Gabriel.Maia 17/06/2022
Pense criticamente!!
Carl Sagan, além de um incrível cientista e pesquisador, foi acima de tudo um dos maiores promotores da ciência no século XX, trazendo os termos complicados da ciência para o grande público por meio de seus livros e programas de TV. Sagan acredita que a ciência é o caminho para um futuro melhor, e apesar de ter algumas maçãs podres no meio científico não podemos deixar de evoluir por causa delas.
Para que possamos evoluir cientificamente precisamos de novos cientistas sendo formados, e ele acredita que esse número vinha diminuindo na época (lembrando que esse livro foi escrito na década de 90, portanto não sei se esse fato ainda é verdadeiro), e para aumentar o número desses profissionais tão necessários era preciso adotar políticas de incentivo à ciência para crianças e, acima de tudo, incentivar o pensamento cético, que é o tema central desse livro.
O mundo assombrado por demônios é um livro de vários desabafos e experiências de um Sagan já bem experiente, que já viu muita coisa no mundo e acredita que nossa sociedade sofre por acreditar demais em absurdos sem nenhum fundamento científico. Ele cita as pseudociências como astrologia, cartomancia, mediunidade, ufologia como sendo muito maléficas para nossa sociedade, pois elas incitam o pensamento crédulo e desincentivam o pensamento cético, que nos casos extremos pode levar a sociedade a aceitar governantes déspotas, alteração da história e movimentos como a santa inquisição. Sagan faz colocações muito relevantes a respeito da memória alterada, alegando que quanto mais tempo se passa após um acontecimento, mais fácil é para uma pessoa com más intenções alterar nossas lembranças através de perguntas e afirmações capciosas, e dá vários exemplos disso, entre eles o exemplo das abduções, em que uma pessoa pode ter sonhado que estava sendo abduzida mas após ouvir outra pessoa dizendo que foi abduzida ou uma pessoa que valide suas supostas experiências, começa a se "lembrar" dos acontecimentos, e passa a ter certeza de que foi realmente abduzida.
Como eu disse anteriormente esse é um livro dos anos 90, e apesar de alguns pontos já terem sido desmistificados e estarem ultrapassados, creio que, apesar de estarmos na era da informação, essa cultura da credulidade nunca foi tão intensa. As pessoas hoje em dia, mesmo tendo tanta informação boa e relevante à sua disposição, preferem se informar por meio dos feeds no Instagram e no Twitter, que contém várias notícias falsas e apelativas, feitas justamente para chamar a atenção e ganhar dinheiro com os cliques dos internautas, e o maior problema disso está na quantidade de pessoas que se informam dessa maneira. Na época em que foi escrito, nos anos 90, o mundo vivia talvez o auge do sensacionalismo na TV, em que as emissoras faziam qualquer coisa para levantar seus pontos no IBOPE, qualquer coisa mesmo! Que brasileiro nunca ouviu falar no caso do ET Bilu? Hoje em dia não é diferente. Com o liberalismo que a internet nos proporciona, qualquer maluco pode inventar coisas sem nenhum fundamento e postar nas redes que haverá várias pessoas ignorantes lendo, acreditando e espalhando para ainda mais pessoas.
Em certo momento, Sagan coloca o ponto de que acreditar em uma coisa pode sim torná-la real, tipo uma pessoa doente que tem plena fé de que vai melhorar e acaba realmente melhorando, mas que isso tem mais a ver com os hormônios liberados por esse pensamento do que pelo fato de acreditar em si. Ele deixa claro que devemos ser curiosos, devemos usar os métodos científicos de experimentação no nosso cotidiano para que possamos tomar algo como verdade, e não apenas acreditar no que qualquer charlatão nos diz com o intuito de vender algum produto ou serviço. Precisamos discutir, perguntar o porquê das coisas serem como são e passar isso adiante para que as próximas gerações se tornem mais céticas do que a nossa.
Apesar de eu não concordar com Sagan em todos os pontos colocados no livro, como por exemplo o de alguns desenhos animados que ele acredita serem nocivos pois formam pessoas que acreditam que tudo pode acontecer, eu consigo realmente entender a relevância e importância do pensamento cético na nossa tomada de decisão, mas eu ainda acho que um pouco de credulidade não faz mal, e pode inclusive ser benéfica para nosso psicológico e para nossa criatividade. Tem pessoas que precisam acreditar em um Deus supremo para que suas vidas tenham sentido, e não há nada de errado nisso desde que você trate as outras pessoas com o devido respeito e não acredite em doutrinas elaboradas para te enjaular e tirar sua liberdade e pensamento crítico.
Se eu puder tirar uma mensagem principal desse livro incrível, essa mensagem é: Pesquise e seja curioso, pois se você não pensar por si mesmo, alguém vai.
"Manter a mente aberta é uma virtude – mas, como o engenheiro espacial James Oberg disse certa vez, ela não pode ficar tão aberta a ponto de o cérebro cair para fora. Sem dúvida, devemos estar dispostos a mudar de opinião, quando autorizados por novas evidências."