Dois irmãos

Dois irmãos Milton Hatoum




Resenhas - Dois Irmãos


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Silvia_Hall 14/02/2017

Quando você termina de ler um livro em apenas um dia, das duas uma: ou ele é curto ou muito bom. No caso de Dois Irmãos, ele é os dois. Que livro incrível! Super recomendo.
Julia.Martins 14/02/2017minha estante
Vc precisa ver a graphic novel desse livro. É a coisa mais linda.


Silvia_Hall 14/02/2017minha estante
agora eu quero ver até a série que globo fez kkkk


Julia.Martins 14/02/2017minha estante
Kkkkkkk




murieel 25/11/2020

?as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, acenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. e o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras?.
guto 26/11/2020minha estante
Meu trecho preferido do livro!


murieel 26/11/2020minha estante
O meu tbm!!


guto 26/11/2020minha estante




Carolina.Gomes 20/12/2023

Surpreendente!
Um daqueles livros que eu nem pensava em ler e fui arrebatada desde o primeiro capítulo.

Hatoum usa uma narrativa não linear, mas que não confunde o leitor.

A escrita do autor é muito boa, os personagens são extremamente bem delineados e complexos.

As relações familiares me remeteram à leitura de Crônica da casa Assassinada e Lavoura Arcaica.

A partir da narrativa de um narrador que sem ser membro da família é parte integrante dela fui acompanhando atônita a disputa entre os irmãos, a predileção da mãe por um dos gêmeos, uma possessividade doentia que castra, poda e fomenta a desavença.

Os acontecimentos vão num crescente como um efeito dominó até não sobrar uma única peça de pé.

São muitas nuances abordadas aqui, com muito cuidado e sensibilidade.

Gostei especialmente do narrador e de como o autor desvenda os mistérios da trama.

Recomendo!



,
Gudegois 20/12/2023minha estante
Acho esse livro sensacional!!


mariamanuella.brittogedeon 21/12/2023minha estante
Eu também adorei Aninha. Acabei o livro muito emocionada.


Fabio 21/12/2023minha estante
Adorei a resenha, Carol!?




Jeane 04/12/2008

O que achei interessante no livro
Só descobri o nome do filho da empregada praticamente no final do livro. É uma leitura tão envolvente que esse “detalhe” tinha passado despercebido. Além disso, o livro não possui uma ordem cronológica, as lembranças vêm e vão, como em uma conversa informal, uma estória puxando a outra. Considero que o relacionamento incestuoso foi tratado de forma natural e leve, sem a intenção de chocar ou causar repulsa ao leitor.
Luiz 21/02/2014minha estante
Isso de nos tocarmos de que o narrador não tem um nome só na parte final do livro faz com que a gente se sinta um pouco na pele dele na busca pela própria identidade. Adorei e percebi bem esse detalhe depois de ter lido sua sua resenha :)


Ferreira.Souza 14/10/2020minha estante
medio


joanorbit 20/12/2023minha estante
Eu pensei que estava perdido, porque eu toda hora voltava a um capítulo? rs




Thiago 10/02/2015

Romance magnífico de Milton Hatoum narra a história de uma família de imigrantes libaneses e particularmente as do gêmeos Omar e Yaqub e o ódio que um nutria pelo outro, romance com trama semelhante as de "Esaú e Jacó" do Machado de Assis, "lavoura arcaica" do Raduan Nassar, e que deixa no final a dúvida de quem seria o pai do narrador: Omar, Yaqub ou o pai dos gêmeos.
Nanci 10/02/2015minha estante
Adoro esse livro!


Thiago 18/11/2015minha estante
Também gosto muito Nanci.




Bruno 07/10/2009

bonito, mas falta algo
Engraçado, apesar de eu não ter muitas ressalvas a fazer a este livro - a história é interessante, a narrativa é bem construída, os personagens são relativamente densos - fiquei com a sensação de q faltou algo. Me pareceu algo "bem feitinho", mas nada além disso. Talvez tenha sido eu q não consegui me envolver profundamente com a história, mas não consigo dizer q fiquei saciado com a leitura. A impressão q dá é q algo poderia ter sido mais bem desenvolvido pra q fosse mais tocante... realmente não sei o q houve, mas o fato é q acho um exagero o romance ter sido eleito o melhor dos últimos 15 anos por críticos literários.
MindFields 27/01/2014minha estante
Exato, o alarde quanto à obra é um tanto exagerado.


Romulo 23/10/2014minha estante
O maior defeito deste livro na minha opinião é a ausência de diálogos. Quando existem, são muito pobres. Em diversos momentos me senti entediado com as descrições de encontros e conversas.
Porém, no geral, gostei da trama, apesar da ordem cronológica bagunçada, foi uma história boa, embora mal contada em certos pontos.




Vinícius 11/08/2013

Certamente um dos melhores livros da literatura nacional contemporânea e talvez de todos os tempos. Da narrativa aos personagens, passando pela as ambientações e descrições do autor, este romance prende do começo ao fim. Mais do que a história de ódio entre dois irmãos gêmeos, é a história de como tudo vai ruindo aos poucos com o tempo. Excelente!
Dani 12/08/2013minha estante
Quero ler! Mas será que supera a história de Paola Bracho e Paulina Martins? :p


Dani 17/02/2014minha estante
hahaha bati o pé que não tinha comentado esta resenha ôoo memória :P




Taisa 03/01/2017

Por que somos o que somos? Como nossa individualidade é construída? Sem dúvida infinitas variáveis vão compor a nossa singularidade, o que nos difere do outro é as escolhas que fazemos. E a quem devemos culpar pelas escolhas? Os pais? Suas bagagens e criação? Talvez a culpa seja da química, uma pessoa faminta faria a mesma escolha quando alimentada? E apaixonada? E desesperada? Essa é a grande maravilha do ser humano, somos imprevisíveis, quando os dados são lançados tudo é possível.

"Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras..."

Milton Hatoum vai colocar uma lupa em cima desta e tantas outras questões. A ideia de gêmeos nos remete a igualdade, teoricamente é a mesma pessoa em dois indivíduos distintos, e no caso desses "dois irmãos" bota distinção nisso.

Há normalmente um ar competitivo natural entre irmãos, mas aqui isso é elevado a um outro nível. O DNA compartilhado não é suficiente para fazê-los se entenderem e como na vida real foi difícil distinguir exatamente onde foi que tudo começou a dar errado.

A narrativa é feita de modo não linear, a todo momento uma nova verdade é revelada e vivemos sempre no limite, a tensão dessa família desestruturada é tão palpável que mesmo já sabendo como vai terminar (uma vez que a primeira cena é a final) fica difícil se desprender emocionalmente e não querer saber como eles chegaram aquele ponto.

"´Louca para ser livre'. Palavras mortas. Ninguém se liberta só com palavras"

Omar ( O Caçula) é o imprevisível, impetuoso e bon vivant , mas era o silencio de Yaqub que me deixava inquieta. Enquanto o primeiro deixava claro suas loucuras o segundo era uma incógnita, durante toda a leitura ficava questionando todas as suas ações, eram verdadeiras? Qual dos dois era o vilão? Existe um vilão?

Ninguém é totalmente bom nem totalmente mau e apesar de obter a maioria das respostas que eu queria muita coisa ficou no ar para reflexões. Fica claro o quanto a família pode corromper um ao outro, pais tentam justificar ações injustificáveis de seus filhos, o limite entre proteção e a lição é muito tênue e dolorosa, cada uma vai cobrar seu preço.

Por outro lado somos indivíduos, pensantes, conscientes e já sabemos distinguir o certo do errado, podemos colocar a culpa nos pais, na crianção, na química, na biologia em que quisermos, mas a escolha vai ser sempre NOSSA. E novamente o preço vai ser cobrado.

Além de todo essa drama familiar o livros possui o pano de fundo de uma cultura manauara riquíssima, somos imersos em uma Manaus linda com suas cores, pessoas e sabores em uma época triste e conturbada que era a ditadura no Brasil.

Eu amei! É um livro muito visceral que tirou muito de mim mas me deu também, foi uma troca maravilhosa. Altamente recomendado, orgulho de ser nacional ❤.

"Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos."

site: leiturasdataisa.blogspot.com.br
Sandra99 03/01/2017minha estante
Ótima Resenha .


Taisa 03/01/2017minha estante
Obrigada Sandra.
;)




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Lari 23/11/2017minha estante
Não sabia que existia HQ desse livro. Bom saber?


Mauricio (Vespeiro) 24/11/2017minha estante
A HQ é um capricho! Se já leu o livro, invista na HQ que vai gostar!




Tamires 13/01/2017

Dois Irmãos, de Milton Hatoum
Milton Hatoum é um escritor brasileiro, nascido em Manaus-AM em 1952, descendente de libaneses e considerado um dos maiores escritores brasileiros em atividade. Seus livros foram bastante premiados, com destaque para o romance Dois Irmãos, vencedor do prêmio Jabuti no ano de 2001 e traduzido para oito idiomas. Este romance foi adaptado em série pela TV Globo, sendo transmitida atualmente.

Dois Irmãos, conta a história dos gêmeos idênticos Yaqub e Omar, este último o Caçula. Os dois possuem personalidades bem diferentes e viverão em conflito por toda a vida, muito em razão da preferência que a mãe, Zana, tem pelo Caçula, nascido quase morto devido a complicações no parto.

A narrativa é feita por Nael, filho da empregada Domingas e de um dos gêmeos, e não é nada linear. O livro foi concebido como uma espécie de relato de memórias do personagem narrador, desta forma, à medida que ele lembra ou narra certos eventos, muitas vezes nos conta o que aconteceu no passado para explicar sua narrativa. Particularmente gostei muito desse estilo de escrita, pois o autor está sempre nos surpreendendo com alguma revelação sobre os personagens. A história começa com a morte de Zana, questionando se os filhos já fizeram as pazes, e o silêncio que antecede sua morte nos mostra que não.

O primeiro capítulo mostra a volta de Yaqub para o Brasil, depois de uma temporada no Líbano. Seu retorno, conclui-se, acontece no ano de 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, pela movimentação no porto do Rio de Janeiro, “apinhado de parentes de pracinhas e oficiais que regressavam da Itália”. Posteriormente vemos o episódio que é o estopim para a viagem do gêmeo mais velho, numa tentativa de evitar um conflito maior entre os irmãos: ambos estavam apaixonados pela mesma moça, Livia, e Omar, por ciúme, dá uma garrafada no irmão, cortando-lhe a face e deixando uma cicatriz no local. Em um primeiro momento, Halim, pai dos Gêmeos, tem a ideia de enviar os dois para o Líbano, mas Zana convence-o a enviar apenas Yaqub, pois não conseguiria separar-se de Omar.

“Aconteceu um ano antes da Segunda Guerra, quando os gêmeos completaram treze anos de idade. Halim queria mandar os dois para o sul do Líbano. Zana relutou, e conseguiu persuadir o marido a mandar apenas Yaqub. Durante anos Omar foi tratado como filho único, único menino.”

“O que mais preocupava Halim era a separação dos gêmeos, ‘porque nunca se sabe como vão reagir depois…’ Ele nunca deixou de pensar no reencontro dos filhos, no convívio após a longa separação.”

Zana tinha três filhos. Além de Yaqub e Omar, havia também Rânia. Mas Omar era o rei absoluto em seu coração. O amor dela por este filho rompia barreiras, beirava o incesto. Mimava-o e sempre o protegia como se ainda fosse aquele bebê acometido por uma pneumonia logo ao nascer. Mesmo ficando separada de Yaqub, não chegou nem perto de tratá-lo com o mesmo carinho que dispensava a Omar.

“O rosto de Zana se iluminou ao ouvir um assobio prolongado – uma senha, o sinal da chegada do outro filho. Era quase meia-noite quando o Caçula entrou na sala. Vestia calça branca de linho e camisa azul, manchada de suor no peito e nas axilas. Omar se dirigiu à mãe, abriu os braços para ela, como se fosse ele o filho ausente, e ela o recebeu com uma efusão que parecia contrariar a homenagem a Yaqub. Ficaram juntos, os braços dela enroscados no pescoço do Caçula, ambos entregues a uma cumplicidade que provocou ciúme em Yaqub e inquietação em Halim.”

Ela sempre achava uma maneira de justificar algum ato de Omar, colocando-o como um pobre indefeso, desprovido de capacidade para cuidar de si próprio. Yaqub apenas teve o apoio do pai e da empregada Domingas durante o tempo que viveu em Manaus.

“Não queria morrer vendo os gêmeos se odiarem como dois inimigos. Não era mãe de Caim e Abel. (…) Então que Yaqub refletisse, ele que era instruído, cheio de sabedoria. Ele que tinha realizado grandes feitos na vida. Que a perdoasse por tê-lo deixado viajar sozinho para o Líbano. Ela não deixou Omar ir embora, pensava que longe dela ele morreria.”

O centro da história, obviamente, são os conflitos entre os irmãos, mas há muito mais em Dois Irmãos, que também comprovam a qualidade desta história e do autor. Como exemplo, o cenário manauara que foi lindamente bem descrito; também a história de Domingas, a índia que foi adotada para servir como ajudante de Zana, mostrando a realidade de muitos indígenas que foram retirados de suas aldeias, tendo sua liberdade e cultura arrancados de si, escravizados e, no caso das mulheres, violentadas; vemos ainda o saudosismo dos imigrantes libaneses que vieram fazer a vida em uma terra tão distante e diferente como o Brasil; uma rápida menção de como era a vida no norte do país nos tempos da ditadura militar; e a mistura, a sedução e a falta de limites com os quais estamos acostumados nas relações familiares. Tudo isso o leitor verá em Dois Irmãos. É um orgulho ter um autor como Milton Hatoum em terras brasileiras e ainda em atividade. Eu e, acredito, os leitores brasileiros em geral, precisamos conhecer e prestigiar nossos autores, especialmente aqueles que estão vivos e em atividade.



“Naquela época, tentei, em vão, escrever outras linhas. Mas as palavras parecem esperar a morte e o esquecimento; permanecem soterradas, petrificadas, em estado latente, para depois, em lenta combustão, acenderem em nós o desejo de contar passagens que o tempo dissipou. E o tempo, que nos faz esquecer, também é cúmplice delas. Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras.”

site: http://www.tamiresdecarvalho.com/resenha-dois-irmaos-de-milton-hatoum/
Carolina 13/01/2017minha estante
Ótima resenha! Não sei se tenho mais nojo da Zana ou do Omar - isso a julgar pela série, pois no livro a relação de ambos deve ser muito mais exacerbada. Eu também acho que beira ao incesto, especialmente depois da reação da mãe no capítulo de ontem.


Tamires 16/01/2017minha estante
Obrigada, Carolina! Acho que comecei bem meu 2017, gostei bastante de "Dois Irmãos". Não estou acompanhando a série, infelizmente, pois no horário já estou no sétimo sono... Não sei se eles vão abordar um outro caso do livro, mas tem mais uma breve relação fora dos padrões familiares "aceitáveis" no enredo...




Nado 30/06/2021

Romance brasileiro escrito por Milton Hatoum e considerado uma das melhores obras do gênero dos últimos anos do país, a qual venceu o Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance. Ou seja, uma leitura praticamente necessária para todo amante da nossa rica literatura.
A trama central gira em torno da rivalidade dos irmãos gêmeos, Yakub e Omar, que desde muito cedo já mostram as suas diferenças. No enredo é mostrada a relação dos irmãos com os pais e uma aproximação controversa com a irmã. Todo esse drama familiar pode ter como esteio a preferência por um dos gêmeos pela mãe, que aos poucos desencadeia toda essa competição entre os dois e as suas consequências.
O filho da empregada é quem narra essa trama tentando juntar as partes do passado conturbado dessa família e assim, tentar descobrir qual dos homens dessa casa é o seu pai. O cenário da história é Manaus e todas as suas peculiaridades e belezas naturais.
Durante a leitura da obra eu senti como se tivesse acesso a uma obra dividida em dois extremos que vai de amor ao ódio, de paixão à vingança, de inocência à incesto e de Yakub a Omar. A diferença de personalidade e sentimento dos irmãos podem trazer uma grande reflexão ao leitor, sobre até onde o ódio pode nos levar e até onde a ausência do afeto familiar, assunto extremamente em alta no momento, podem trazer danos irreversíveis na vida da pessoa. Recomendo a leitura a todos que sentem a necessidade e o prazer de ler uma história bem amarrada, bem construída, e de quebra, conhecer mais um livro brasileiro que já é considerado um clássico e que tem a escrita magistral e peculiar de Milton Hatoum.
?Dois irmãos? já foi adaptado nas telas da TV Globo no ano de 2017.
Aline Michele 01/07/2021minha estante
Gostei!


Nado 01/07/2021minha estante
?




Amanda 24/03/2018

Como estragar os filhos
Muito se fala sobre criação de filhos, falta de limites, obrigações e responsabilidades, sobre a proteção exagerada e o excesso de amor, assim como a falta dele. Sobre tornar o filho o centro da família. Ainda assim muitos pais não enxergam que a criança mimada pode se tornar o adulto transgressor, violento ou eternamente dependente dos pais. Em Dois Irmãos, Milton Hatoum nos apresenta um romance de formação riquíssimo em detalhes e causos do cotidiano de uma família descendente de libaneses em Manaus e as consequências de uma criação irresponsável.

Yaqub e Omar são irmãos gêmeos idênticos, exceto pela personalidade e favores familiares. Yaqub foi enviado para o Líbano quando criança após desentendimentos com o irmão e passou cinco anos sem contato com a família. Enquanto isso, Omar brilhou como a estrela da casa. A criança levada cresceu e se tornou um jovem fanfarrão, alcoólatra, brigão e mulherengo, mimado até os ossos pela mãe Zana.

Quando Yaqub volta do Líbano mostra-se ainda mais retraído, envergonhado, sem muito trato social e, como sempre, ofuscado pelo gêmeo "mais novo", o Caçula Omar. A casa vive em prol de Omar e Zana, que domina o marido, filhos, vizinhos e a cunhantã Domingas. Zana é teimosa, tem uma personalidade intratável, autoritária, cega pelos caprichos do filho e insensível às necessidades de Yaqub, do marido Halim e da outra filha, Rânia.

Rânia, por sinal, é completamente esmagada nesse fogo cruzado entre irmãos. Uma moça sem voz, sem vontades, sem atenções. Halim, por outro lado, apaixonado por Zana até os cabelos, tudo aguenta, tudo suporta por ela. Não interfere na criação dos filhos, prefere beber e jogar seu gamão, cuidar da loja e contar histórias.

Por falar em histórias, Dois Irmãos é narrado em primeira pessoa por um narrador a princípio desconhecido, em forma de relato, e logo percebe-se que, apesar de não sabermos quem está falando conosco, trata-se de alguém próximo à família. Ele reúne os histórias contadas por Halim, por Domingas e Zana, suas próprias experiências e as impressões que os gêmeos e essa família tempestuosa deixaram nele.

Essa é a sacada de mestre de Milton Hatoum: nos deixar curiosos até o final pra saber quem é essa pessoa misteriosa que nos conta de forma tão direta e honesta sobre os acontecimentos ao longo dos anos. O interessante é que o romance acompanha não apenas o crescimento dos gêmeos, mas também do próprio narrador, que muda sutilmente sua visão sobre algumas coisas ao longo da trama, de um olhar mais inocente e doce de criança para descrições mais maldosas e cortantes de adulto que tanto viu essa família aprontar.

Domingas, a índia, merece um enorme destaque aqui, não só pela sua doçura, mas principalmente pela crítica ao trabalho escravo. Suas passagens nos fazem atentar e refletir para esse problema que sempre fez parte da sociedade brasileira. Escravidão não afeta só negros, não representa apenas chibatadas e senzala. A escravidão também está marcada a ferro na alma das várias mocinhas e mocinhos que são criados como parte da família, mas que nunca realmente o foram, treinados a obedecer e limpar, lavar, cozinhar, passar, costurar... a servir em troca de um teto e refeições. Não ter liberdade de ir e vir, não receber o próprio dinheiro, ser explorado também é trabalho escravo.

Os passeios por Manaus que Hatoum proporciona também são um ponto alto do livro. A descrição dos pratos de peixes assados, manjares e refeições manauaras são de dar água na boca e todas as andanças pela cidade, pelos rios em canoas e barcos, bares e casinhas de palafita nos fazem respirar Manaus sem nem precisarmos pagar a passagem de ida.

Mais do que um simples romance cotidiano, Dois Irmãos é sobre o quanto os pais podem e influenciam na moldagem de caráter e personalidade dos filhos, quanto dos sucessos e fracassos são responsabilidade dos genitores. Amor demais estraga, assim como uma planta encharcada de água apodrece. Amor de menos também, como fel na língua, amarga a alma.
Alê | @alexandrejjr 23/09/2023minha estante
Que texto maravilhoso, Amanda! Parabéns! Uma delícia de ler. E digo mais: foi, talvez, o ultimato pra que eu passe esse romance do Hatoum na frente de outros livros que estão no meu radar de desejo. Dúvida: lesse algum outro título dele?


Amanda 23/09/2023minha estante
Obrigada! Este livro é ótimo mesmo! Infelizmente não li mais nada do Hatoum, mas posso dizer que a escrita dele é muito cativante mesmo. Tenho certeza de que você vai gostar!




Lore Cris 26/04/2017

As estórias retratadas em Dois Irmãos são narradas por Nael, que ouviu a vida toda os segredos e desabafos daqueles que convivem com ele, assim como, observa muito tudo o que se passa ao seu redor.
A trama principal do livro gira em torno do grande conflito que existe entre os dois irmãos gêmeos Yaqub e Omar. O "caçula", como é chamado pelos pais, Omar, é aquele típico filho mimado, sem rédeas, enquanto o mais velho é completamente diferente: calado, bem sucedido, centrado.

É interessante como cada detalhe da vida de um personagem influencia no desvendar de detalhes do comportamento do outro. Como por exemplo: quem seria o pai de Nael e por que ele é tão querido por Ralim (o pai dos gêmeos).
A briga entre Omar e Yaqub toma proporções exacerbadas no decorrer do livro e eu estava digerindo a leitura, quando me veio o questionamento: o afastamento dos irmãos teria sido por causa do temperamento completamente distinto de ambos ou Zana (a mãe) teria sido a grande responsável ao escolher um "preferido" desde sempre, meio que "excluindo" o outro?!

Eu me apeguei bastante à Domingas, a índia que trabalha como empregada da família, mãe de Nael. Ela sofreu tanto, guarda tantas marcas da infância interrompida, mas se mantém sempre fiel à família que a "acolheu". Pra mim, o final do livro ficou meio vago, de início, mas depois vi que não tinha como ser diferente. Foi surpreendente a reviravolta que aconteceu entre Omar e Yaqub, mas eu queria saber mais detalhes sobre tanta coisa...
Debora.Goncalves 26/04/2017minha estante
Amei a história


Lore Cris 28/04/2017minha estante
Também, Deby




José 16/09/2017

Um dos maiores romances brasileiros
Que livro espetacular! Denso. Rude. Forte. Contundente. Lírico. Muito de Gênesis - de Esaú e Jacó (bem mais que de Caim e Abel). Muito de Pedro e Paulo (de Machado de Assis - do Esaú e Jacó dele). É ódio demais entre irmãos (Yaqub e Omar, gêmeos). É uma família desorientada no meio desse ódio infinito (libaneses no Amazonas do período que vai do começo do século passado ao final dos anos 60). É Manaus mudando no entorno disso (o Brasil que o Brasil não conhece...). É o Líbano ancestral envolvendo tudo (a referência a Biblos não pode ser acidental). É a luxúria no meio da selva (o texto é sensual em todos os capítulos; impressionante). É a pobreza no meio da farra (beber, cair, levantar, porque a vida não era fácil). É muita coisa em poucas páginas. Hatoum é o melhor escritor brasileiro vivo (disparado!). Sua Manaus lembra muito a Bahia de Jorge Amado (lembra; não é). Seus personagens são, todavia, mais complexos (leia-se: menos preto no branco; nem por isso os de Amado são menores). Livrão. Livrão. Livrão.
Lari 23/11/2017minha estante
Que olhar interessante você tem!


José 25/12/2017minha estante
Obrigado. O livro é ótimo. Uma das melhores leituras que fiz em 2017.




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Katia Rodrigues 17/06/2021minha estante
"Relato de um certo oriente" tá na minha pilha de leituras há tempos. Lembrei dele na hora, pois envolve uma saga familiar, olha aí ?


Sarah 17/06/2021minha estante
Vou conferir! Muito obrigada, Katia! :)




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