Solitária

Solitária Eliana Alves Cruz




Resenhas - Solitária


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Toni 26/05/2022

Leituras de 2022 | Cortesia da editora

Solitária [2019]
Eliana Alves Cruz (RJ)
Cia. das Letras, 2022, 166 pág.

Na capa deste romance, uma xícara de chá de cidreira e um livro conjugam, com a delicadeza de firmes metáforas, a sabedoria da ancestralidade e a possibilidade de futuro que, juntas, engendram liberdades e conectam três gerações de mulheres negras. A partir dos pontos de vista de uma trabalhadora doméstica e de sua filha, Eunice e Mabel, “Solitária” articula as micro e macroviolências dos famigerados quartinhos de empregadas e da branquitude “credora de gratidão eterna”, mas mostra também como essas personagens encontram elas mesmas formas de se libertarem das prisões que o racismo estrutural e o trauma sem-reparação de uma sociedade escravagista continuam a produzir.

O tom do romance, que pode ser confundido com “didático” (entre aspas, reparem), não existe para regozijo e aprendizado da branquitude, mas se justifica, com muita propriedade, como tentativa de elaboração das personagens frente às violências simbólicas, físicas e estruturais que acompanham suas trajetórias – do riso debochado do patrão quando a filha da empregada diz que deseja cursar medicina à supressão da infância de meninas e meninos pretos forçados desde muito cedo à vida adulta (diferente das "eternas crianças" das classes mais ricas).

É um livro sem excessos, respeitoso com relação às feridas ainda abertas e atento às tragédias e abusos que ontem mesmo viravam notícia (como o caso do menino Miguel em PE e as cada vez mais frequentes descobertas de trabalhadoras domésticas mantidas como escravizadas). Na carta que acompanhou este livro enviado aos parceiros da Cia., a autora escreveu que desejava trabalhar temas “complexos, angustiantes, perturbadores” “de um jeito simples e direto, que chegasse a todo mundo. Como se Mabel e Eunice fossem minhas leitoras.” No universo da ficção, que nunca deixará de ser um regime do real, não é difícil imaginar este belíssimo livro chegando não só a Eunice e Mabel, mas tecendo um diálogo urgente e libertador com os quartos, as cartas e as companhias de Carolina Maria de Jesus e Françoise Ega, suas insubmissas precursoras.
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ClaudiaMF 30/05/2022

Vidas solitárias e solidárias
Ler Eliana Alves Cruz é sempre uma agradável experiência. Ela consegue fazer ouvidas as vozes mais fortes e emblemáticas. Neste romance, os personagens são urbanos e contemporâneos, num tom de relato e registro de temas como a importância do trabalho do cuidado, da educação e das políticas afirmativas, e do afeto. Também é colocado em foco o privilégio de classe e como aqueles que se beneficiam dele atuam e pensam. Um livro atual, uma leitura necessária e ao mesmo tempo agradável e contagiante.
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Priih | Blog Infinitas Vidas 23/10/2022

Eliana Alves Cruz não teme expor as fragilidades raciais da nossa sociedade
A obra acompanha os anos de vida de duas mulheres negras, mãe e filha, que têm suas vidas marcadas pelas consequências de um país que coloca corpos negros em posição de servidão. Mabel, a filha, sabe desde cedo que não quer traçar os mesmos passos da mãe, almejando um futuro melhor e conquistando sua tão sonhada vaga no curso de Medicina; Eunice, a mãe, trabalhou como empregada doméstica a vida toda e tem um conflito interno muito forte sobre os sentimentos em relação à família de classe média alta que por tantos anos a empregou. Um acontecimento trágico é um catalisador para que Mabel pressione a mãe a se libertar desse vínculo, ao mesmo tempo em que Eunice tenta entender como lidar com o que aconteceu. [...]

Uma alegoria importantíssima ao longo da obra é o conceito do quartinho – não apenas como cômodo, mas como espaço metafórico para o corpo negro. Eliana Alves Cruz não teme expor as fragilidades raciais da nossa sociedade, tendo um texto pungente e, ao mesmo tempo, de grande fluidez (o que torna o livro ágil). Mabel observa desde criança sua mãe sendo obrigada a limpar, cuidar, organizar e fazer tudo para seus empregadores brancos, que adoram dizer que “ela é praticamente da família” ao mesmo tempo em que a relegam a um espaço apertado e apartado dos demais. A própria Mabel, diferente das crianças que ela vê crescer na casa dos patrões (como a filha do casal, Camila, e outros amigos do prédio), também não recebe o mesmo tratamento: enquanto a infância de uns é preservada, a de outros é destinada a ajudar “na lida”, fazendo o possível para se tornar invisível e não atrapalhar o dia a dia da branquitude que frequenta aquele apartamento.

[...] Solitária é um livro excelente, que toca em diversas feridas abertas em relação ao racismo no Brasil. Com uma narrativa leve, mas firme, Eliana Alves Cruz faz um passeio por diversas desigualdades que assolam com muito mais força a camada mais vulnerável da população: de subempregos a gravidez indesejada, de escravidão moderna (mas sem a espetacularização de A Mulher da Casa Abandonada) até a maior vulnerabilidade frente à Covid-19. São temas pesados, que impactam, mas trabalhados de forma tão didática que as páginas fluem e você sente a revolta no fundo do coração por saber que nada do que está escrito ali é tão ficcional assim. Pra mim, Solitária entrou pro hall de livros que todo mundo deveria ler.

Te conto mais sobre essa obra marcante no blog. Bora?

site: https://infinitasvidas.wordpress.com/2022/10/23/resenha-solitaria-eliana-alves-cruz/
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Robson68 03/01/2023

Curto e completo
Não é preciso se alongar demais para escrever uma história completa, com arcos de personagens bem desenvolvidos e uma escrita intimamente envolvente. Eliana Alves Cruz escreve com a alma, escreve com sua cor, escreve com a história. Solitária é um presente a todos que vivem numa sociedade tão desigual e que, quando os desiguais ascendem, acabam querendo desmerecê-los. D. Eunice e Mabel são esperança, perseverança e renovação. História comovente demais. Agradeço a oportunidade de ter ?vivido? essa história através desse livro.
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csartoretto 28/07/2022

Solitária é uma história sobre desigualdade social, privilégios de classe e o peso de um passado escravagista que ainda lança suas sombras no presente.
O prédio onde se passa a maior parte da ação, é um recorte de um Brasil desigual, visto pela ótica dos oprimidos que desfilam por seus corredores e elevadores de serviço.
Desvela também a miséria moral e a alienação de uma classe cheia de privilégios e egoísta que não consegue viver sem explorar e oprimir mas que se vêem como salvadores, enquanto tem saudade de um passado que há muito se foi, mas que eles ainda reproduzem.
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chavesz_ 06/08/2022

Maravilhoso!
Eu amei! Apesar do livro ser bem curto, ele é muito impactante e delicado. Recomendo demais a todos!
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@limakarla 07/08/2022

Quarto de descanso.
É sempre muito forte ler histórias de pessoas negras no Brasil e quanto a carga de toda a nossa história no país é pesada e marcada pelo sofrimento. Que bom que alguns conseguem vencer as adversidades e ter um futuro mais digno, poder também proporcionar aos seus um pouco disso.
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Roseane 08/08/2022

Solitária
Eliana Alves Cruz, uma das maiores romancista brasileiras e retratista do Brasil está com um novo romance.Solitária é um livro que provoca o leitor a fazer reflexões sobre armadilhas sociais e raciais presente em nosso cotidiano. Eliana usa uma lupa e a amplia realidades nos ajudando a enxergar melhor.
Ao contar a história de algumas famílias destaca-se a exploração de mulheres negras. Eunice é uma mulher casada, tem uma filha e trabalha como empregada doméstica em um bairro nobre. A filha da Eunice, a Mabel ainda criança foi incumbida a ser babá de Camila, filha da patroa da mãe. Irene aos 11 anos de idade é retirada do interior para trabalhar em casa de família na capital. Dadá tinha 10 anos quando foi trabalhar na casa de dona Imaculada e foi explorada por décadas. Luiza precisa do emprego e se vê obrigada a levar seu filho Gilberto um menino alegre de riso fácil para a casa dos patrões.
O marido da Eunice sucumbe as opressões de sua existência como um homem negro em uma sociedade racista. Jurandir é aquele que é parceiro e não deixa os seus na mão, de forma inusitada ele consegue ajudar a Mabel atingir seus objetivos. Joao Pedro expõe suas indignações do cotidiano e nem sempre agrada a todos, mas ele nem liga.
As histórias vão se desenvolvendo e tomando diferentes rumos e desdobramentos. Não há somente tristeza, temos romance, alegrias, amor, vitórias e finais felizes. Os percursos é que são cheios de pedras. O anseio por justiça tira muitos da inércia e para pedir justiça e revoluções acontecem.
Os brancos se protegem historicamente assim cito dois casos reais para exemplificar: Sari Cortes Real, envolvida na morte de um menino negro de 5 anos, filho da empregada doméstica foi condenada apenas 8 anos, porém o juiz Edmilson Cruz Júnior, nega o pedido de prisão. Margarida Bonetti escravizou uma mulher negra por 20 anos nos EUA onde morava. Foi condenada, fugiu para o Brasil e se “esconde” na casa que era de seus pais. O marido Renê Bonetti também foi condenado, mas por ter nacionalidade americana teve prisão decretada. Dessa forma, governo brasileiro no período do governo de Fernando Henrique Cardoso planejou colocar Rene em um cargo de chefia do Sistema de Vigilância da Amazônia, um projeto de defesa do espaço aéreo da região, em uma jogada para lhe devolver a nacionalidade brasileira e ele então pudesse vir para o Brasil.
O livro traz diversas situações em que parece que a vida imita a arte ou seria que a arte imita a vida? Não tem como contar mais devido a risco de spoiller. Leitura intrigante. Super recomendo.
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Luciana 13/09/2022

"O quarto de descanso é todo aquele que tem o cheiro da nossa própria vida."

Eliana nesse livro nitidamente se inspirou nas muitas histórias que vieram a público nos últimos anos sobre mulheres negras, domésticas e demais pessoas que devem passar como invisíveis dentro desse universo.

No final quando ela resolve dar voz aos diversos tipos de quartos que abrigam os personagens e que podem nos abrigar ao longo da vida, as vezes tornando-se pequenas solitárias, é simplesmente sensacional!

Que cada um possa ter o direito ao seu quarto de descanso.
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ritita 14/10/2022

Maravilhoso, real, apesar de triste
Já tendo lido ótimos livros da autora - Água de Barrela e O crime do cais do Valongo, não hesitei em começar, mas sabem como sou, começa com muita edição e largo pra lá. Não foi o caso, nenhuma edição, olhinhos grudados durante a madrugada até o Kindle cair da mão.
Eliana não economiza ao falar dos preconceitos contra as "escravas do lar", principalmente negras, metaforicamente chamadas de "domésticas". Mulheres que deixam seus filhos e famílias para cuidar dos filhos e famílias que não as suas por salários minguados, mal pagos e chorados, muitas vezes ditas como "quase da família". Que família cara pálida? Quase?
A narrativa é concisa, sem floreios e bate forte na alta classe média de qualquer tempo. Sim, o livro chega até aos dias de pandemia de Covid.
Para mim, que os pais sempre tiveram "domésticas" até ficarem pobres, mas sempre as trataram com todo respeito e dignidade, algumas situações pareceram-me exageradas, mas totalmente concebíveis, como a mídia sempre estampa.
Que todas as pessoas que necessitam trabalhar na casa de outras famílias sejam dignas de respeito. São profissionais e ponto.
Como é bom ler livro bom e muito bem escrito.
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Ellen 26/11/2022

Triste, triste... Mas uma realidade vivida por muitas pessoas por aí. Leitura rápida e fluída! Muito bom o livro.
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Flavinha 23/11/2022

Que livro maravilhoso!!! Narrativa super fluída e intensa. Muitos momentos tristes mas bem necessários, pq mostra a dura realidade!!!

"É curioso reparar como algumas pessoas nesse mundo não têm direito à meninice. Quando ainda mal se sustentam em cima das pernas, são vistas como adultas; enquanto outras serão para sempre garotas e garotos. Em geral as primeiras frequentam quartinhos como eu."

"Acho que às vezes a gente está numa situação ruim, mas se acostuma com ela e não quer sair porque é ruim, mas é conhecido."
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Fe Milnitsky 17/11/2022

Indispensável e dolorido
O livro retrata uma realidade muito dura da sociedade brasileira, mas o faz de uma forma brilhante. Muito atual e representativo.
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Talita | @gosteilogoindico 09/11/2022

Gostei muito!
Este livro mexeu muito comigo.
Trouxe temas e pessoas "coadjuvantes" para seu papel "principal".
Meu primeiro contato com a escrita de Eliana e pude notar a sua maestria com palavras e a importância da história para com a nossa sociedade.
Impecável a analogia do título do livro com a história em si.
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