Leila de Carvalho e Gonçalves 15/07/2018
Deixe A Luz Acesa Antes De Dormir
Escrito por William Peter Blatt, "O Exorcista" foi publicado originalmente em 1971 e desde então, tornou-se um fenômeno de vendas, sendo considerado um dos livros mais aterrorizantes e controvertidos já escritos.
Seu enredo é bastante conhecido. Apresenta um caso inexplicável para medicina, isto é, a suposta possessão demoníaca de uma menina que que vai parar nas mãos de dois padres. Cabe a eles a difícil missão de realizar um exorcismo, inclusive, arriscando a sanidade e a vida das pessoas envolvidas. Comenta-se que a história foi baseada num fato real.
Chocante, o livro nada mais é do que uma metáfora moderna sobre o combate entre o sagrado e o profano, inclusive, oferece uma interessante abordagem sobre o papel da fé diante do avanço da ciência alem da postura da Igreja Católica quanto ao problema.
O ritual de exorcismo aparece somente nas últimas páginas e não se alonga pela narrativa como acontece no filme homônimo, lançado em 1973. Porém, o impacto visual nas telas das manifestações demoníacas merece aplausos, sobretudo, porque essas cenas continuam a provocar medo após tanto tempo. Na verdade, o ponto alto do livro está na mente tragicamente perturbada das personagens cujos conflitos internos propõem outras interpretações, inclusive, colocando em xeque a veracidade da possessão.
Finalizo com um trecho: "Eu acho que o alvo do demônio não é o possuído. Somos nós... que observamos... Todas as pessoas desta casa. Acredito que seu objetivo é fazer com que nos desesperemos, que rejeitemos nossa humanidade, que vejamos a nós mesmos como bestas, maus e podres; deploráveis; horrorosos, indignos. E talvez aí esteja o cerne da questão: na indignidade. Porque a crença em Deus não é uma questão de razão; é, no fundo, uma questão de amor: de aceitarmos a possibilidade de que Deus possa nos amar. (Padre Merrin)