Andreia Santana 16/10/2011
Agora vocês já sabem de onde vem Violet B.
Desventuras em Série são treze volumes, mas tão gostosos de ler que a gente nem percebe. Conta a história dos irmãos Baudelaire (Violet, uma inventora de 14 anos; Klaus, um leitor compulsivo de 12, e Sunny, um bebê para lá de precoce) e todas as dificuldades que eles precisam enfrentar após a morte misteriosa dos pais.
Fugindo do pérfido Conde Olaf e esbarrando em tipos caricatos mas que representam um pouco de todo tipo de gente que há no mundo, os Baudelaire amadurecem a cada livro, tentando descobrir o que aconteceu com seus pais e com a fortuna da família.
O livro, embora tenha todo tipo de situação nonsense que se pode imaginar e em certas passagens dê a impressão de que o autor perdeu o fio da meada, é autodescoberta das boas. Ninguém que embarca com os irmãos nessa viagem no decorrer dos 13 livros continua tendo a mesma visão de mundo ao final da jornada.
A brincadeira, sim, Desventuras em Série é uma grande brincadeira com as tragédias da vida (a começar pelo título e pela apresentação da série: as desditas das três crianças mais azaradas do mundo), começa com o próprio autor. Lemony Snicket é um misterioso narrador-personagem, mas é também o alter ego do escritor e roteirista Daniel Handler. Autor, personagem e narrador se confundem de propósito, como a nos lembrar de que cotidianamente estamos desempenhando papeis os mais diversos e que muitas vezes nos perdemos na encenação. Se perder inclusive faz parte do espetáculo.
Os conceitos de certo, errado, verdade, mentira, o que é ser mocinho e o que representa ser vilão nos tempos de hoje mostram que para sobreviver a este mundo cão é preciso ser maleável, mas não abrir mão de uma ética pessoal que sirva de guia mesmo nas situações mais tenebrosas. O livro não é politicamente incorreto, mas também não é moralista, é só a realidade conflituosa da alma humana travestida em brincadeira de criança. Não faltam elementos mórbidos e escatológicos, não faltam lágrimas e principalmente, apesar do título, sobra muito otimismo!