Vitória 22/11/2022
Sempre pensei que começaria a ler as obras da Jas por alguma história de máfia, mas olha aqui eu vindo falar de um livro que, apesar de ter um protagonista masculino que me custou vários panos, não é dark. Essa foi uma leitura que fiz junto com uma amiga, bem estilo buddy read, e tenho que dizer que a experiência foi completamente diferente à de ler sozinha. Foi maravilhoso ter os meus surtos junto com outra pessoa, e acho que isso também contribuiu pra que eu percebesse coisas na trama que não teriam chamado a minha atenção se fosse só eu e o Kindle.
Eu amo um romance regionalista, apesar de ter lido pouquíssimos. Talvez isso seja resultado da minha paixão de anos por novelas rurais, porque as duas coisas acabam me passando sentimentos parecidos. Aqui a Jas sabe muito bem transmitir o ambiente da fazenda, dos seus problemas e suas relações de trabalho, e da cidade pequena, onde todo mundo se conhece e a fofoca rola solta. Ainda temos a cultura cigana inserida no enredo por meio da Estela, e gostei desse aspecto, a única história que eu tinha lido até então que tratava desse assunto era a série dos Hatthaways, da Lisa Kleypas, mas a gente sabe que o fato da Lisa estar falando da vivência em um país europeu já muda muito as coisas, aqui foi algo muito mais próximo à nossa realidade.
Os dois protagonistas tiveram o meu amor e o meu ódio em certos momentos, mas o Agusto ganhou em disparada nesse aspecto. Eu tava chorando de amor por esse homem em uma página e querendo esfregar a cara dele no asfalto um capítulo depois. Tive que passar muito pano, mas no final das contas a minha paixão por ele falou mais alto. A Jas não esconde nada de ruim dele da gente, e mesmo assim as bestas aqui ficam de quatro no final. Eu gostei muito da Estela no início. Ela é aquela protagonista bobinha e inocente, mas eu comprei isso por causa da criação meio fora do comum que ela teve. Meu problema maior em relação a ela veio depois do salto temporal. Ela ficava repetindo que era uma nova mulher, que tinha mudado, mas às vezes tinha as mesmas atitudes inocentes de antes. Acabou que eu não comprei esse amadurecimento dela.
A trama construída aqui é muito complexa e completa. Parecia que a todo momento a Jas tinha uma revelação bombástica pra jogar na minha cara e, mesmo nos casos em que eu suspeitava delas, ainda conseguia sentir o impacto que aquilo teria na história. O fato dela ter começado o livro no passado e depois voltado algum tempo pra mostrar pra gente como tudo começou também contribui pra isso. Durante a leitura inteira eu sabia que ia dar uma merda muito grande, e já sabia até qual seria, mas a minha agonia era descobrir como os personagens iam chegar naquilo, ao mesmo tempo em que eu só queria parar pra aproveitar os momentos felizes dos dois antes que tudo desabasse. Ou seja, a crise de ansiedade bateu na porta e eu abri.
Agora vou falar dos problemas que tive, apesar de terem sido poucos. Não gostei do Fernando, e aquela história de que ele era advogado da tia do Augusto e aceitou receber a Estela na casa dele literalmente do nada e proteger a menina não me convenceu em nada. Além disso, a relação dele com a Estela me pareceu estranha. O cara fala que pensa nela como uma filha, enquanto finge pra todo mundo que ela é amante dele? Esse foi único aspecto de toda a trama que me pareceu forçado, fiquei com a impressão de que a Jas não sabia muito bem o que fazer com a Estela no momento da fuga dela e tirou esse homem do nada. Além disso, achei a quantidade de epílogos no final excessiva e desnecessária. Eu amo um bom epílogo, gosto de ver os personagens felizes anos depois, ou acompanhar um momento importante pra eles, mas quando a autora começa com aquele negócio de "um ano depois, cinco anos depois, sete anos depois, dez anos depois, quinze anos depois" a minha paciência acaba e eu só fico irritada. Não tinha necessidade daquele tanto de páginas no final, não acrescentou em nada à minha experiência de leitura e em determinado momento a minha vontade era só pular tudo.
Apesar disso, foi um livro incrível, que despertou muitos sentimentos em mim e me fez surtar como uma louca. Não vejo a hora de começar sangue real. Se a Jas já conseguiu fazer um protagonista controverso e apaixonante em um romance regionalista, eu nem imagino o que essa mulher é capaz de aprontar em um livro de máfia.