will 08/10/2022
O fim de Eddy
O Fim de Eddy é o relato visceral de um jovem nascido e criado no interior da França, em uma comunidade regida por normas patriarcais e machistas. Uma narrativa autobiográfica tocante, crua, poética, entregue. Uma história que atravessa o leitor com palavras afiadas, precisas, que objetivamente nos coloca em um mundo de incontáveis brutalidades que deixarão marcas para a vida.
Contrariando tudo que esperavam dele - que fosse durão, "macho" - Eddy sofreu inúmeras violências: na escola ou em casa, se via obrigado a moldar-se, a fingir ser alguém que não era, a reinventar uma existência para que ele próprio, o pequeno e frágil menino que queria mais dançar ballet que jogar futebol. Essa sua maneira de existir que cerceava sonhos, aniquilava o brando da infância, foi aprendida como se aprende a andar, de forma tátil e quase que obrigatória.
Ele aprendeu a sobreviver desde sempre. A engolir ameaças, a se calar, aprendeu a reprimir desejos, e num ato desesperado de se salvar, aprender a reproduzir essas violências nele e em outros.
Com uma narrativa sufocante, passagens precisas e num tom confessional, o autor nos leva a seu mundo, passeia conosco pela sua infância, suas relações, por suas descobertas, sua adolescência, seus medos constantes, sua pobreza.
Ao tempo em que expõe todas as fragilidades, preconceitos - de todos os tipos - e disparidades sociais da comunidade em que vivia.
Não é um romance fácil, mas a leitura nos torna pele. Pontuada por pouquíssimos diálogos, quase sempre temos a sensação de que estamos dentro da cabeça desse narrador angustiado, que encontrou na escrita uma maneira de cicatrizar.
Provoca, causa repulsa, mas permite que sejamos ele, nos põe em contato com o âmago de sua humanidade. Também tem muitos gatilhos, então é preciso lê-lo cautelosamente. Não é fácil, a narrativa pede pausas para respiros, mas é necessário entregar-se para que se compreenda.