Vitória Flôres 27/05/2021
Como reagir?
Qual é o limite do ódio? Qual é o limite das ações que esse sentimento desencadeia? Até onde a motivação de fazer odiar, torna a reação ao ódio justificada?
Aí está a questão: a reação. Como reagir ao ódio, seja como alvo dele, seja como seu disseminador? Reagir com rancor ou perdão? Indiferença, talvez? Qual caminho pode diminuir esse sentimento de quem odeia ou de quem é odiado?
Essas e outras reflexões são trabalhadas na obra de Jennifer Brown, como um tapa na cara. Ela estabelece relações de ódio em uma escola, onde, nesse caso, a reação ao sentimento foi trágica. Vidas foram perdidas, enquanto outras tiveram de aprender a lidar.
Lidar com o fato de que suas ações desencadearam um sentimento tão extremo em alguém, que esse alguém viu como única saída uma arma. Lidar com o fato de que amigos foram perdidos ou se perderam. Lidar com a culpa e com a necessidade de seguir em frente. Lidar com o medo do julgamento ou com a indiferença a ele. Lidar com a compreensão de que a pessoa que amava tirou vidas, tirou a própria vida. Lidar com a necessidade de ter coragem para se conhecer, para se reencontrar, para confiar em outra pessoa, mas, acima de tudo, confiar em si.
Um história, que deixa algumas lacunas na trama, mas que gera um misto de emoções em todo o restante.
A trajetória da Val tentando superar esse trauma, de algum modo, tentando compreender Nick, o que ela não viu, como as pessoas a veem e como gostaria que a vissem, o que ela é e o que gostaria de ser, como gostaria de se relacionar com os demais, como a arte a ajudou a se entender e a entender o mundo; essa trajetória me cativou, pois, ao fim, mais do que perdoar quem a fez alvo de ódio, mais do que perdoar Nick por reagir de forma drástica ao ódio, mais do que ser perdoada pelos outros, ela buscava perdoar a si mesma, se encontrar, se entender. O ponto forte dessa obra é o percurso que Val percorre e que ainda percorrerá para o autoconhecimento. Foi a sua reação ao ódio: olhar para si.