Leleka 28/09/2023
Realidade e ficção em um livro só
Em ?As Alegrias da Maternidade?, realidade se confunde com ficção. Tendo ela mesma vivido a realidade da Nigéria retratada no livro, durante a leitura do livro a gente se pega pensando o quanto daquilo realmente acontece.
Com passagens muito fortes que falam sobre a maternidade e como ela pode ser cultural, o livro é lento e doloroso de ler. Ao mesmo tempo em que percebemos o quanto Nnu Ego quer ser mãe - e aqui claramente percebemos o quanto é uma imposição social e cultural da Nigéria por ela habitada -, e o quanto sua falha nesse papel a afeta, percebemos como após ter seus filhos a sua vida muda (e nem sempre pra melhor). Acompanhamos as reflexões de Nnu Ego ao longo do crescimento de seus filhos e filhas, e à medida que um novo filho nasce, seguimos pensando em como ser mãe é algo que a leva do céu ao inferno em segundos. Se isso não é a maternidade em si, não sei o que é.
No fim, a maternidade de Nnu Ego nos mostra que ela é cheia de alegrias, sim, mas é também rodeada de solidão. Um livro de extrema reflexão pra todo mundo, mas principalmente pra quem deseja embarcar na jornada que é ter filhos.
4,5/5??
Trechos marcantes:
?Deus, quando você irá criar uma mulher que se sinta satisfeita com sua própria pessoa, um ser humano pleno, não o apêndice de alguém? Afinal, nasci sozinha e sozinha hei de morrer. O que ganhei com isso tudo? Sim, tenho muitos filhos, mas com que vou alimentá-los? Com minha vida.?
?Os homens nos fazem acreditar que precisamos desejar filhos ou morrer. Foi por isso que quando perdi meu primeiro filho eu quis a morte, porque não fora capaz de corresponder ao modelo esperado de mim pelos homens da minha vida, meu pai e meu marido, e agora tenho que incluir também meus filhos. Mas quem foi que escreveu a lei que nos proíbe de investir nossas esperanças em nossas filhas? Nós, mulheres, corroboramos com essa lei mais que ninguém. Enquanto não mudarmos isso, esse mundo continuará sendo um mundo de homens, mundo esse que as mulheres sempre ajudarão a construir.?
?Era verdade o que diziam, ela pensou, que se você não tem filhos, o desejo de tê-los acaba com você, e se tem, as preocupações acabam com você.?
?Alguns pais, em especial os que têm muitos filhos de diferentes esposas, podem rejeitar um mau filho, um amo pode rejeitar um criado perverso, uma esposa pode chegar ao ponto de abandonar um mau marido, mas uma mãe nunca, nunca pode rejeitar seu filho. Se ele for condenado, ela será condenada ao lado dele??
?A alegria de ser mãe era a alegria de dar tudo aos filhos, diziam.?