Kennia Santos | @LendoDePijamas 07/05/2017"E todo esse tempo eu a amei, assim como ela o amou. Secretamente, entre a sombra e a alma."Quando Henry Page conhece Grace Town, em apenas um olhar, ele sente que sua vida irá mudar. Não da forma filosófica do tipo que se anseia. Mas Henry sente que Grace chegou para distorcer todos os rumos remotamente planejados por ele até o momento.
Grace Town é... peculiar. Não, Grace Town é estranha. Em plena juventude veste apenas roupas masculinas, usa uma bengala como suporte para o mancar de uma perna, e é muito, muito misteriosa.
"Eu só me sentia... magnetizado por ela. Como a gravidade. Eu queria orbitá-la, estar em torno dela, da maneira que a Terra orbita o Sol." (p.61)
E é exatamente isso que atrai Henry para ela. Sua áurea de segredos, seu passado questionador. Tudo se torna um grande ponto de interrogação que Henry Page quer conhecer as entrelinhas para chegar até as respostas.
Quando eles se aproximam, tudo se torna uma bagunça de sentimentos e memórias.
"Porque eu nunca conheci ninguém que
eu quisesse na minha vida desse jeito.
Além de você.
Eu poderia abrir uma exceção pra você." (p.62)
"Grakov" e "Henrik", como se apelidaram, tem uma química incontestável. Com a ciência, com a escrita -ambos são indicados para redigir artigos de um jornal da escola- e com diversos outros aspectos que, se visto de longe, são apenas detalhes. Pequenas coisas. Mas essas pequenas coisas mostram que juntas podem fazer um bom estrago com certezas e tentativas de definição.
Mas eles nunca se encontram no mesmo nível. Um sempre está querendo dar um passo maior do que o outro está disposto. E todos sabemos que em relacionamentos, é necessário ter equilíbrio. Para que as pessoas envolvidas não tropecem no caminho ou deem saltos altos demais.
"Você não pode projetar suas fantasias nas pessoas e esperar que elas cumpram o papel. As pessoas não são recipientes vazios para você encher com seus devaneios." (p.220)
Esse livro é também sobre amizade. Henry possui dois amigos que vivem ao seu lado, para o que der e vier. Murray, um esquisitão brutamontes que apesar de tudo atrai meninas com seu jeito "good vibes" de ser. E Lola, que em pleno ensino médio saiu do armário revelando sua preferência sexual e mostrou um belo "fuck you" pra quem questionasse.
E sobre família. Henry cresceu numa família completamente estruturada. Mas não confunda estruturada com normal. Sua irmã, Sadie, é uma neurocientista de 27 anos recém-divorciada que aprontou MUITO em sua juventude, e tem um filho chamado Ryan, que por sinal é uma fofura. E seus pais, que conseguem ser preocupados no nível certo e esbanjar humor e compreensão.
"Mas o amor é científico. Quer dizer, ele é apenas uma reação química no cérebro. Às vezes essa reação dura a vida inteira, repetindo-se de novo e de novo. E às vezes, não. Às vezes ela entra em supernova e começa a desaparecer. Nós somos todos apenas corações químicos. E isso deixa o amor menos brilhante? Acho que não." (p.245)
Enquanto Grace Town? Tudo que Henry sabe é que apesar de suas teorias estranhas, seu mancar desajeitado e sua personalidade bipolar, ele gosta muito dela. E quer desmembrar cada camada secreta de sua alma.
"Então você não pode sair por aí pensando que qualquer pessoa por quem você se atrai é 'A Pessoa Certa'. As pessoas não têm almas gêmeas. Elas fazem suas almas gêmeas." (p.246)
Mas nem sempre enxergamos o que precisamos. Apenas o que queremos.
Esse livro me lembrou "O projeto Rosie", mas num segmento dramático. É geek, filosófico, engraçado, leve e fofo.
Me parece uma versão feminina de John Green que deu muito, mas muito certo.
Krystal Sutherland possui uma escrita magnética, EXPRESSIVA.
Para alguns, a história pode parecer "infantil", mas na verdade, é apenas diferente. Não possui um sentido ou razão, apenas está ali, existindo. Há quem vá julgar como sem graça, mas ao meu ver... eu não sei nem como explicar. Pode ser que daqui há uma semana eu não me lembre mais do nome dos personagens, ou dos detalhes da história. Mas no momento que eu li, no momento em que meus olhos transpassaram pelas linhas e foram absorvendo cada palavra e sentença em seu devido sentido... foi incrivelmente desconcertante. Eu me identifiquei, eu refleti, eu questionei. Foi uma mistura de tudo.
"O amor não precisa durar uma vida inteira para ser real. Você não pode medir a qualidade de um amor pela quantidade de tempo que ele dura. Tudo morre, amor inclusive. Às vezes morre com uma pessoa, às vezes morre sozinho. A maior história de amor contada na história não precisa ser sobre duas pessoas que passaram a vida inteira juntas. Pode ser sobre um amor que durou duas semanas ou dois meses ou dois anos, mas queimou com mais brilho e mais calor e mais vigor do que qualquer outro amor antes ou depois." (p.248)
Pode ser que eu tenha falado falado e falado, mas não falado nada. Mas não tem problema. Porque esse é o tipo de livro que tem o poder de fazer cada leitor sentí-lo de uma forma. Então sim, eu recomendo.
Mas não se esqueçam do que eu falei, tá? Não é uma história de amor. É uma história DO amor.
"E todo esse tempo eu a amei, assim como ela o amou. Secretamente, entre a sombra e a alma." (p.266)