Neve

Neve Orhan Pamuk
Orhan Pamuk




Resenhas - Neve


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Mariana 07/01/2020

o que me aproxima de Deus é o silêncio da neve
Neve carrega a promessa de uma narrativa muito boa: numa cidadezinha no interior da Turquia, mulheres jovens se suicidam. Um poeta exilado político, que mora há anos na Alemanha, volta ao seu país na natal para o enterro da mãe e decide entender o que está se passando na pequena cidade das jovens suicidas.

"Não é todo mundo que está se suicidando, são só moças e mulheres", disse Ipek. "Os homens se dedicam à religião, e as mulheres se matam."

O poeta Ka descobre que o diretor do instituto de educação da cidade decidiu banir os mantos que as mulheres de tradição islâmica usam das escolas. Para acessarem as escolas, as moças devem descobrir a cabeça e mostrar seus cabelos. Esse é um dos motivos, o livro aponta, da insatisfação das jovens com a própria vida.

"... mas a verdadeira questão é saber quanto sofrimento causamos às mulheres do povo quando transformamos os mantos em símbolos e usamos as mulheres como fantoches no jogo político."

Até aí ok, o livro traz uma discussão super interessante: a Turquia, um dos países mais ocidentalizados do Oriente Médio, vive um conflito constante entre religiosidade X secularismo, entre modernidade X tradição.

A ideia de que se ocidentalizar significa, necessariamente, perder a fé em Deus permeia todo o livro. Permeia o próprio coração do personagem, que se encontra em conflito interno sobre sua fé em Deus, apesar de ser um intelectual ocidentalizado que viveu boa parte da sua vida na Europa.

"... naquela parte do mundo a fé em Deus não era coisa que se alcançasse engendrando pensamentos sublimes e estendendo a própria capacidade criativa ao seu limite máximo; tampouco era uma coisa que se podia alcançar sozinho; acimma de tudo significava juntar-se a uma mesquita, fazer parte de uma comunidade."

É também muito interessante a discussão sobre países pobres conviverem com certo sentimento de inferioridade, de modo que suas artes e sua cultura só tenham qualidade suficiente se encaixados no formato europeu. Vivemos e vemos muito disso por aqui no Brasil também.

"Na maioria das vezes, não são os europeus que nos depreciam. O que acontece quando olhamos para eles é que nós nos depreciamos."

Apesar das boas discussões, o livro fica só na promessa. A narrativa tem diálogos pobres e o personagem principal é decepcionante. Um homem solitário, com questões pertinentes a serem resolvidas, é também carente por um amor (freudianamente materno e esquisito) que encontra na bela Ipek, sua antiga conhecida dos tempos de universidade. Sua paixão pela mulher, que ele declara como amor profundo e absurdo, me parece rasa e motivada unicamente pela atração sexual que sente por ela. Sua insegurança em relação à ela é tamanha que há um momento em que ele pede para trancá-la em um quarto para que ele se sinta seguro que ela não buscará um ex-amante. Bastante triste e pobre essa construção.

De forma geral, é um livro com discussões interessantes mas cheio de pretensão que não chega a lugar nenhum. Não me deu sentimento de conclusão da discussão dos mantos (com um pretenso feminismo que, no livro, não nos diz nada), nem sei bem a mensagem que o livro quis nos passar com a história de Ka, Ipek, Kadife e todos os outros personagens. Pareceram vazios numa visão global. Enfim, foi um livro que me custou terminar e portanto não o recomendo.
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Higor 23/12/2019

'Lendo Nobel': sobre o choque entre política e religião
Depois do maçante ‘O castelo branco’, eu precisava de outro livro de Orhan Pamuk para superar minhas expectativas, ou atestar que ele não era pra mim. Sem rodeios, atribuí a responsabilidade para seu magnum opus, ‘Neve’, com capa bonita e nomeado pelo autor como seu “único livro de cunho político”.

Para minha surpresa, no entanto, apesar de ser seu livro mais famoso, ‘Neve’ é um livro com um número surpreendente de abandonos e resenhas negativas – mais do que eu esperava encontrar, visto que eu imaginava ter uma fama diferente.

A complexidade e elegância da escrita de Pamuk, conhecida em ‘O castelo branco’ se faz presente, embora muito mais lapidada; enquanto lá era apresentada de maneira corrida e apressada, aqui não há o menor receio em detalhar o que seja, tanto que, enquanto nas menos de 200 páginas de ‘O castelo branco’ são passados mais de 20 anos, ‘Neve’, com suas quase 500 acontece em três dias.

O poeta Kerim Alakusoglu, estilizado como Ka, volta para Istambul para o enterro da mãe, após 12 anos exilado em Frankfurt, Alemanha. Sua atenção é voltada, no entanto, para Kars, uma cidade, uma cidade onde o suicídio de jovens garotas muçulmanas é frequente.

O que seria uma leva de pesquisas para uma reportagem internacional se torna algo muito maior: em decorrência de uma tempestade de neve, a cidade fica ilhada, ninguém sai e nem entra, e por conta desses pequenos eventos um golpe militar local é desencadeado.

Não demorou muito para que tanto a trama, quanto a escrita de Pamuk tenham me cativado de vez. Enquanto muitos apontaram a escrita como densa e cansativa, talvez por conta da riqueza de detalhes, eu apenas me sentia imerso na história e temeroso do que aconteceriam tanto às jovens, quanto a Ka e a própria cidade nesse intervalo de três dias.

Com um forte embasamento político e religioso, o que pode vir a incomodar alguns leitores, ‘Neve’ questiona sobre a interferência religiosa em um Estado, assim como o posicionamento do Estado ante situações religiosas, se uma se sobrepõe a outra, ou se ambas devem se complementar. O choque entre as civilizações oriental e ocidental, tema da vida de Pamuk, se faz presente aqui também, na persona do protagonista, turco que renegara o país para se exilar na Alemanha, causando fúria dos nativos com seu retorno.

No entanto, nem tudo são flores: embora complexa e refinada, a narração de Neve, com seu narrador onipresente, tem certos furos que não convencem, trazendo, ao invés disso, certos questionamentos. É o que faz com que o livro não ganhe nota máxima.

Mesmo com erros até gritantes, ‘Neve’ é um livro incrível sobre temas árduos, que muitos ignoram ou preferem não encarar. Situações gritantes de intolerância que acometem um país do outro lado do mundo, mas que, volta e meia, são vistos por aqui.

Este livro faz parte do projeto ‘Lendo Nobel’. Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
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ElisaCazorla 14/08/2019

Por que esse autor ganhou um Nobel de literatura?
Esse não é o primeiro autor ganhador de um nobel de literatura que leio. Quando lemos um García Marquez, um Saramago, um Coetzee, um Vargas Llosa, um Mo Yan, Le Clézio, Alice Munro, e até mesmo uns que não gostei muito como Toni Morisson, Patrick Modiano e Ishiguro, conseguimos sentir a força da obra e sua importância que justificam um prêmio tão importante.
Orhan Pamuk entrou na minha lista de leituras justamente porque é um vencedor de um nobel. Li Meu Nome é Vermelho porque esse título é maravilhoso - como não ler? - e detestei. Fui para Neve para dar mais uma chance e por ser uma de suas obras mais aclamadas. Detestei novamente.
Continuo com a dúvida sobre os motivos que deram ao Pamuk esse prêmio grandioso. Já fiz uma resenha sobre Meu Nome é Vermelho então falarei apenas das minhas impressões de Neve - que, honestamente, não são muito diferentes do anterior.
O protagonista é um ser desprezível. O que não fica claro é se o protagonista é em si uma crítica a tudo de ruim que ele representa ou se o autor quis colocá-lo como um herói, o que seria medonho! Ka é desprezível! Egocêntrico, mentiroso, egoísta, machista, arrogante, imbecilizado, cansativo, desprezível!
O tema do livro é interessante mas o autor passa por cima de tudo o que poderia ser bom nessa história: o pensamento religioso, a lógica fundamentalista, o pensamento de um terrorista, suicídio e o pensamento ocidental e o pensamento oriental.
A maior importância deste livro está em seguir Ka, o protagonista desprezível, percorrendo uma cidade fantasma e fria isolada pela neve enquanto recebe suas inspirações e para em qualquer lugar para escrever seus poemas num caderno verde. São inspirações que chegam em momentos tão descabidos que chegam a ofender o leitor, por exemplo, quando Ka está sendo levado pelo exército para dar explicações sobre sua relação com um terrorista que está escondido e, no caminho, ele pede para que o camburão pare num café para que ele possa escrever o seu poema - COMO ASSIM???
Ao invés de entrarmos no triste universo das garotas que tem se suicidado e nesta cidade que sofre com uma democracia falha e delicada e que tenta se proteger de terroristas fundamentalistas que querem instalar uma teocracia, ficamos percorrendo o nada com um turco metido a poeta que só quer escrever os seus versos e seduzir as mulheres para o seu prazer próprio sem se importar um pouco com a desgraça que assola aquele lugar e a miséria que aquelas pessoas vivem e depois voltar para a Alemanha.
Ka ignora toda a tristeza que o cerca. Ele só quer escrever poesias.
Não consigo nem descrever o absurdo das cenas que acontecem no teatro. Para mim as cenas no teatro são ridículas e descabidas. Enfim, leitura que não vale a pena. Um autor que não vale a pena.
regifreitas 15/08/2019minha estante
eu cheguei à conclusão que essas premiações nem sempre são um bom parâmetro para se avaliar uma obra!

Mondiano eu detestei! Toni Morrison eu achei apenas mediana, mas fiquei frustrado pois tinha uma expectativa muito alta em relação a ela. o mesmo aconteceu com a Svetlana. até gostei do livro dela, mas não achei tão surpreendente a ponto de receber a tal premiação. é um trabalho excelente como jornalismo, mas como autora... ela só fez compilar os depoimentos! mas, para ser justo, só li uma obra de cada um desses autores; tenho que ler outras coisas para ter uma opinião definitiva.

o MEU NOME ? VERMELHO gostei muito na época que li. até está na fila de releituras, mas o tamanho tem me feito protelar até agora. esse NEVE não achei tudo isso, mas também não desgostei a ponto de odiar.


ElisaCazorla 16/08/2019minha estante
Concordo com você, Regi. Acho que temos a mesma sintonia em vários livros que lemos :)


Marta Skoober 17/01/2024minha estante
Confesso que a sua resenha me deixou mais curiosa do que se fosse uma resenha positiva. Se o exemplar ainda existir na biblioteca tentarei ler um dia.


Marta Skoober 17/01/2024minha estante
Segundo o G1 a Academia Sueca justificou a premiação assim: ". O júri disse que Pamuk, "na busca pela alma melancólica de sua cidade natal, descobriu novos símbolos para o combate e a mistura de culturas".12 de out. de 2006




LER ETERNO PRAZER 24/05/2019

Neve conta história de Ka, um poeta natural da cidade de Kars, interior da Turquia, em sua volta para casa após anos morando na Alemanha. O retorno, pelo menos a princípio, é justificado por seu interesse em escrever e estudar sobre um grande número de suicídios de jovens islâmicas ocorridos na região e acompanhar o precesso da eleição para prefeito da cidade. Chegando em sua cidade-natal, uma grande cai nevasca e todas as estradas e acessos precisam ficar fechadas Nesse ambiente nada hospitaleiro para o quase-estrangeiro Ka, forma-se um ambiente do que acontecia na Turquia na época. "Neve" se passa na década de 90, quando vigorava a obrigação das mulheres usarem as cabeças descobertas em determinados lugares. Dessa exigência surge a onda de suicídios em Kars: impedidas de usarem o véu, as mulheres islâmicas preferem dar fim à sua vida que se exporem às impurezas do mundo.Estimulados pelo isolamento causado com a nevasca, facções políticas de oposição se manifestam dentro da cidade. Enquanto uma apresentação cultural é feita no teatro municipal, um golpe de estado se instaura. A diferenca entre ficção e realidade fica pouco aparente, principalmente porque Kars é, nesse momento, uma representação da angústia que acomete o país inteiro.Curiosamente, o conflito trazido pelo golpe tem um poder revigorante sobre Ka(nosso personagem) . É nesse cenário desolador e conflitante que ele reencontra o grande amor de sua vida e percebe que pode ser feliz novamente. Mais que isso, Ka descobre que consegue voltar a escrever seya poemas Durante anos o escritor sofria de um forte bloqueio criativo. Chegando em sua cidade-natal, tudo muda: as poemas vêm em fluxo, algumas vezes uma atrás da outra e nos momentos mais diversos. Neve é, também, o nome de um dos poemas que Ka escreve ? e que jamais poderemos ler, porque não aparecem em momento algum transcritos no livro de Pamuk. Neve é um livro que envolvi muitas camadas, temos uma luta por direitos das mulheres, romance, política e religião, tudo traçado com mestria de Orhan Pamuk.
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Fernando 02/04/2019

Neve
O livro nos apresenta o conflito religioso islamistas com o Estado, numa pequena cidade na Turquia. E um ótimo livro que nos prende de interesse até o seu final.
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PARA TODOS OS LEITORES 30/01/2019

Bem mais ou menos...
Neve. Autor: Orhan Pamuk.

Sei que resenhas não começam assim, seguindo as regras de nossa língua Portuguesa.. ( mas aqui não é para fazer resenhas tradicionais)

Então, Preciso urgente de pessoas que também leram o Neve para conversar rs.

Quando me lembro desse livro , penso alguém me falando: " Oi? Você não gostou de Neve, do Orhan, Ganhador do prêmio Nobel de literatura? Olha, então você não leu direito.. lê dinovo.! ?

Bom, vamos lá.... Contando um pouco da história:

Este livro conta a história de Ká, ( poeta que precisa de uma inspiração para criar novos textos) ele retorna de Frankfurt para sua cidade Natal, Istambul, com o intuito de verificar a onda de suicídios de jovens muçulmanas.

Durante sua estadia, em Istambul a cidade era acometida por uma forte nevasca e é neste cenário que temos um dos elances do livro: O romance entre Ka e Ipek, sua colega de infância ( e rola muita coisa por aí).

Não só de romance vive esse livro, ele possui um viés político com um golpe de estado e traços culturais mostrando costumes e forma de viver do povo turco.

É uma leitura linear, densa, que não emplaca, desde o início é extremamente massante.

Por tratar-se de um livro escrito por um ganhador do Nobel de Literatura, confessamos que não esperávamos um livro tão repetitivo.

Tudo bem, me julguem!
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Ane Vasconcel 13/07/2018

A Neve de uma cultura
Um dos melhores livros que já li. Tocante e revelador, com uma representatividade cultural perceptível a cada página.
Gill Fidelis 15/07/2019minha estante
Belíssimo!


Ane Vasconcel 18/07/2019minha estante
Também, achei! Quero reler após um tempo. :)




Nini 13/11/2017

Religião, Política e Poesia
"O silêncio da neve, pensou o homem que estava sentado logo atrás do motorista de ônibus. Se aquilo fosse o começo de um poema, poderia chamar o que sentia em seu íntimo de o silêncio da neve."

Este livro é com certeza um dos melhores que já li em toda a minha vida. A narrativa é sensível, densa e com alguns toques de melancolia. Ka é um personagem profundo e um tanto controverso com quem me identifiquei logo de cara. O poeta solitário com sua visão peculiar da vida, alguém que encontra um mundo suficiente para viver em seu próprio coração. Seu passado de engajamento político parece agora distante, soterrado pela angústia do desterro e ele agora procura na vida (e no regresso à terra natal) o que ela proporciona de mais simples: um amor para amar. É isso que o absorve enquanto reviravoltas políticas redemoinham em torno, inevitavelmente sugando-o para o olho do furacão. Sua ingenua paixão por Ipek foi pra mim muito tocante; me peguei torcendo intensamente pelos dois - não pelos dois, ou por achar que nasceram um pro outro, mas por Ka, por achar que ele merecia ser feliz.
Acho estranho essa torrente de resenhas negativas a respeito de um livro que achei magistral em todos os aspectos. Sua leitura me prendeu do início ao fim e depois de terminada me deixou de ressaca, de tão intensa que foi a experiência.
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Mauricio (Vespeiro) 31/08/2017

Advertência: Você terá poucas chances de ler um livro tão chato quanto este!
Escolhi “Neve” porque quis ler uma obra de escritor contemporâneo ganhador do Prêmio Nobel de Literatura (2006). Imaginava que isso me garantiria qualidade no estilo, na narrativa e, de quebra, uma boa história. Errei feio. Orhan Pamuk, o laureado autor, escreveu um livro longo, chato demais, arrastado, muito mal escrito e de cunho essencialmente político, grosseiramente maquiado por um romance conduzido por personagens insípidos. Eu não conhecia o trabalho do escritor turco. Trata-se um militante político (daqueles insuportáveis) que faz das suas obras bandeiras esfarrapadas em defesa de causas específicas (desconfio que por exclusiva autopromoção). Processado (em 2005) no próprio país por “insultar e desacreditar a identidade turca”, foi ameaçado por muçulmanos e trabalhou nos bastidores para que saísse da perigosa obscuridade. Conseguiu, através de forças políticas de oposição ao governo, a indicação e consequente honra do Prêmio Nobel. Não pretendo entender quais caminhos o levaram a tal êxito, mas desconfio que o Nobel (um conjunto de instituições suecas e norueguesas) pode ceder a influências políticas, mais sedutoras que efetivamente a qualidade literária. Enfim... A melhor parte do livro foi conseguir terminá-lo (depois de tê-lo interrompido para ler “Dunkirk”). Resta-me agora esquecê-lo.

“Neve” conta a história de Ka, um poeta turco, exilado em Frankfurt (Alemanha), que volta a Istambul (Turquia) para o enterro da mãe. Lá consegue ser contratado para ir até a pequena Kars, cidade fronteiriça à Armênia, para investigar e escrever sobre uma série de suicídios de jovens islâmicas. Na verdade, mostra-se um pretexto para procurar Ipek, antiga colega de universidade por quem nutre algum interesse. Chegando lá, uma nevasca se intensifica, fechando as saídas da cidade por três dias. É neste feriado forçado que tudo acontece. Ka apaixona-se por Ipek, envolve-se com a conturbada política local justamente no momento que uma trupe de atores de teatro prepara um golpe para tomar o poder da cidade.

Se a narrativa de Pamuk tem qualquer elegância ou riqueza, não será encontrada neste livro. Uma atenuante seria a possibilidade (justificável) de esta qualidade ter sido perdida em meio às traduções, uma vez que a obra foi escrita em turco, uma língua bastante complexa. No entanto, esta desculpa é inaplicável à horrível construção dos personagens e às quase 500 modorrentas páginas em que eles se perdem. A começar pelo narrador da história: trata-se do próprio autor, Orhan, incluindo-se como personagem. Um despropósito detestável que nunca vi dar certo! (Aceito indicações de sucesso.) Para piorar, é um narrador onipresente, o que seria impossível, pois ele escreve o livro baseado nas anotações póstumas do personagem principal. Aliás, o protagonista Ka é deprimente. Um homem infantilizado, inseguro, pouco refinado, em crise existencial, personalidade dúbia, índole pouco confiável, mas que é idolatrado e imaculado pelo narrador. Não obstante, “aprendi” neste livro que os homens turcos são chorões e se apaixonam por qualquer mulher. Sendo ela bonita, então vale tudo. Tudo mesmo. Ka chega a dizer que é melhor não conhecer uma mulher para casar-se com ela. Como assim? O autor trata da questão do uso dos mantos para cobrir a cabeça de forma superficial, filosofia rasa, sendo que é um tema que permeia praticamente toda a história. As personagens femininas não conseguem salvar o elenco. Cientes da sua reafirmada beleza valem-se apenas desta virtude para conquistarem e segurarem seus homens. O autor conta uma história sobre três dias na vida de um personagem tosco, descrevendo eventos no mínimo estranhos. Uma peça de teatro (transmitida pela TV para toda a cidade) que pretende ser um golpe político não parece subestimar a inteligência de uma população inteira? No meio disso, romances, traições, mentiras, religiosidade se contrapondo ao mundo secular, tudo colocado nos vagões de um trem descarrilhado. Um turbilhão de diálogos com inúmeras opiniões sobre os assuntos tratados, mas praticamente nada fica interessante, pois são proferidos por pessoas de pouca ou nenhuma cultura. Um sonho febril onde dezenas de personagens com ações risíveis dão o ar da graça e nenhum cativa.

Se você acha que a política brasileira é uma bagunça, ainda não conhece a turca. Kars resume um microcosmo da Turquia atual, uma profusão de conflitos raciais, políticos, sociais, religiosos e étnicos. Por que Pamuk escolheu esta cidade como cenário? Basicamente porque é um barril de pólvora cercado por gasolina. E onde poderia (tentar) ilustrar com mais propriedade as questões curdas (sua bandeira mais saliente), já que esta etnia sem país forma 40% da população de Kars (a cidade é real). Porém, as motivações dos personagens são tão obscuras e inexplicáveis que, apesar de reconhecer a complexidade daquela sociedade, nada do que foi levantado conseguiu me sensibilizar.

O texto é muito pobre e repetitivo. A ode à neve é de matar de tédio. Nos primeiros 16 capítulos (de 44), o protagonista devaneia sobre a neve de oitocentas formas diferentes. E mais oitocentas iguais. Peguei raiva da inocente música “Roberta”, de Peppino Di Capri, de tanto que ela é citada no livro, sem propósito algum, ultrapassando as barreiras do ridículo. O autor enrola, enche linguiça com gordura e jornal, somando páginas e mais páginas sem nenhuma razão. Personagens completamente inúteis aparecem para desaparecerem logo em seguida. Cada vez que alguém saía para um passeio pelas ruas de Kars, invariavelmente passava “sob os oleandros”, via as crianças brincando com bolas de neve, entrava numa casa de chá e enchia a cara de raki (bebida típica da Turquia). Mas muito pior foi ter que ler a descrição de cada endereço, de cada nome de rua da cidade, seus cruzamentos, dezenas de vezes, sempre que alguém estava indo de A para B, como se isso interessasse a alguém que não é de Kars e nem pretende visitá-la nesta vida. Por fim, o protagonista sofre da síndrome de incontinência poética. Seja no meio de um tiroteio, de uma guerra civil, na chuva, na neve, no momento em que a mulher da sua vida lhe diz “eu te amo”, o cidadão para tudo, pega seu bloquinho de anotações e começa a escrever uma inadiável e inevitável poesia. Desculpem-me, mas não pude deixar de associar com diarreia. E foram 19 durante todo o livro. Sempre de forma súbita. Houve quem reclamasse, mas - acredite - nenhuma delas é transcrita no livro. AINDA BEM! Seria o cúmulo ainda ter que ler poesias de um personagem tão insosso.

Nota do livro: 5,17 (2 estrelas).
Cezar 02/10/2017minha estante
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Cezar 02/10/2017minha estante
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JANAINA GUSMÃO 10/12/2018minha estante
Já li mais de 200 páginas e não tô suportando mais! Muito chato e arrastado.


PARA TODOS OS LEITORES 30/01/2019minha estante
Minha vontade era copiar toda a sua resenha e colar nos postes RS.... Eu confesso que tenho a mesma sensação!!! Deixou a desejar... Fiquei bem decepcionada.


Mauricio (Vespeiro) 30/01/2019minha estante
Também conseguiu se arrastar até o final, sob os oleandros e ao som de "Roberta"? Se ainda fosse um livro de 100 páginas...


Duchesse 02/03/2019minha estante
Nossa, achei exatamente a mesma coisa! Livro chatíssimo! Impressão de que estava perdendo tempo... Parabéns por ter conseguido chegar até o fim; eu não consegui...


Mauricio (Vespeiro) 03/03/2019minha estante
Ainda não sei se há méritos em concluir um livro ruim. O tempo perdido não volta mais, mas eu tenho costume de ir até o fim, mesmo que seja para aprender com os maus exemplos. Do Orham Pamuk não tenho mais vontade de ler nem a orelha de outros livros.


Duchesse 03/03/2019minha estante
Eu não consegui chegar até o fim, mas também não compro mais nenhum livro do Orham Pamuk. Tentei ler ?Istambul? e achei a mesma chatice...


PARA TODOS OS LEITORES 06/03/2019minha estante
E o Meu nome não é Vermelho? Será que é melhor?


Duchesse 06/03/2019minha estante
Nao li . Vou procurar para ver se desfaço (ou confirmo) essa má impressão


Mauricio (Vespeiro) 06/03/2019minha estante
Peguei birra até com estilo (chatíssimo) da narrativa. Eu não perco mais meu tempo com Orham Pamuk. Talvez alguém que se interesse muito pela cultura turca possa aproveitar um pouco mais. Não é o meu caso.




Marina.MecabA 14/04/2017

Neve
Aquele tipo de livro que me prende, com cenas e personagens bem caracterizados e um suspense que te surpreende.
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Lindsey 18/03/2017

Revelador
Esse é aquele tipo de livro que você escolhe pela capa e que fica mega feliz pela história também ser ótima. A trama fala de Ka, um poeta turco, que logo após voltar pra casa, depois de realizar uma pesquisa/investigação sobre uma onda de suicídios entre jovens muçulmanas numa vila, se vê preso na cidade por conta de uma grande nevasca. Durante esse isolamento ele fica em meio a um golpe militar, recheado de conflitos raciais, políticos e étnicos. É um romance com fundo histórico tão bem escrito que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
* Confira minhas outras resenhas no Instagram @livro100spoiler

site: https://www.instagram.com/livro100spoiler
Guilherme 27/07/2017minha estante
Romances não ganham o prêmio Nobel, autores que ganham.




Fabio Shiva 26/02/2017

o canto da Musa
O que primeiro me interessou na leitura desse livro foi o fato do autor, Orhan Pamuk, ter sido laureado com o Nobel de Literatura em 2006. Depois que comecei a ler, vi que o livro é uma bela oportunidade de conhecer um pouco sobre o islamismo e os conflitos a ele associados. Mas o grande proveito que tirei de “Neve” foi mesmo o mergulho nas emoções e motivações de um poeta em pleno processo de criação!

O livro é escrito com muita sensibilidade e criatividade, com o uso de recursos como saltos temporais na narrativa e a inclusão do próprio autor como personagem. A narrativa tem um sabor inegavelmente “estrangeiro”, fora do padrão a que eu pelo menos estou mais acostumado, o que por momentos foi muito interessante, mas que também torna a leitura um pouco cansativa às vezes. E os assuntos abordados também ajudam a provocar essa estranheza: boa parte da história gira em torno de jovens que se suicidam porque o governo as proíbe de usar o manto em escolas e outros locais públicos...

Esse livro trará deleite especial para poetas e para os que amam a poesia. O autor coloca de forma muito vívida o processo de “inspiração poética”, quando o poeta “ouve” o poema, mais do que o cria, a ponto de ter a sensação de que simplesmente foi o anotador do poema. Senti isso muitas vezes, graças à Musa! Bem diferente é o processo da prosa, que exige um trabalho disciplinado e até meio burocrata, “de sentar para escrever todos os dias à mesma hora”, como bem coloca o autor.

Uma bela e inspiradora leitura, muito atual!


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Ferreira.Souza 12/01/2021minha estante
belíssimo, uma visão da intorecia
belíssimo


Fabio Shiva 15/01/2021minha estante
Lindo mesmo!




Julio.Argibay 16/02/2017

Drama etnocultural
Um drama ambientado numa pequena, pobre e fria cidade turca, onde os cidadãos estão envolvidos numa problematica social envolvendo diversas culturas, religioes e etnias e lutam pela soberania de suas ideias, numa hostilidade q já dura séculos.
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Rub.88 13/02/2017

Hijab
Nunca entendi a neve. Raspas de gelo caindo do céu que se acumulam nos telhados, ruas e calçadas e não derrete de imediato. Não sei se faz barulho durante a queda dos flocos ou se deixa algum cheiro no ar. Só posso imaginar o frio que deve fazer nos lugares em que esse fenômeno natural acontece com frequência, em certos períodos do ano.
No romance Neve de Orhan Pamuk não é a baixa temperatura que paralisou a vida do personagem principal da estória, mas o medo de tomar um partido. Exilado na Alemanha, o poeta Ka aproveita a sua volta a Turquia para o enterrar da mãe, e vai visitar uma cidadezinha isolada com um dado estatístico incomum. Um serie de suicídios de jovens mulheres em que o motivo alegado por todos é a recusa delas de tirarem o véu islâmico, símbolo politico contra o governo.
Porem Ka pouco se importa com isso, o que ele quer é sair do travamento em que a sua poesia está e reencontrar um mulher da sua juventude, que ele soube que esta divorciada no momento.
Assim que ele chega à cidade uma nevasca bloqueia as estradas, isolando o lugar. Cenário perfeito para um pequeno golpe/revolução de estado, as vésperas de uma eleição municipal.
Todos esses elementos, somando a sua paixão instantânea pela mulher separada do ex-marido que é o candidato a prefeito da cidade, atiçam a sua ferve poética e a cada momento ele para anotar os poemas que lhe vem chegando num caderninho verde. Encontros secretos, e nem tão secretos, com facções politicas, com militares, com religiosos, com a impressa, com o serviço de segurança do estado, com artistas de teatro, com estudantes rebeldes, com escritores e poetas apaixonados, com o amor definitivo da sua vida. O romance é o entrelaçamento dessas reuniões. Um sobe e desce de porões e vielas. Um entra e sai do hotel onde ele está hospedado, e de varias paradas nas casas de chá da cidade.
O escritor conta tudo isso como que imaginado o que Ka, que seria seu amigo na vida real, fez nos dias que passou na insurrecta cidade onde acaba luz a todo momento, não para de nevar e que ha escutas, espiões e gente seguindo gente a todo o instante. Pamuk, a partir de diários, cartas e alguns testemunhos, vai reconstruindo as andanças do poeta turco em Frankfurt e na sua volta a Turquia.
A neve do titulo me pareceu uma alegoria do estado de animo do personagem em relação à confusa situação filosófica e pratica que o seu país natal atravessa há décadas. Ser europeu e secular ou islâmico e adotar alcorão como lei maior. Como disse que não compreendo como uma partícula cristalizada de agua, que é única e sem par, pode flutuar, essa minha incompreensão não afeta de modo algum que tal coisa exista e seja perfeita. Descrença não impede que se possa se maravilhar e continuar olhado e sentido, mesmo que não possa explicar.
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Guy 14/12/2016

Nem a neve esmorece a força da mulher turca
Uma surpresa pela complexidade de fatos numa cidade com geografia, religião e geopolítica diversas e mostrando quão poderosas e resolutas são as mulheres enquanto os homens ficam se vangloriando entre preconceitos políticos e religiosos e a ociosidade. Como três dias de golpe de estado podem mudar tantas vidas.
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