Keylla 07/01/2017Após a Rede Globo anunciar sua nova minissérie baseada num livro de autor brasileiro, fui atrás do autor para conhecer sua obra. Não havia lido algo de Milton Hatoun e essa foi minha primeira obra.
A sinopse já me chamou a atenção. Uma história sobre gêmeos. Eu sou gêmea. Sei os amores e dissabores que essa relação exige.
Os gêmeos e personagens principais são Yaqub e Omar. A relação deles é marcada por uma desavença desde a infância e essa cicatriz não está cicatrizada, tanto fisicamente quando emocionalmente, o que gera um afastamento e reclusão entre os irmãos. Halim, o pai, sempre se ocupa com os afazeres do comércio e nunca quis ter filhos. Zana, a mãe, nunca escondeu a preferência por Omar. Para ela, o fato dele ter quase morrido quando nasceu o fazia frágil e necessitava de seus cuidados para sobreviver. Essa dependência se prolongou par a a fase adulta. Domingas, a governanta, cuidava da casa e de Yaqub.
Quando crianças Yaqub e Omar eram apaixonados por Lívia, sua vizinha. Por ela tiveram uma série desavença, e Yaqub ficou com a marca física dessa lembrança. Após esse acontecimento, Halim decidiu enviar Yaqub para o Líbano. Talvéz a distância fizesse com que os filhos esquecessem a mágoa, se perdoassem e conseguissem retomar a relação de irmãos. Sozinho, com treze anos de idade, foi mandado para longe da família. E ficou por lá cinco anos, até que ele volta um garoto duro, amargo e sofrido por ter tido que aprender a viver e a trabalhar longe da família, em outro país.
De um lado um adolescente recluso e calado, com um futuro promissor. Do outro lado, o gêmeo que gostava de farra, bebida, mulheres, festa e gostava de viver o hoje. O responsável e o preguiçoso. O reservado e o extrovertido. O ressentido e o protegido.
Com uma riqueza psicológica dos personagens, a história é desenvolvida e o leitor é envolvido no enredo. Além de uma detalhada cultura manauara, que nos remete à época e nos faz viajar e conhecer a cultura regional. O narrador, que é revelado na metade do livro, se insere na trama, vai nos revelando a história e nos despertando o desejo de saber mais.
Impossível não associar à criação católica, de Caim e Abel como também em Esaú e Jacó. Vemos em Zana, a encarnação da personagem bíblica , Rebeca, mãe dos gêmeos Esaú e Jacó, que também prefere um filho ao outro, e cuja a rivalidade será praticamente eterna.
A obra é riquíssima em detalhes da cultura manauara, em descrições psicológicas e nos diálogos . Narrativa muito bem construída. Livro muito bem escrito. Um trato das relações humanas. Um livro que te leva a pensar na multiplicidade cultural do país, e que certamente é enriquecedor.