Vestido de Noiva

Vestido de Noiva Nelson Rodrigues




Resenhas - Vestido de Noiva


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regifreitas 05/04/2020

O BEIJO NO ASFALTO (1961); VESTIDO DE NOIVA (1943), Nelson Rodrigues.

Em relação à obra de Nelson Rodrigues, vale o lugar-comum: há aqueles que a amam e aqueles que a odeiam, geralmente com poucos meios termos.

Apesar das semelhanças, principalmente ao trazer o olhar agudo do dramaturgo no desnudamento das hipocrisias da sociedade carioca e, por extensão, da própria sociedade brasileira, aqui temos duas obras que se diferenciam estruturalmente.

O BEIJO NO ASFALTO segue a estrutura mais tradicional do texto teatral. O diferencial está na forma como o autor trabalha os temas: o sensacionalismo da mídia, a violência e abuso de poder por parte da polícia, a homofobia, os desejos ocultos e recalcados. Nelson se vale de uma lente hiperbólica - ao mesmo tempo que mostra, amplia sobremaneira esses aspectos. O exagero no tragicômico é proposital, e uma das características da crítica social rodrigueana.

Já VESTIDO DE NOIVA apela principalmente para o melodrama, mas se destaca por apresentar uma construção mais elaborada do texto teatral. Por conta desse aspecto, e das inovações trazidas por ela, esta peça é considerada o marco inicial do Modernismo no teatro brasileiro. O que chama a atenção, e foram consideradas arrojadas para a época, são as soluções engendradas por Nelson na construção das cenas no palco. Este é dividido em três quadros: da realidade, da alucinação e da memória, nos quais se desenrolam as ações.

Conforme mencionado acima, o trabalho de Nelson Rodrigues pode causar reações divergentes no público/leitor. Comigo não foi diferente. Quando me pus a pensar sobre o que escrever - especificamente sobre essas peças -, algumas das minhas primeiras impressões e considerações se alteraram, o que me fez, inclusive, mudar a avaliação das obras.

Mas aí reside justamente a função principal da obra de arte: para ser relevante, ela deve provocar. Se o resultado final for apenas indiferença, é sinal que ela fracassou.
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Hilton Neves 03/04/2020

Bem, a peça guarda sim, semelhanças com coisas que Scorsese ia dirigir muitas décadas depois. Por coincidência, o Marty ama o Glauber, quem o Nelson elogiou bastante pelas páginas do seu livro de memórias. Um roteiro incrível da edição da Nova Fronteira nos conta as origens e mudanças do teatro, isso me envolveu, e então facilitou me concentrar nos planos da memória, realidade e alucinação que compõem o arcabouço da estória.
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Sue 27/02/2020

Muita ousadia em 1940
Nelson Rodrigues é genial e muito amargo ao mesmo tempo, vai notar isso principalmente se você ler mais livros e crônicas dele. O livro é uma peça de teatro, esse formato pode incomodar nas primeiras paginas, mas depois você esquece. É extremamente ousado e despudorado pra época, não que a história seja para maiores de 18 anos, ouso dizer que é uma história de família e, em grau mais leve, deve estar cheio de casos assim Brasil afora, mas escrever sobre isso naquela época merece palmas!
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Sophia.Bassi 25/02/2020

Nem que eu morra, deixarei você em paz!
Rivalidade de irmãs chegada ao extremo. Alaide se encontra em uma tempestade de memórias antigas e falsas, sem de lembrar de seu passado de traições.
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Lipe 27/03/2019

As tragédias épicas de Nelson Rodrigues
Considero impressionante a forma como Nelson Rodrigues em suas histórias e personagens desmascara a hipocrisia da classe média brasileira. Com uma linguagem informal, o registro da linguagem oral do Rio de Janeiro e a representação do comportamento egoísta e sexualizado de suas personagens, características da classe média, Rodrigues estrutura suas obras em uma amoralidade crítica que aponta para os grandes dramas das tragédias individuais, narradas de forma épica e viva.
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Biblioteca Álvaro Guerra 11/01/2019

A representação é dividida em três planos: da alucinação, da memória e da realidade. Há também duas escadas laterais. A peça se desenrola em três atos, cuja relação não é exatamente cronológica, a não ser no plano da realidade, o qual acompanha a degradação do estado de saúde de Alaíde e a aniquilação consequente dos outros dois planos.

site: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vestido-de-noiva-analise-da-obra-de-nelson-rodrigues/

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788599896396
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50livros 29/12/2018

Teatro nacional
Sou suspeita para falar: sou fã de carteirinha do autor e jornalista. E esse aqui não me decepcionou em nada. Como sempre, tudo gira em torno de um acontecimento chocante, onde nos leva a pensar o quanto ser humano pode ser baixo e vil. Isso ainda sem perder toda uma estética própria, coisa que acho incrível. Foi uma leitura bem rápida, porém intrigante, fazendo-me apaixonar ainda mais por toda a obra de Nelson Rodrigues.

site: www.50livros.com/single-post/2018/11/06/RESENHA-de-Vestido-de-Noiva-de-Nelson-Rodrigues---12MESES12CLASSICOS
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Paulo Silas 24/06/2018

"Vestido de Noiva" é uma peça de Nelson Rodrigues que possui um evidente teor psicológico, principalmente ao se considerar a forma com a qual a narrativa é construída. O conflito é o mote que conduz a história, uma vez que que uma notória tensão se faz presente entre todas as personagens que contracenam no enredo, resultando assim num clima conflitivo presente em toda a peça. A confusão se mistura à crítica, a sátira e ao melodrama, constituindo uma narrativa que se passa entre a vida e a morte da protagonista.

O livro requer uma atenção especial do leitor. Diz-se pela forma estrutural na qual a peça é construída. Há três planos presentes na história: a alucinação, a memória e a realidade. Todos esses se intercalam incessantemente, dividindo-se entre os atos da peça que não seguem necessariamente uma sequência lógica/cronológica, ensejando assim num ambiente caótico vivido pelas personagens que acaba sendo sentido pelo leitor.
"Vestido de Noiva" retrata a história de uma mulher, Alaíde, que é atropelada e acaba sendo levada ao hospital para ser operada. Esse é o plano da realidade. Enquanto os médicos tentam salvá-la, Alaíde se recorda de um episódio de seu passado: uma disputa entre duas irmãs por um noivo rico. Ao mesmo tempo, uma alucinação disputa espaço com suas recordações: Alaíde procura por Madame Clessi, uma prostituta que foi assassinada por um jovem namorado, em quem poderá encontrar respostas para a confusão presente em sua mente. É em meio a esse caos que a personagem luta por sua sobrevivência - pelo menos por tempo suficiente para que o esclarecimento possa surgir.

Nelson Rodrigues, em seu próprio estilo (em que pese aqui menos visceral como de costume), aborda criticamente temas como a hipocrisia, o desejo, as convenções sociais e as verdadeiras intenções inerentes à condição humana - escondidas sob os mais diversos e falsos mantos. Vale!
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Joao.Victor 09/02/2018

Dramaturgo, jornalista e escritor, Nelson Falcão Rodrigues nasceu a 23 de agosto de 1912 em Recife no estado do Pernambuco. Seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro pouco tempo depois do seu nascimento. Em 1935, Nelson contraiu uma tuberculose e foi internado num sanatório de Campos do Jordão. Recuperou-se e voltou para o Rio de Janeiro. Ele traduz as mazelas do homem com poesia e densidade. Bastante influenciada pelo estilo do dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936), a dramaturgia de Nelson se alimenta da tragédia do homem comum, leitor da imprensa marrom, fã de artistas de novela e jogadores de futebol. Em 1963 ele se separa de Elza Bretanha, com quem esteve casado desde 1940, e com quem teve dois filhos. Viveu um relacionamento com Lúcia Cruz Lima que lhe deu a filha Daniela, e depois com Helena Maria. Em 21 de dezembro de 1980, na cidade maravilhosa, falece Nelson Falcão Rodrigues.
Existe alguma coisa que diferencia os meros escritores dos gênios da escrita. Poder transpassar para seus personagens tudo aquilo que é sentido no mais íntimo do seu ser não é tarefa para qualquer um. E as obras dele parecem que foram cozidas num caldeirão com ódio, crise familiar, imoralidade, obsessão, possessão, desejo e uma grande dose de conflito interno. Some-se a isso uma boa leva de personagens altamente originais e cotidianos e estará pronta uma obra digna de Nelson Rodrigues. É surpreendente como as obras dele conseguem fazer com que nós, leitores/espectadores, nos identifiquemos com elas. O sentimento de identificação é instantâneo ao nos deparamos com a desconfiança de Olegário em relação à sua esposa Lídia na peça A mulher sem pecado, peça escrita em 1941, ou então quando torcemos para que no fim Oswaldinho consiga fisgar a bela e religiosa Joice no Anti-Nelson Rodrigues, peça escrita em 1973, mais ainda: qual o leitor/espectador que não sentiu o mesmo desespero que a menina Sônia em Valsa nº 6, peça escrita em 1951? Eis aqui o algo a mais: sentimento a mais, é isto que possuem as obras de Nelson Falcão Rodrigues.
Constituídas de um realismo em estado bruto, suas obras causam em nós toda essa identificação e ao mesmo tempo uma enorme repulsa. Afinal, somos infiéis, desconfiados, egoístas, somos seres que por vezes nos deixamos levar pelos instintos da carne e loucuras da mente, mas não admitimos isso. Não admitimos porque temos um padrão de comportamento a zelar perante nossa sociedade. Com muito êxito, ele trouxe isto à tona em suas peças, sempre mostrando o homem como medíocre. Caso queiramos destacar os pontos principais da obra de Nelson Rodrigues basta que nos atenhamos a sua peça que foi tida como um divisor de águas, em sua própria vida e também no cenário nacional do teatro: Vestido de Noiva. Nela encontramos alguns dos aspectos principais da obra desse grande (se não o maior) dramaturgo brasileiro: infidelidade – uma irmã que rouba o namorado da outra; desejo reprimido - Alaíde lê o diário de Madame Clessi e aí encontra refúgio para todos seus desejos, que não foram satisfeitos por seu noivo Pedro; ódio – é inegável todo ódio que resulta da infidelidade de uma irmã para com a outra; crise familiar – o ambiente onde muitas de suas obras acontecem é curiosamente o ambiente familiar, como exemplo podemos citar a fala do personagem Edmundo à sua mãe, em Álbum de Família peça escrita em 1944: “Mãe, às vezes eu sinto como se o mundo estivesse vazio, e ninguém mais existisse, a não ser nós, quer dizer, você, papai, eu e meus irmãos. Como se nossa família fosse a única e primeira. Então o amor e o ódio teriam de nascer dentro de nós” ; conflito interno – os personagens principais da obra de Nelson sempre trazem um inferno – tenha-se inferno como uma grande confusão – dentro da cabeça, tal como disse Olegário em A mulher sem pecado: “Eu tenho um inferno dentro de mim. Um inferno particular” .
Vestido de Noiva foi escrita em apenas uma semana. Em sete dias cabem mais de mil de paixão e dor. Em síntese, toda a trama gira em torno de Alaíde (noiva), Madame Clessi (cocote/conselheira de Alaíde), Pedro (marido de Alaíde) e Lúcia (irmã de Alaíde). Duas irmãs que amam o mesmo homem: esta é a principal unidade dramática. Alaíde rouba o namorado de Lúcia e vai casar com ele, mas Lúcia consegue chegar a tempo e interromper o casório. Alaíde sai da igreja desesperada e é atropelada. Morre. Lúcia, dizendo estar sendo assombrada pelo espírito de Alaíde, vai passar algum tempo em uma dita fazenda. Volta. Veste o vestido de noiva e anseia pela cerimonia, que não fica explicito se ela casa ou não com Pedro. No entanto, toda essa gama de informação só nos é dada no terceiro ato. Os dois primeiros são, em sua maioria, produtos da psique de Alaíde, intercalados com passagens do “mundo real”, digamos assim. O final da peça é o mais marcante: “[...] Apaga-se, então, toda a cena, só ficando iluminado, sob uma luz lunar, o túmulo de Alaíde, Crescendo da Marcha Fúnebre. Trevas” . A tragédia é iniciada com escuridão e solidão, assim também é seu final: escuro e solitário.
É merecida que seja destacada a mágica realizada por Nelson Rodrigues em dividir o mesmo palco em três planos diferentes, onde cada um deles representa um estado da consciência de Alaíde. Os devaneios extremamente realistas vividos por Alaíde no plano da alucinação somados à frieza dos médicos que tentam minimizar os danos sofridos no acidente de carro, no da realidade e aos fundamentais lapsos de memória dela que nos ajudam a organizar todo esse caos informático e chegar a uma conclusão sobre a trama, no da memória, tudo isso eleva ainda mais o grau de complexidade e de secura da peça. Complexidade, pois, como leitores/espectadores, temos que ir prestando atenção em cada passo dado, rememorado e vivido, além de fazer inferências, para enfim compreender todo o enredo. Secura, pois – até mesmo os adjetivos e locuções adjetivas corroboram com isso – bonita, bem-vestida, louca, gorda, velha, cheia de varizes, etc. – a cada ato nos é revelada a face que tentamos esconder, uma de seres invejosos, falhos, carnais, seres repletos de um falso pudor, humanos medíocres.
É interessante notarmos como é composta a peça, isto é, como ela se nos apresenta. É uma obra que é completa em si: Vestido de Noiva basta-se. É comum encontrarmos em diversas peças teatrais enredos que são iniciados e não se sabe o antes da história. Não nos é dito o que se passou com os personagens antes do início da história. A peça citada é iniciada com sons de um acidente automobilístico e com Alaíde procurando por Madame Clessi. Apesar da naturalidade de como os fatos se apresentam, não nos fica claro, a princípio, o motivo daquela procurar por esta e nem o porquê e quais as consequências dele. No entanto, no decorrer da trama sabemos que o acidente ocorre devido à interrupção de Lúcia no casamento de Alaíde com Pedro, onde esta ao ter esclarecido que realmente roubou o namorado da irmã sai da igreja e é atropelada. Alaíde procura, em seu inconsciente, por Madame Clessi, pois ela representa a figura da mulher livre, mulher corajosa, mulher que vive seus desejos.
No decorrer da peça fica confuso se Alaíde realmente se casou com Pedro. Em dados momentos ela o chama de noivo, em outros de marido e a confusão em sua mente é tal que ela chega a não saber qual seu grau de relacionamento com ele, mas no terceiro ato temos a confirmação: Alaíde realmente foi casada com Pedro. Como prova basta que nos atentemos ao sobrenome compartilhado por eles: Moreira. Pedro se apresenta como Pedro Moreira ao buscar notícias de Alaíde no hospital. O nome de Alaíde é dado como Alaíde Moreira pelos informantes do jornal Diário. É tradição aqui no Brasil e em outros recantos do mundo que a esposa herde o nome do marido após o matrimônio, eis aí a prova.
O estado mental de Alaíde é tão perturbado que a trama fica saltando descontroladamente por cenas vividas, relembradas e, em sua maioria, imaginadas. A mente de Alaíde é sua maior perdição. Resultado de toda essa confusão temos algumas questões que ficam abertas a interpretações, por exemplo: Lúcia realmente casou com Pedro? Qual o significado da mulher inatual que vela o suposto corpo de Madame Clessi? Enfim, são questões para as quais, como leitores/espectadores, podemos apenas supor respostas. Talvez esteja aí uma forte marca da vida cotidiana dos personagens: deixar questões em aberto, questões que nunca voltamos a enfrentar.
Outro fato a ser citado é como são apresentadas as falas no plano da realidade. São rápidas, concisas, mecânicas. Vemos nelas uma certa crítica à nossa sociedade. Sociedade onde os relacionamentos estão cada vez mais artificiais e insossos. Relacionamentos que acabam gerando condições para que mais Alaídes leiam mais diários de madames Clessis. O que notamos na peça resenhada é uma personagem muito intensa que morre sufocada pelas moralidades da sociedade. E por conta dessa opressão busca refúgio em uma mulher livre. O próprio devaneio de Alaíde onde ela acredita ter matado Pedro pode ser tido como uma forma que ela encontra para se ver livre dessa sociedade moralizante. A figura de Pedro, o homem que prefere ler à dar atenção aos desejos de sua esposa, pode ser tida como uma metáfora da própria moral. Nesta peça Nelson Rodrigues adota uma postura muito pessimista em relação à sociedade. A figura do chofer que atropela Alaíde e não presta socorro também é bastante sugestiva. Podemos tê-lo como um homem absorto em seu mundo individual. Homem insensível produto de uma sociedade dissipada.
Toda a trama é passada em dois lugares do “mundo real”: um hospital e a casa de Alaíde. O hospital é o lugar onde Alaíde foi atendida após o acidente e acaba indo a óbito. A casa dela é o lugar onde acontece o ritual fúnebre – popularmente chamado de sentinela –, tanto que ela, em todo seu estado alucinógeno, chega a sentir o cheiro de flores, muitas flores, as que seriam do próprio funeral. E sua vontade de ser madame Clessi é tal que sua memória é constantemente confundida com a realidade. A casa onde Alaíde leu que o esquife de madame Clessi estava era repleta de flores, ou seja, existem passagens na peça nas quais Alaíde atribui aspectos de sua vida à de madame Clessi e vice-versa.
Enfim, para aqueles que procuram por uma obra crítica, realista e muito psicológica eis aqui a resposta: Vestido de Noiva. No entanto, cuidado! É alto o risco de uma possível dependência. As obras de Nelson Falcão Rodrigues possuem aquele algo a mais citado acima e, consequentemente, causam a procura de um ir além. Não é suficiente lermos apenas uma obra dele, somos envolvidos por todo seu pessimismo e mergulhamos cada vez mais no íntimo de suas obras, que é o dele mesmo. E transpassando o universo do deleite literário, a peça resenhada serve como material de pesquisa para estudiosos das letras, do teatro, da mente humana e de diversas outras áreas do conhecimento.
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Marília 29/08/2017

Sobre Nelson Rodrigues
A peça de Nelson Rodrigues é toda "arranjos interessantes". O autor adjetiva tempo e espaço, personificando-os. Vestido de Noiva recebe a denominação de drama psicológico, dentro da qual apresenta três planos cênicos: o plano da alucinação, plano da memória e o plano da realidade.
Ela acontece, no entanto, em sua maior parte, no plano psicológico (alucinação e memória) da personagem Alaíde, enquanto se recupera de de uma obra do acaso. Durante este tempo, a personagem é assombrada pelas lembranças de seu passado, que se entrecruzam com o passado de uma outra personagem, Madame Clessi, uma dama que vivera no final do século XX, a qual Alaíde havia conhecido, somente de ler, por meio de um diário que encontrou, antes de se casar, e que retratava a vida desta.
Os três planos da peça dialogam de forma incrível. Somos conduzidos ao conflito gerado pelo entrelaçamento dos acontecimentos, enquanto a personagem está em estado de inércia. Norteada pela obsessão, a protagonista pinta aos seus interlocutores um quadro conflitante sobre o que acontecera antes de encontrar-se nesta situação de imobilidade física, mas não psicológica. Quanto ao nome da obra, este nos oferece uma ideia do recurso da ironia, bastante utilizado pelo autor, que brinca com a palavra virgindade, e delineia uma estória repleta de exageros o que intensifica o drama.
Um fator de comunhão entre as peças, e que para esta leitora que vos fala torna-se elementar à que sejam exitosos tais textos, é o desfecho da estória que as enreda, o ponto culminante de todos eles desemboca nas últimas linhas, o que nos deixa presos à escrita até o finalzinho. Espetacular!
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Bertelli 28/03/2017

Para dar um nó na cabeça.
Essa é uma peça de teatro muito louca, acontece dentro da cabeça de uma mulher; os sonhos dela, as alucinações dela, as lembranças dela, e a realidade onde ela se encontra fisicamente.
É um vai e vem muito maluco, a leitura é um pouco atravancada, pois é como um quebra cabeça com as peças completamente soltas e o leitor vai encaixando-as ao longo da leitura, e assim que que se consegue fazer isso, a história revela desfechos surpreendentes, inacreditáveis. Muito bacana. Nelson Rodrigues é um pai para o teatro nacional.
Recomendo.
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isa.dantas 25/03/2017

Peça incrível, que mistura realidade, memória e alucinações, de personagens bastante intrigantes.
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Grazi @graziliterata 19/01/2017

Esse livro é uma peça de teatro, que conta sobre uma tragédia de duas mulheres. A peça é dividida em 3 planos: 1º plano - da alucinação, 2º plano - da memória e 3º plano - da realidade, contém 28 personagens.
A peça passa-se em 1943.
Nelson Rodrigues descreve até como tem que ser a reação de cada personagem em suas falas, como tem que ser o cenário, tudo direitinho. Perfeito para quem quiser fazer essa peça, não tem como ter dúvidas.
No começo você fica um pouco confusa, sem entender direito as coisas, mas depois que a personagem vai lembrando do que aconteceu, você entende tudo, e vai imaginando exatamente como é pra ser as cenas e o que ocorreu.
A única coisa que eu posso contar, é que se trata dessa tragédia, porque senão eu conto toda a história, e perde a graça, aí vocês vão brigar comigo por ter dado spoiler.
Essa peça faz parte do teatro completo 1: peças psicológicas, que inclui:
A mulher sem pecado;
Vestido de noiva;
Valsa nº 6;
Viúva, porém honesta;
Anti-Nelson Rodrigues.
É uma história meio doida, daquelas que você termina em um dia a leitura, mas vale a pena sim.

site: https://blogdietaecultura.wordpress.com/2017/01/19/nelson-rodrigues-vestido-de-noiva/
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 18/11/2016

Sem delicadeza
Sempre tive curiosidade com relação às obras de Nelson Rodrigues. Lembro de assistir à série A Vida Como Ela É..., baseada nos textos do autor, no programa Fantástico quando era criança – não era muito apropriada para a minha idade na época, mas abafa o caso. Quando comecei a ter contato com teatro, lá nos meus 13 anos, é que manifestei real interesse em conhecer as peças de Nelson Rodrigues, coisa que hoje, como estudante de teatro, passou a ser uma intimação.

Justamente por já conhecer a trama, ler Vestido de Noiva integralmente foi uma experiência marcada pela expectativa – lá nas alturas –, mesmo antes de iniciar a leitura. E preciso dizer que em nenhum momento me decepcionei.

A peça em três atos traz a história de Alaíde que, enquanto passa por uma cirurgia após ser atropelada, relembra a rivalidade com a irmã, Lúcia, de quem roubou o namorado, Pedro, com quem acabou se casando. Ao mesmo tempo, Alaíde fantasia um encontro com Madame Clessi, uma prostituta que fora morta por seu amante no início do século 20.

Escrita e levada ao palco pela primeira vez em 1943, sob a direção do polonês Ziembinski, Vestido de Noiva trouxe uma inovação para a época – a ação se divide em três planos diferentes, que se intercalam no cenário – e entrou para a história da dramaturgia brasileira, sendo um marco para o teatro moderno brasileiro.

O plano da realidade é aquele que orienta o leitor sobre os acontecimentos envolvendo Alaíde – o acidente no bairro da Glória, no Rio de Janeiro, e os comentários dos jornalistas, o hospital, a cirurgia. O plano da memória reconstrói o passado de Alaíde a partir de suas lembranças, especialmente a do dia de seu casamento, cujos acontecimentos já pressagiavam um futuro trágico. Certa névoa de confusão e suposições caracterizam esse plano, como por exemplo, a presença de uma tal Mulher de Véu, com quem Alaíde tem um conflito logo antes da cerimônia e que a persegue em diferentes momentos.

Já o plano da alucinação traz Madame Clessi como figura de destaque. Alaíde tomou conhecimento de sua existência por meio de um diário encontrado no sótão da casa de sua família, que no passado havia sido um bordel. Em sua fantasia, a prostituta a ajuda a recuperar momentos e situações perdidos em sua memória. Também neste plano existe a confusão – Alaíde revela em si a idealização e a necessidade de fuga e libertação, em contraste com uma realidade banal, até mesmo repugnante. Fatos e pessoas se misturam, e tudo segue uma razão diferente daquela da realidade.

Colocando em evidência a classe média carioca, em Vestido de Noiva – assim como em suas demais obras – Nelson Rodrigues é despudorado ao falar sobre família, adultério e casamento.

É num ambiente tomado pela hipocrisia que a ação tem lugar. Predominam a mentira, os desejos reprimidos e a obsessão; o autor não poupa – nunca! – nem mesmo as relações familiares, já que é no cerne da família que se revelam as traições e deslealdades de seus personagens.

Polêmico, psicológico e forte, tanto no conteúdo como na forma, Vestido de Noiva traz temas universais, esfregando-os na cara do leitor com uma delicadeza praticamente inexistente. É preciso despir-se de julgamentos excessivos e aceitar uma degradação que, se é velada na vida, aparece escancarada nas obras de Nelson. Essas manchas, alimentadas pela tragédia da vida, tomam proporções grotescas quando vistas de perto e fazem dos personagens seres tão humanos quanto nós. E de ser humano, ah!, disso Nelson entendia, à sua maneira e como ninguém.

LEIA PORQUE...
A segunda peça de Nelson Rodrigues marcou não apenas sua carreira como também a trajetória do teatro brasileiro. De grande intensidade e carga dramática, Vestido de Noiva revela pedaços da podridão humana – dela, nada sai incólume. Veja também 5 motivos para ler Nelson Rodriques.

DA EXPERIÊNCIA
Visceral e sórdido, do jeito que eu gosto. Fácil de ler, mas de digestão lenta – e muito proveitosa.

Depois da leitura, sabe o que aconteceu? Bateu uma mega vontade de ler a versão em graphic novel da história, com roteiro de Arnaldo Branco e ilustrada por Gabriel Góes, lançada também pela editora Desiderata/Nova Fronteira em 2013.

FEZ PENSAR
Nas discussões das aulas de História do Teatro – segundo um professor que tive, o teatro de Nelson Rodrigues não poderia ser chamado legitimamente brasileiro, uma vez que suas tramas não seriam mais que inspirações originadas das obras de Tennessee Williams, autor de Um Bonde Chamado Desejo. Não vou entrar no mérito da questão, até porque não tenho suficientes bases para tanto, mas é algo realmente interessante de ser debatido, não?

site: Livro Lab
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