Ká 08/08/2020
Viver com segredos nos liberta ou aprisiona?
A Letra Escarlate é uma obra literária bastante aclamada que nos traz um romance numa cidade pequena, puritana e bem marcada pela religiosidade. Trazendo a análise para os dias atuais fica muito nítido o tratamento para com a mulher, mais julgador e desonesto do que hoje, porém, tão injusto ou absurdo quanto ainda se faz. Para mim foi meio difícil termina-lo pela demora dos acontecimentos e riqueza de descrição em frases que poderiam ser mais curtas e passar o mesmo significado, porém sabemos que isso era uma certa característica da época.
Hester é julgada por ter engravidado de um homem o qual não era seu marido, e assim submetida a utilizar a letra “?A”? vermelha viva como o fogo em seu peito como marca do adultério, da imoralidade, para que todos pudessem olhar, apontar e evita-la. Sua filha, Pearl é tão julgada e mal observada quanto pelos “?cidadãos de bem, livres de pecado” da cidade?. Cogitam até mesmo em um dado momento retirar a menina de sua mãe para que esta pudesse receber os devidos “ensinamentos divinos”, acreditando assim, que Hester fosse incapaz de dar as devidas referências à menina ou educa-la de forma adequada.
Desde o princípio fica bem claro que o marido de Hester está ausente por muito tempo e que a mesma chega a cogitar que ele possa estar morto. Para mim foi muito claro também desde o ínicio quem é o pai de Pearl. Este [spoiler] por sua vez sofre calado, trazendo elementos alegóricos como a dor no peito (no mesmo lugar onde a letra de Hester fica presa) e a doença se acometendo de seu físico, as dores da alma do rapaz transparecendo em sua face, em seu corpo. A paixão e o segredo ardendo no peito do homem e o consumindo por dentro.
Mais tarde o marido de Hester retorna a cidade e faz um trato com a mulher de não dizer às pessoas quem ele era, motivo esse para que ele pudesse buscar vingança contra a pessoa que havia engravidado sua mulher e de certa forma contra ela também. [/spoiler]
O livro me trouxe a reflexão de que desde sempre a mulher não tem o direito de ter segredos quando se trata de algo “imoral”, ou que possa ir contra o conservadorismo de uma sociedade. Enquanto ela carregava estampada primeiro em seu corpo, uma barriga crescendo, mostrando seu ato, o homem passava ileso, sem ser mencionado. Depois, a mulher estampava a letra escarlate viva em seu peito para que nunca fosse esquecida e fosse repudiada, enquanto o homem sofria com sua “letra” escondida queimando em segredo. Daí podemos puxar outra reflexão: até onde vale a pena esconder algo tão forte que nos consome? Expor o ato os liberta ou os aprisiona?
Amor, ódio, egoísmo e perdão, o que é certo ou errado dentro de uma sociedade, dentro de determinados ensinamentos?
Enfim, o livro nos traz pensamentos críticos, apesar da falta de dinamismo em sua trajetória.