janeway 12/10/2020
“É melhor seguir o próprio caminho para o inferno do que alcançar o céu pelo caminho dos outros, não é?” Robôs #01
O autor utiliza uma mistura de ficção científica com pinceladas de romance policial como fio condutor da narrativa para contar a história de um provável futuro da humanidade. Aqui existe a divisão entre os terráqueos e os siderais, que são seres humanos descendentes dos antigos colonizadores e que vivem nos chamados Planetas Exteriores, os mundos conquistados graças as viagens hiperespaciais.
Olhar para os siderais é encarar uma cultura totalmente oposta à da Terra: enquanto os terráqueos sofrem com superpopulação, são suscetíveis a doenças e vivem sob redomas de metal – e aí o título “cavernas de aço” – os siderais já controlaram a densidade populacional, as patologias e podem caminhar ao ar livre. Porém a diferença mais marcante entre ambos está na recepção aos robôs, pois, enquanto a grande parte dos terráqueos beiram ao fanatismo de tanta repulsa que sentem pelos cérebros positrônicos, os siderais convivem e os aceitam. É aqui que se sustenta o maior conflito entre eles.
E eis que surge um assassinato impossível em um lugar improvável ao estilo Agatha Christie que obriga a cooperação entre terráqueos, siderais e os robôs destes. Assim, Elijah Baley, um detetive humano nem um pouco fã de robôs, se une a R. Daneel Olivaw, um robô sideral humanoide criado para ser um detetive. Com personalidades divergentes, eles simbolizam o contraste entre os ideais dos povos, mas também a possibilidade da união C/Fe (humanos + robôs).
Apesar da obra seguir a linha de investigação policial, para mim o charme do livro está nas discussões e correntes filosóficas deste futuro, bem típicas do Asimov, que fazem toda a construção do mundo ser mais realista. Em especial está o Medievalismo dos terráqueos, com as suas ilusões e anseios de um passado terrestre glorioso sem robôs e ao mesmo tempo o medo de pensar no futuro fora da caixa. Os siderais também têm seus pensamentos e contradições, mas acho que descobrir eles na leitura deixa a experiência muito mais interessantes do que só expor...
O final é surpreendente e se encaixa com mérito na proposta real do livro.
Ademais, recomendo fortemente para quem pretende se aventurar aqui que leia antes “Eu, Robô”, pois ajuda a se familiarizar com alguns pontos chaves – em especial as três leis fundamentais da robótica, como se iniciou as viagens hiperespaciais (leia “Evasão!”) e as origens mais concretas da hostilidade contra robôs (leia “Evidência”, vulgo melhor conto da coletânea).