spoiler visualizarAlicia 10/07/2021
São muitas camadas possíveis de análises.
Um livro bastante melancólico e trata a questão do suicídio.
Temos a história de 5 irmãs da família Lisbon. Logo no começo a gente já fica sabendo que as 5 cometeram suicídio.
O narrador é um garoto que conviveu com as meninas durante um tempo, ou seja, a perspectiva de tudo é dele e de alguns outros garotos que também faziam parte da vizinhança. Os garotos contextualizam e relatam como o ocorrido impactou suas vidas durante o momento em que ocorreu até a vida adulta de todos eles, ou seja, eles nunca superaram totalmente e sempre se viram remoeram tudo.
Percebemos que a história é fruto de um encontro desses garotos, já adultos, na cada da árvore de um deles, na medida em que notamos então que os suicídios das irmãs Lisbon sempre perpassou a vida de cada um deles de algum modo. Eles eram encantados pelas meninas, sempre que pensavam a respeito ficavam sem entender o porque do ocorrido e isso incomodava muito eles, mesmo depois de tantos anos, porque foi algo que marcou muito todos eles.
Existe um mistério acerca dos suicídios, porque no final das contas não temos um motivo que justifique de fato o porquê de tudo isso, o livro acaba e isso fica em aberto. Sobre isso, acho que o livro nos trás muito a pensar e o fato em si dos suicídios não tem o objetivo central de ser explicado, porque envolve o modo como o fato em si impactou as pessoas e cidade. O pai das meninas era professor de matemática e a mãe uma religiosa ferrenha.
A primeira a tentar o suicídio foi a irmã mais nova, Cecília, com apenas 13 anos. Elas eram, em idade, uma escadinha, tendo a mais velha, Lux, 17 anos. Cecília corta os pulsos, mas é socorrida e levada ao hospital. Ela sobrevive e é interessante notar os questionamentos que o médico faz naquele momento dizendo não entender o porque disso, sendo ela apenas uma garota de 13 anos, na visão do médico: “que problemas uma garota de 13 anos poderia ter que justificasse tentar o suicídio?” Cecília só lhe diz: “como pode você saber, se nunca foi uma menina de 13 anos”.
O médico aconselha a família a fazer tipo uma festa, porque acha que faria bem a socialização e Cecília lá pelas tantas pede pra se recolher, sobe para seu quarto e em seguida se joga pela janela caindo em cima das lanças do portão e então consegue se suicidar.
Diante disso, o impacto do ocorrido não fica claro nas irmãs, as meninas seguem frequentando a escola e superficialmente parece tudo estar bem. Um dos garotos convida Lux para o baile, pedido permissão ao pai delas. Nesse momento é interessante também notar que o pai das meninas, diante desse pedido, diz que vai ver, mas acha improvável que ela possa acompanhá-lo porque diz que a mãe das meninas jamais deixaria. Temos aqui a percepção do controle da mãe das meninas. Apesar disso, lhes é concedido o pedido, com a condições que as outras meninas também possam ir, então ele convence os amigos a ir e todos vão ao baile.
Depois de algum tempo, não fica muito claro o motivo, as meninas param de frequentar a escola, parar de ir a igreja e de saírem de casa. A mãe delas mostra-se controladora, proíbe tudo. É como se a casa se tornasse meio que um útero, em que a mãe das meninas tenta protege-las a todo custo, penso eu que seja pelo ocorrido com a Cecília... lembrando que a perspectiva que temos é do narrador, então não temos como saber o que realmente se passou.
As meninas se isola, apenas Lux tem contato mediante a janela de um quarto com homens e se relaciona com eles, essa parte achei um pouco confusa.
No livro então as 4 meninas ainda vivas tentam suicídio juntas, uma delas acaba não morrendo, mas depois de alguns dias consegue e temos as 5 suicidadas.
É interessante notar o processo de deteoriorização da casa, porque conforme as coisas vão acontecendo com a família, ou seja, a família vai se desmoronando temos também a casa sendo abandonada e se deteriorando concomitantemente.
A pai das meninas acaba saído do emprego também, se confina em casa e na perspectiva de quem vê, no caso do narrador, percebe-se o abandono, porque o casal fica trancado dentro de casa, o jardim já não é mais cuidado, não existe limpeza nem o cuidado com a casa.
Outra coisa que temos presente é a greve dos coveiros, isso é bem sutil porque não é falado muito sobre isso, mas você sabe que eles estão em greve. A greve se inicia um pouco antes do suicídio de Cecília e só vai terminar dali uns dois anos, ou seja, depois do suicídios das outras 4 meninas, o que significa que todas são enterradas juntas, no mesmo dia. A narração dessa cena é de um sofrimento e melancolia que eu nunca vi em lugar nenhum.
Então os garotos, agora adultos, conversam e especula sobre tudo isso, relatam ainda alguns objetos que eles conseguiram de algum modo das meninas, alguns depoimentos também neste processo de investigação do que pode ter acontecido.
Outra coisa também que é especulada sobre o motivo dos suicídios é se seria uma questão de produção de serotonina, é feito alguns testes, mas nada conclusivo. Busca-se entender o por que, mas não é possível ser certeza de nada. Um livro para te fazer pensar e que não te traz respostas.
É um livro cheio de camadas, eu achei bastante melancólico e triste. Não acho que é um livro para todo mundo ler, porque os detalhes narrados podem te impactar e te deixar meio reflexiva e triste mesmo. Temos aqui o impacto de quem fica frente a uma situação de suicídio e é bastante incomodo não ter as respostas e saber que nunca as teremos neste caso, e na vida real, muitas vezes, também não.