Ana Luiza 21/09/2023
Carcereiros
Pergunte a um estudante de Direito o que ele pensa sobre o sistema penitenciário brasileiro e as mazelas sociais e você obterá diversas e polêmicas opiniões. Seja o viés “popular” e conhecido: “bandido bom, é bandido morto”, seja o argumento obtido através de um olhar crítico, aquele que preza por condições humanas, sem olhar a quem.
Pergunte a um médico renomado a quem a rotina e as escolhas e caminho trilhados levaram a 23 anos de vivência carcerária e ouça o que ele diz; pergunte a um carcereiro, e observe o que ele vê.
Ao longo de 23 anos de vivência diária dentro do sistema penitenciário, Drauzio Varella presenciou e conheceu diversas histórias, observou diversos seres humanos enquanto encaravam uma realidade muito distante daquela vivida pelo Dr. ou por qualquer um que estivesse do lado de fora dos muros. Isto, é um fato por si só, fascinante.
Contudo, o livro se dispõe a narrar as vivências daqueles que por muitas vezes se misturavam aos presos, que conviviam diariamente com as mazelas impostas a um ser humano que se dispunha a viver entre os muros de uma casa de detenção. Muitas dessas experiências, narradas em reuniões em bares da zona norte de São Paulo, parecem não carregar o fardo que carregam, em meio à nostalgia, o saudosismo e o pesar velado.
Uma das experiências narradas remete à implosão do que a muito conhecemos como Carandiru, um dos maiores presídios da cidade, e à tão conhecida história do massacre do 9º pavilhão, em 1992.
Um relato tão chocante quanto fascinante.
“Depois de 23 anos frequentando cadeias, não faz sentido especular como eu seria sem ter vivido essa experiência; o homem é o conjunto dos acontecimentos armazenados em sua memória e daqueles que regalou ao esquecimento.” - Drauzio Varella.