Naty__ 04/11/2019Não estava esperando receber Nossas noites da editora e, quando vi a capa, logo me lembrei de O casal que mora ao lado, tanto pelo fato de as capas serem parecidas quanto pelo fato de ter recebido os dois pacotes no mesmo dia. Quando me deparei com as obras, imaginei que seriam histórias bem parecidas, mas estava enganada.
Nossas noites vai tratar de uma temática bem diferente, que geralmente não estamos acostumado a ler: velhice. Somos apresentados a uma história de solidão exatamente nessa fase da vida. Quantos de nós não temos medo dela? De ficarmos sozinhos, abandonados e sem ter um amparo. É o que esse livro abordará.
Addie Moore faz uma visita inesperada a seu vizinho, Louis Waters. Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas grandes casas vazias. Addie propõe a Louis que ele passe a fazer companhia a ela ao cair da tarde para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Embora surpreso com a iniciativa, Louis aceita o convite. Os vizinhos, no entanto, estranham a movimentação da rua, e não demoram a surgir boatos maldosos pela cidade. Aos poucos, os dois percebem que manter essa relação peculiar talvez não seja tão simples quanto parecia.
Haruf retrata esse ponto de forma delicada e sutil, explorando pontos com ternura e deixando o leitor com dó daqueles personagens. Porém, ainda que a história passada tenha sido boa e emocionante, o fato de duas pessoas, na terceira idade, estarem sozinhas e se unirem para um fazer companhia ao outro, senti que faltou elementos para me cativar. Explicar-me-ei.
Pelo fato de a história ser toda contada sem indicação de falas, o leitor muitas vezes se perde e não sabe quem está falando ou o que é fala, já que a narrativa é toda corrida. Não temos travessão, aspas ou qualquer indicativo de que há alguém falando. O que temos são apenas parágrafos e o leitor que precisa embarcar no livro e tentar entender o contexto. Esse, para mim, foi o ponto crucial para me desgostar.
Além disso, senti que os personagens poderiam ser mais explorados em alguns momentos. Entendo que eles eram idosos e nem todas as coisas são naturais para um jovem, mas o fato é que os diálogos eram robóticos e remotos. Não sei se isso acontece justamente pelo fato de não haver travessão e pode ter me dado uma interpretação diferenciada.
A capa representa bem o que Haruf quer nos passar: a solidão. Solidão de corpos, de almas que estão ali perto, mas que não se comunicam. O medo, medo de enfrentar a solidão, o medo da rejeição, da perda. Embora haja algumas falhas no livro, consegui sentir a dó dos personagens, de sentir as suas dores e de me imaginar numa situação como essa. Infelizmente, é inevitável o leitor não refletir nisso e não se colocar no lugar daquelas vidas tão solitárias, mas que necessitam de um contato físico, de um diálogo, de uma presença nas horas tão difíceis.
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http://www.revelandosentimentos.com.br/2017/08/resenha-nossas-noites.html