Felipe Lima 05/12/2021Minha experiência com "Eu, Você e a Garota Que Vai Morrer" foi no mínimo curiosa. Desde o início, apesar de achar a premissa do livro interessante, há fatores que realmente são bem problemáticos. Andrews tenta escrever o livro a partir da perspectiva do jovem Greg Daines, um adolescente de 17 anos que tenta passar pelo colégio sem se envolver com ninguém. Ao falar com todos, porém somente o suficiente para que ninguém o conheça, ele consegue chegar ao último ano quase como um fantasma, sem se tornar um alvo de nenhum grupo da escola. Seu único "amigo" é Earl, um rapaz que vive irritado e oriundo de uma família problemática. Rachel (ou a garota que vai morrer), ressurge na vida de Greg quando ele descobre por sua mãe que a menina está com leucemia. Após ser obrigado a procurar Rachel, ele passa a se aproximar dela e lentamente passa a experimentar novas sensações o que coloca em risco todo seu plano de terminar o colegial como um fantasma.
Mesmo apresentando uma trama, o livro já mostra seus pontos negativos logo na primeira página. Em primeiro lugar, acho que podemos começar pelas personagens. Greg e Earl, os personagens principais da história são irritantes. Por mais que o autor quisesse reproduzir a ideia de dois adolescentes "comuns" que são completamente idiotas, com um vocabulário extremamente reduzido (não há outra forma de descrever uma pessoa que repete 10 vezes a mesma palavra num diálogo) e que apresentam dificuldade em lidar com interações sociais, ainda sim era necessário que Andrews mostrasse habilidade na hora da escrita para tornar essas pessoas minimamente interessantes e atrativas (em termos de personalidade). Por mais que o protagonista seja engraçado em algumas (poucas) situações, ele ainda sim é um cara egoísta, infantil e sem personalidade. Chega a ser extremamente difícil torcer por ele e o mesmo acontece com Earl. Faltou competência ao autor para justificar as atitudes do rapaz que mesmo falando asneiras e tendo uma atitude insuportável, ainda conseguia mostrar alguma personalidade (diferentemente de Greg). Não basta me dizer que alguém é pobre, não tem uma base familiar que o suporta e convive em meio a drogas e uma realidade que o sentencia ao fracasso a todo momento. Isso pode até ter me feito entender as atitudes de Earl, mas definitivamente não foi o suficiente para que eu quisesse acolhê-lo. Por sorte, Rachel e algumas outras personagens secundárias (como a mãe de Greg e o professor que o ajuda) conseguem dar mais alguma profundidade ao livro, tornando a experiência mais "palatável".
Eu até entendo que Andrews tenha optado tomar um rumo diferente do tradicional ao escrever um livro sobre uma adolescente com leucemia, evitando todos os clichês românticos e a ideia de que os últimos momentos de alguém tenham que necessariamente transformar a vida das pessoas ao redor do doente. Contudo, o autor fracassou na tarefa que se dispôs a fazer, pois mesmo que tenha conseguido evitar a todos os clichês do gênero, ele parece ter se esquecido de um dos princípios básicos de uma história: sentimentos. Se o leitor não se importa com as personagens que lê, todo o objetivo do livro vai por algo abaixo.