Retalhos e Prefácios 17/06/2016
Brilhante!
Acredito que Nelson Rodrigues dispense apresentações, né? Autor nascido em Recife, que mudou-se - ainda criança - para o Rio de Janeiro, onde viveu por toda sua vida. Autor brasileiro e consagrado, o teatro entrou em sua vida por acaso, como o próprio contava. Em momentos de grande dificuldade financeira, viu ali uma possibilidade de sair da atual situação. Escreveu sua primeira peça, "A mulher sem pecado...", mas foi com "Vestido de Noiva" que o sucesso veio de fato, pois, o autor trouxe algo nunca visto no teatro brasileiro.
Com três planos simultâneos: realidade, memória e alucinação, Nelson iniciava o processo de mudança no teatro brasileiro.
E foi, justamente essa peça que escolhi pra ler...
A peça começa com sons que nos remete a uma cidade grande e, em seguida, uma cena de atropelamento. Neste primeiro ato, cria-se o plano de alucinação, e temos Alaíde chamando sem parar por uma tal Madame Clessi. Ela busca por vários personagens, e todos dizem que Clessi está morta, para desespero de Alaíde.
Madame Clessi era uma "mulher da vida", como chamadas na época em que a peça se passa. Na imagem e lembrança de Alaíde: uma mulher linda!
Por isso, custa a acreditar que a mesma tenha morrido "gorda e velha" como todos lhe dizem.
No plano da alucinação, Alaíde encontra-se em um bordel, onde vê todos os homens com o rosto de seu marido e, finalmente encontra Clessi. Ao mesmo tempo, no plano da realidade, é noticiado o atropelamento de Alaíde, e podemos contar com conversas dos médicos a respeito de Alaíde que está em cima de uma mesa de operação.
De volta ao bordel, Alaíde inicia um diálogo com Clessi e lhe revela ter assassinado seu marido.
A partir daí, inicia-se o plano de memória. Clessi tenta convencer Alaíde a lembrar-se de seu casamento. Ela lembra de uma mulher de véu, mas não quer identificá-la.
Já no segundo ato, no plano da memória, Alaíde e a "Mulher do véu" começam a discutir, já que a segunda parece querer destruir o casamento da primeira.
Aos poucos, descobrimos que a "Mulher do véu" trata-se de Lúcia, irmã de Alaíde - que namorou Pedro (que seria marido de Alaíde) no passado, e teve este "roubado" por Alaíde.
Finalizando, então, temos o terceiro ato, onde descobertas são feitas... A Peça toma rumos inesperados e uma conclusão que me deixou com vontade de ler todos os livros do autor que ainda não li.
Nada aqui é linear. Ao contrário, tudo se apresenta de forma caótica, com um esquema cronológico que prende nossa atenção e os três atos se misturam de forma a só contribuir com o "embaralhamento" do tempo da peça. E a única coisa que eu queria estar fazendo neste momento, era estar sentada em uma cadeira de Teatro, contemplando esta Peça!
Esta foi, sem dúvida, uma das resenhas mais complicadas de fazer... Não pelo livro/peça em si, porque este foi maravilhoso e de uma genialidade sem fim - que eu não poderia deixar de conhecer. Mas, simplesmente porque qualquer coisa a mais que eu relate aqui, virará um spoiler gigante, que vocês não merecem (e eu sou contra, rs).
Então pare tudo o que você está lendo e vá conhecer essa obra brilhante!