bobbie 09/06/2020
Uma leve decepção.
Encontrei este livro em uma de minhas "escavações" pela Amazon, em busca de mais um exemplar para ajudar a tornar meu isolamento social menos intolerável. Imediatamente me senti atraído por ele, pela série de elogios da crítica, a quantidade de exemplares vendidos estampada na capa, pela descrição da história, uma espécie de bildungsroman (romance de amadurecimento) de um menino homossexual francês. Ainda melhor, uma história baseada na vida do autor. Minha fome de pesquisador doutor em literatura com ênfase em sexualidade e estudos de gênero me fez comprar o livro imediatamente. Li-o em dois dias. Leitura fácil, fluída, porque rasa e mal escrita. O romance autobiográfico de estreia do autor é um caldeirão de assuntos e um misto de falhas narrativas e linguísticas. Começa focado na homofobia violenta sofrida pelo menino, já em tão tenra idade (aos 10 anos), mas de repente se perde num livro sobre as dificuldades financeiras de uma família de classe baixa num vilarejo da França. Eventos são introduzidos e esquecidos - do prego que furou o pé do protagonista e deu início a uma infecção potencialmente séria, alguém se lembra? - dados são apresentados de maneira confusa (num momento ele termina um malfadado relacionamento com Sabrine e, no parágrafo debaixo, a menina voltou a ser Laura, uma namorada anterior?), a cronologia do livro é confusa (Eddy parece ter 10 anos durante muitos anos), a configuração dos diálogos é confusa e de péssima formatação, o uso da língua é simplista, com orações coordenadas em sua maioria e, quando subordinadas, não parecem ser completadas. Há também tramas desnecessárias - o primo que foi preso, para quê? Apenas uma digressão absolutamente descartável. O valor da obra, contudo, está, em seu relato de ódio aos homossexuais, ao racismo do pai do menino, e da ainda mais grave homofobia internalizada. Quando criança, em um mecanismo de autodefesa, não são raras as vezes em que Eddy demonstra ódio e desrespeito por outros gays. Por fim, o próprio título do livro me parece confuso: O fim de Eddy é absolutamente misleading: leva a noções prévias que não se concretizam de maneira nenhuma, no desfecho do romance.