a revelação mais importante do livro para o ponto de vista da Violet, o papelão ambulante. As últimas setenta páginas foram tão rasas e sem graça, que acabou abalando toda a força que a narrativa do Finch tinha criado para a história antes. Nem quando a Violet tem que lidar com morte de novo, eu consegui criar alguma empatia pelos problemas dela. A morte da irmã foi tratada de um jeito tão leve também, talvez por ter acontecido bem antes da história começar, que todos os problemas dela acabaram me parecendo muito drama por nada. Ou talvez era mesmo a personalidade dela que estragou tudo.
No final das contas, não é um livro péssimo, mas deixou bastante a desejar pelo que se propôs e principalmente pelo que entregou no começo da história. Eu gostei muito, muito mesmo do Finch e acho que ele merecia um final melhor. Não para mudar o que aconteceu com ele, mas que tivesse sido descrito e escrito mesmo. Ele merecia um livro só dele, que não fosse podado nas partes difíceis ou ofuscado pelo ponto de vista de uma personagem tão dispensável quanto a Violet.