Caroliis 20/06/2020
A verdade nua e crua de como é crescer e desapegar dos aspectos da infância
Na história, a autora traz, sem mascarar ou romantizar, como é passar pela transição da infância para a adolescência, descobrindo-se mais adulto, fazendo-nos refletir e lembrar, em diversos momentos da trama, como foi essa época para nós.
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A história começa quando Giovanna, a personagem central da história, ouve uma conversa de seus pais e a frase “Ela está ficando igual Vittoria” proferida pela boca de seu pai, que, naquela época, ainda era uma figura de alta representação para ela, seu herói de mesmo sangue, dando o pontapé inicial para o desenrolar da trama, para as buscas das menina pelo entendimento de quem é a tia e o que significa, para ela mesma, aquela comparação (em sua opinião, preocupante e horrível), já que tia Vittoria é a pessoa que seu pai mais odeia e que, em sua casa, sempre é motivo de menções relacionadas ao mau sentido.
A partir do momento em que decide procurar pela tia, Giovanna embarca em um mundo totalmente diferente daquele no qual cresceu, com o qual está acostumada. A menina, confusa diante o período pelo qual está começando a passar, vê uma grande necessidade de se tornar mais próxima à tia, que revela-se uma mulher vulgar e totalmente diferente daquelas com as quais está acostumada a ter a sua volta e que, com o passar dos encontros de ambas, começa a exercer grande influência sobre a menina.
Com o passar do tempo, as máscaras dos adultos ao redor de Giovanna vão caindo. Traições e mentiras surgem e fazem-na questionar o porquê de ter que seguir as palavras impostas se nem mesmo aqueles que as pronunciaram cumprem-nas.
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A cada parte em que o livro é dividido, Elena Ferrante nos mostra o crescimento pelo qual Giovanna passa dos 13 aos 16 anos, descobrindo-se diferente de quando era garotinha, explorando cruamente, em alguns momentos, a sexualidade que começa a aflorar mais nesta fase (também influenciada pelas experiências pessoais que a tia comenta com ela), a necessidade que surge de não seguir as palavras dos adultos, uma vez que estes mesmos se revelam mentirosos e o aparente amor pelo qual a menina espera que a note e que a transforme, novamente, em uma pessoa diferente.
Em cada uma das páginas, a história nos mostra, sem filtros e o mais próximo da realidade possível, como é crescer, como é descobrir que os adultos não são aqueles heróis que achamos que são quando somos pequenos, como é experimentar novas vontades e experiências diferentes as quais estamos acostumados. O livro apresenta como é ser humano.
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Embora com algumas cenas que me incomodaram um pouco pelo próprio incômodo da personagem com certas coisas que decidira fazer, a leitura flui muito bem. É interessante observar a personagem crescendo, deixando a infância cada vez mais para trás e tendo que descobrir como lidar com as diversas mudanças proporcionadas pelo crescimento.
Em diversos pontos da história, conseguimos até nos identificar, pois crescer é confuso e apenas nós mesmos podemos construir quem seremos e conseguir nos entender, cedo ou tarde. É disso que o livro se trata: Crescer e descobrir quem somos.