Andressa 01/07/2021
Daquelas belas surpresas na vida de um leitor
Liane Moriarty é uma das maiores autoras de romance contemporâneo atualmente, ao lado de mulheres como Colleen Hoover e Celeste Ng. Com um hall extenso de obras literárias foi até difícil decidir por qual delas começar, mas O que Alice esqueceu conseguiu me cativar e creio que outros leitores devem sentir o mesmo ao final da leitura.
Alice tem 39 anos, três filhos e um casamento às portas do divórcio quando bate a cabeça durante uma aula na academia e ao acordar, percebe ter perdido a memória dos últimos dez anos. Nessa época, ela estava vivendo a primeira gestação ao lado do marido, o homem dos seus sonhos que, agora, com pequenos pedaços da realidade jogados em seu colo, ela não entende porque ia querer se separar.
O início foi um pouco lento pra mim, confesso, mas a tendência é melhorar e melhorou mesmo. O leitor conhece a história de Alice através das memórias dessa versão de 29 anos: uma mulher doce, insegura e ingênua; e como ela reage a realidade dos fatos — principalmente, sendo mãe de três crianças que ela não lembra de ter gerado. A personagem também tem de lidar com a relação estranha com a irmã, a sua melhor amiga de anos, agora agindo de um modo mais distante, sem explicar o porquê.
Aliás, o enredo é carregado de porquês. A autora deixa várias questões no caminho e se torna muito fácil seguir as pistas até encontrarmos as respostas, uma de cada vez. Mas, apesar dessas questões instigarem mais o leitor a continuar, o ponto alto desse livro são as reflexões que ele causa. Já imaginou perder dez anos da sua vida? E se essa versão mais velha agradaria as pessoas que você convive e ama hoje? Quais mudanças você não seria capaz de suportar?
Pessoalmente falando, eu me senti muito conectada com os dilemas da Alice. Ela quer a vida dela de volta, quer entender os motivos de ter perdido o marido, saber quem são essas pessoas que agem como se a conhecessem desde sempre, e mais que isso, como se tornou a mulher fria, fútil e controladora, adorada por todos, menos por quem ela se importa. Onde que tudo deu errado?
A Liane criou um enredo amarradinho, bem escrito, com a carga certa de drama familiar, romance e suspense, mas em determinado momento, as questões da personagem não são mais as únicas que importam.
Porque esse é um daqueles livros transformadores, sabe?
Também preciso falar da criação dos diálogos, eles são tão reais, emocionantes e importantes! Não estão ali para preencher uma lacuna, um espaço não definido, pelo contrário, todos têm a sua razão de ser: Conseguem fazer rir, dão o ritmo da narrativa, mostram a miríade de personalidades de cada um dos personagens, faz você amar, odiar ou duvidar deles e muito mais. São diálogos deliciosos de ler e me deram, por muitas vezes, a sensação de que eu era amiga da Alice e estava assistindo tudo dentro da casa dela, de tão fácil que era a visualização e a ambientação escrita pela autora.
Pra finalizar as minhas impressões, O que Alice esqueceu foi uma bela surpresa e me encheu de vontade de embarcar em mais histórias com dramas familiares, mesmo que este não seja o meu gênero favorito. Ainda não sei qual será o próximo lido da Liane Moriarty, mas posso garantir que este não será o último. Ela, realmente, conseguiu me impressionar.
Vou guardar essa história no meu coração e recomendo muito a todo mundo.